BC projeta queda de 6,4% do PIB e vê IPCA em 1,9% em 2020
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O Banco Central reiterou ainda que eventual ajuste futuro na Selic será apenas “residual”

O Banco Central manteve sua estimativa de inflação para 2020 no cenário de referência, que utiliza câmbio e juros constantes para o horizonte de projeções. Segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira, este cenário indica um IPCA de 1,9% para este ano. O porcentual é o mesmo que constou na ata e no comunicado do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom). No RTI anterior, de março, a projeção era de 3,0%.

Para 2021, o cenário de referência indica que o IPCA ficará em 3,0%, também igual à ata e ao comunicado. No RTI de março, o porcentual era de 3,6%. Já a projeção para o IPCA de 2022, pelo cenário de referência, está em 3,6%. No RTI anterior, o porcentual calculado era de 3,8%.

Nos cálculos do cenário de referência, o BC considerou uma Selic de 3,00% ao ano e um dólar a R$ 4,95.

Para 2020, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 4,0%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 2,5% a 5,5%). Para 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 (taxa de 2,25% a 5,25%). Para 2022, a meta é de 3,50%, com margem de 1,5 (taxa de 2,00 a 5,00%).

Cenário de Mercado

Na esteira da pandemia do novo coronavírus, o Banco Central alterou sua projeção de inflação para 2020 no cenário de mercado, de 2,6% para 2,4%. Para 2021, a projeção no cenário de mercado permaneceu em 3,2%. No caso de 2022, a projeção foi de 3,3% para 3,2%.

O cenário de mercado utiliza como parâmetros as previsões dos analistas, contidas no Relatório de Mercado Focus, para a taxa de câmbio e os juros no horizonte da previsão.

Cenário híbrido

O BC divulgou também, no RTI, projeções para o IPCA em dois cenários híbridos – que combinam hipóteses dos cenários de referência e de mercado. Os porcentuais projetados levam em conta impactos da pandemia do novo coronavírus na economia.

No primeiro cenário híbrido – que considera a taxa de câmbio constante em R$ 4,95 e a evolução da Selic (a taxa básica de juros) conforme as projeções do boletim Focus -, a projeção de inflação para 2020 está em 2,0%. No caso de 2021, está em 3,2%. Estes são os mesmos porcentuais publicados no comunicado e na ata do último encontro do Copom. No caso de 2022, a projeção continua em 3,5%.

No segundo cenário híbrido – que considera a taxa de câmbio do Focus e a Selic estável -, a projeção de inflação para 2020 passou de 2,6% para 2,3%. Para 2021, foi de 3,2% para 3,0% e, para 2022, passou de 3,6% para 3,3%. Os porcentuais anteriores constaram no RTI de março.

Ajuste residual nos juros

O Banco Central reiterou ainda que eventual ajuste futuro na Selic (a taxa básica de juros) será apenas “residual”. Na semana passada, o colegiado do BC reduziu a Selic pela oitava vez consecutiva, em 0,75 ponto porcentual, de 3,00% para 2,25% ao ano.

Profissionais do mercado financeiro avaliaram, na ocasião, que a mensagem do BC deixava aberta a possibilidade de novo corte da Selic no encontro marcado para 4 e 5 de agosto. Porém, a mensagem do BC seria de que a taxa básica poderia recuar 0,25 ponto porcentual – este seria o “corte residual”.

“Neste momento, o Comitê considera que a magnitude do estímulo monetário já implementado parece compatível com os impactos econômicos da pandemia da covid-19”, registrou o BC no RTI, em avaliação já publicada no comunicado e na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom). “Para as próximas reuniões, o comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual.”

O BC deixou claro, no entanto, que seguirá atento a revisões de cenário e expectativas de inflação. “O comitê reconhece que, em vista do cenário básico e do seu balanço de riscos, novas informações sobre a evolução da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos”, registrou no documento desta quinta-feira.

Previsões para o PIB

No Relatório, o BC ainda revisou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, de estabilidade, prevista em março, para a retração de 6,4%, neste ano.

