Governo quer incentivar economia por meio do dinheiro privado
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De acordo com o presidente do Banco Central, Campos Neto, a melhor forma de contribuir é mantendo a inflação baixa

De acordo com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, o governo está tentando estimular o crescimento com dinheiro privado e, no modelo de política econômica liberal do atual, o papel do Banco Central é contribuir para a troca da dívida pública pela dívida privada. “O crescimento agora é mais lento, mas de qualidade superior. Essa recuperação, com as reformas, vai ser mais sustentável”.

Campos Neto deu em entrevista coletiva depois da divulgação do relatório trimestral de inflação, que divulgou novas previsões do BC para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro subiu de 0,8% para 0,9% em 2019. Nos últimos dois anos o crescimento econômico se manteve em 1,1%, após retração em 2015 e 2016.

Para as projeções da inflação de 2019, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a instituição fez revisão de 3,6% para 3,3%, com base no cenário em que a taxa de juros e de câmbio seguem as expectativas do mercado financeiro, divulgadas pelo boletim semanal Focus.

Na avaliação dele, a melhor forma de contribuir para o crescimento é manter a inflação baixa. “Nossa missão é manter a credibilidade, que é o canal mais importante. O crescimento tem quantidade e qualidade. No passado foi mais impulsionado pelo dinheiro público, mas foi o que chamamos de vôo de galinha e o resultado foi a alocação ineficiente na economia e o crescimento foi interrompido”, disse.

O presidente do BC acrescentou que com as incertezas no cenário externo, há chances de imprevistos. No entanto, ele afirmou que o “cenário central é benigno” e que o risco não afetou a avaliação das três dimensões consideradas pelo Banco Central para decidir sobre política monetária: reformas, cenário externo e potencial de crescimento da economia.

Para ele, houve avanços com a reforma da Previdência, mas destacou que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) se refere às reformas econômicas, de um modo geral, o que inclui as microeconômicas. Como exemplo, ele citou a medida provisória liberdade econômica, o novo marco legal do saneamento, o choque de gás e o programa de abertura comercial que o governo tenta implementar.

“Estamos em um movimento de abrir a economia. Há várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. O programa de economia de venda de ativos tem gerado expectativas positivas. Não é papel do BC qualificar ou fazer previsões, mas acompanhar a influência dessas reformas e achamos que é importante elas continuarem”, disse. 

Tensão externa

Campos Neto também fez referência à instabilidade comercial internacional, causada, sobretudo, pelas tensões entre a China e os Estados Unidos, embora não tenho citado a guerra comercial entre os dois países.  “A tensão comercial vem mudando. Primeiro achávamos que os países aumentariam as tarifas, mas o mundo entendeu que isso significaria um crescimento mais baixo”, disse. No entanto, ele ressaltou que as empresas estão realocando as fábricas para atender as novas tarifas de comércio, o que significa crescimento mais baixo por um tempo mais prolongado

Ainda segundo o presidente do BC, há uma nova onda de ajuste de crescimento para baixo e questionamentos sobre a capacidade de os bancos centrais mundiais reverter o processo, caso se intensifique.  “Os grandes bancos fizeram uma atualização de crescimento para baixo (Banco Central Europeu, China e Estados Unidos). O mundo emergente também faz revisão para baixo e, em grande parte dos países, há cenário de corte de juros. Esse processo vem causando acúmulo de dívida”, disse.

Ele destacou que há mais de US$ 15 trilhões na economia mundial e, com juros baixos, e até negativos, há uma preocupação de que, em algum momento, possa haver uma saída desorganizada desses investimentos financeiros. “Pode haver um questionamento se vale a pena ter crédito com taxas tão baixa”, ponderou.


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