Transportadoras buscam soluções para atrair jovens como motoristas profissionais
Compartilhe

O interesse pela profissão de motorista de caminhão vem diminuindo no Brasil, é o que revela os dados da última pesquisa da Confederação Nacional do Transporte e Logística (CNT), cerca de 60% dos profissionais do setor têm mais de 50 anos. A análise que as transportadoras fazem desse desafio é o desinteresse da juventude em integrar à essa profissão, ou até mesmo seguir os passos de seus familiares.

Atualmente é visível a grande variedade de empresas do segmento de transporte no modal rodoviário e as diversas visões de lideranças que compõem o mercado atual. A importância dos diferentes gêneros e idades de empresários que temos hoje agregam e muito para essa temática, analisando em diferentes ângulos, os possíveis fatores para a dificuldade relacionada à contratação de motoristas jovens para o setor.

Franco Scarabelot Gonçalves, jovem empresário, membro da Comissão de Jovens Empresários e Executivos do sul de Santa Catarina e gerente administrativo da TKE Logística, relata o porquê de as novas gerações estarem desistindo em acompanhar os passos dos pais motoristas. “Existe uma série de fatores, acredito que um dos primeiros motivos é que os filhos não têm mais experiência de viajar com os pais, por conta das normas de segurança exigidas pelos embarcadores e seguradoras.

Os pais muitas vezes procuram algo que eles veem como melhor para os filhos ou coisas que às vezes não tiveram acesso, como o estudo formal e graduação, que muitas vezes levam os jovens a procurarem profissão dentro da área de estudo, cada vez mais se afastando dos caminhões”.

Essa falta de novos profissionais de veículos pesados, vem afetando diretamente no rendimento das empresas em renovar o seu quadro de funcionários, quando os mais “antigos da casa” saem ou se aposentam.

Segundo a pesquisa CNT – Confederação Nacional do Transporte Perfil Empresarial, em 2021, cerca de 60% das empresas que participaram da entrevista contém até 49 motoristas em seu quadro de funcionários, porém, entendem que poderiam ter mais se não fossem as dificuldades na contratação.

“Enquanto existe uma crescente demanda no atendimento das indústrias, agronegócio e operações de vendas on-line, não temos um aumento de novos entrantes na profissão para compensar esse acúmulo e saída dos que se aposentam ou saem do setor. Talvez seja porque o segmento tem se tornado mais profissional e burocrático, com atendimentos a legislação de horários e procedimento de viagens mais rígidas, que levam muitos a preferirem procurar outras profissões”, complementa Franco.

Além do desinteresse dos mais jovens por deslumbrarem uma carreira promissora como motorista profissional, existem diversos outros fatores que compõem o setor que acarretam essa dificuldade na mão de obra.

Questões financeiras

Sabe-se que o Brasil, pós-pandemia, vem reestabelecendo suas economias para viabilizar investimentos altos e de formas assertivas. Porém, uma das contribuições pela falta de motoristas no mercado, abrangendo todas as idades, são os valores da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na categoria E. Segundo a plataforma Talent, o salário médio de motoristas categoria E, neste ano, é de R$ 23.739,00 anuais ou R$ 1.978,00 por mês.

Franco salienta que esse talvez seja um dos principais desafios: “Quantos jovens conseguirão tirar a CNH para viajar com uma carreta aos 21 anos e terão o apoio da família para isso? E no caso de alguém mais velho, com a própria estrutura familiar formada, como ele irá dispor dos valores e tempo necessário para fazer sua habilitação, procurar um emprego e arriscar a segurança financeira dessa família? Hoje, em muitas empresas, o motorista recebe uma renda maior que 90% dos brasileiros depois que já tem uma certa experiência na profissão, no entanto, é difícil o candidato entrar e conseguir a primeira oportunidade”, relata o executivo.

Infraestrutura e segurança

Na questão da infraestrutura, sempre foi pauta em diversas reuniões entre as lideranças do setor com o governo para que o investimento nessa área fosse mais efetivo e que ajudasse na qualidade de serviços, tanto para as transportadoras, como para os motoristas.