“A alteração da projeção está associada, essencialmente, ao avanço e à duração da pandemia da covid-19 em território nacional, com a consequente adoção, a partir da segunda quinzena de março, de medidas de isolamento social no país. A magnitude desses dois fatores tem superado significativamente o que se esperava na data de corte do último RI”.

Segundo o BC, a projeção para o PIB anual considera que o recuo no segundo trimestre será o maior observado desde 1996, início do atual Sistema de Contas Nacionais Trimestrais. “Espera-se que tal contração seja seguida de recuperação gradual nos dois últimos trimestres do ano, repercutindo diminuição paulatina e heterogênea do distanciamento social e de seus efeitos econômicos”, disse o BC, no relatório.

Agropecuária

No âmbito da oferta, o crescimento esperado da agropecuária foi reduzido de 2,9%, no relatório de março, para 1,2%. “Essa redução reflete menores expansões nos levantamentos para a safra de grãos e, principalmente, na estimativa para o desempenho da pecuária, em razão dos impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas”, afirmou o BC.

Indústria

A previsão para a variação do setor industrial passou de queda de 0,5% para uma retração ainda maior: – 8,5%, “com perspectiva de recuo em todas as atividades em função de efeitos do surto da covid-19 maiores do que os antecipados anteriormente”.

A projeção para o desempenho da indústria de transformação passou de variação de -1,3% para -12,8%, “motivada pela maior retração na demanda final, principalmente por bens de consumo duráveis e de capital, além da redução na oferta resultante das medidas de distanciamento social”.

A variação estimada para a produção da indústria extrativa recuou de 2,4% para estabilidade, “ante expectativa de menor demanda por minério de ferro e petróleo, em cenário de maior desaceleração mundial”.

A construção deve apresentar retração de 6,7%, comparativamente à projeção de recuo de 0,5% feita em março, “repercutindo comportamento de maior cautela das famílias e dos empresários do setor, além de diminuição no ritmo de algumas obras pela necessidade de adoção de protocolos especiais para prevenir contágio pelo novo coronavírus”.

Comércio e Serviços

O BC estima ainda queda de 5,3% no setor de comércio e serviços em 2020, ante estabilidade projetada em março. O BC destaca as revisões em setores mais afetados por medidas de restrição de mobilidade: o comércio de -0,7% para -10,8%; transporte, armazenagem e correio, de -1,2% para -13,4%; e outros serviços – que engloba atividades como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas de -1,1% para -9,4%.

Consumo

O BC projeta “contração expressiva do consumo das famílias, apesar da magnitude das medidas governamentais de transferência de renda”. “Em relação ao último RI, a projeção foi revista de crescimento de 0,8% para queda de 7,4% em virtude dos impactos maiores do que os antecipados anteriormente da pandemia sobre o comportamento dos consumidores e a evolução da massa de rendimentos do trabalho, além dos efeitos decorrentes das medidas de distanciamento social e de restrições à mobilidade”, acrescentou.

Investimentos e consumo de governo

Para o BC, a “perspectiva de efeitos mais pronunciados da pandemia sobre a atividade econômica e incertezas elevadas em relação ao processo de retomada devem ocasionar postergação de decisões de investimentos”. Assim, a previsão para o desempenho anual da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mudou de -1,1% para -13,8%.

A projeção para o consumo do governo permaneceu inalterada (0,2%). “Apesar da estimativa de significativa perda de receitas, o governo deve preservar gastos essenciais em momento de crise”, disse o BC.

Exportações e importações

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2020, devem variar, nesta ordem, -8,1% e -11,1%, ante projeções respectivas de 0,9% e 0,6% apresentadas no RI anterior. “A redução na projeção para exportações resulta da expectativa de menor demanda externa, especialmente por bens manufaturados, em virtude de reavaliação da atividade econômica global.  A diminuição na estimativa para as importações reflete a redução nas projeções de crescimento da atividade doméstica, em especial da indústria de transformação e da FBCF, com o consequente decréscimo nas aquisições de insumos e de máquinas e equipamentos, bem como a perspectiva de redução do consumo das famílias”, destacou o BC.

(Com Agência Brasil e Agência Estado)


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