Apesar da importância do modal para o setor, há uma baixa oferta de rodovias pavimentadas no país, que chegam a 13,5%, segundo dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT). Ao todo, a oferta de infraestrutura de transportes no Brasil apresenta 1,563 milhão de quilômetros de rodovias.

Em relação à segurança no transporte, um levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística) divulgado no ano passado, aponta que os roubos de carga tiveram aumento de 1,7% no país em 2021. Foi a primeira alta desde 2017 e, no total, o prejuízo financeiro chega a R$ 1,27 bilhão.

Conforme a Associação, o número total de registros passou de 14.150, em 2020, para 14.400, no ano passo. A região com o maior número de ocorrências foi a Sudeste, com 82% dos casos. Em seguida aparece a região Sul com 6,82%, seguida do Nordeste 5,44%, do Centro-Oeste 3,66% e do Norte 1,42%.

Joyce Bessa, mulher, empresária e head de gestão estratégica, finanças e pessoas da TransJordano, indaga e confirma esses desafios, principalmente na visão de uma gestora em um setor culturalmente masculino: “Está mais difícil encontrar profissionais para a área, por conta da infraestrutura das rodovias brasileiras, pontos e postos de paradas para descanso sem estabilidade para receber esses profissionais, além da falta de segurança relacionada aos roubos e furtos pelas estradas”.

A executiva ainda destaca que as empresas precisam de comprometimento para, internamente, também instigar aos motoristas que continuem desfrutando da profissão: “Outro ponto importante é que todas as transportadoras precisam manter os cuidados com seus condutores e proporcionarem conforto nas viagens. Agora, empresas como a TransJordano que trabalha com segurança e movimento, trazendo treinamentos aos seus motoristas, que zelam pela qualidade de vida de cada um deles, acabam se tornando referência no setor. Realmente, temos muitas questões, mas como empresas, precisamos nos mover para apresentar uma boa qualidade de trabalho”.

Apesar das pautas que envolvem as dificuldades do setor rodoviário de cargas, o problema não se limita à ausência de mão de obra em quantidade, tendo em vista que o número de vagas para o transporte rodoviário de cargas supera o número de candidatos, mas sim a baixa procura por atualizações do setor.

Nesse sentido, José Alberto Panzan, executivo experiente no setor há mais de 30 anos, diretor da Anacirema Transportes Ltda. Transportes e presidente do Sindicato das Empresas de Transportes e Cargas de Campinas e Região (SINDICAMP) também cita que o cenário não é uma dificuldade somente do Brasil: “A falta de motoristas é um problema mundial.

Os tempos evoluíram e o mindset das novas gerações também mudou, os caminhões hoje carregam uma bagagem tecnológica muito grande e a capacitação e qualificação são essenciais para que os profissionais demonstrem esse interesse no segmento, e as empresas consigam agregá-los”.

A mudança do perfil profissional dos motoristas também é um fator determinante para que as transportadoras e as empresas do segmento consigam amenizar a dificuldade de contratação desses profissionais.

“O perfil do motorista, hoje, é diferente. Não é mais sobre saber dirigir o caminhão, é necessário a aptidão no aspecto de habilidade, mas também comportamental. Com isso, a demanda acaba atropelando a oferta”, pontua José Alberto.

Ainda assim, o executivo realiza um panorama vinculado a esse cenário e o que pode estar influenciando nessa tomada de decisão dos motoristas mais novos: “A facilidade em estudar, atualmente, e todos os aspectos tecnológicos que impactam essa geração, faz com que os jovens repensem a carreira e busquem outras opções”, completa Panzan.

Portanto, a movimentação com relação à contratação de motoristas, principalmente os mais jovens, terá sua mudança a partir do fornecimento de qualificação e, por consequência, na fomentação do interesse.

“O estímulo para os jovens motoristas e para termos essa mudança no parâmetro da idade desses profissionais somente será possível com um conjunto de ações a serem adotados, tanto por parte das empresas, quanto por parte da sociedade”, finaliza o executivo.


voltar