Banco Central sinaliza que vai continuar elevando a taxa Selic
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Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, como esperado pelo mercado. A taxa subiu de 9,25% para 10,75% ao ano, o maior patamar desde maio de 2017. Foi o oitavo aumento consecutivo na Selic. Com a alta, o Brasil passou a ter a maior taxa real de juros do mundo, segundo ranking de 40 países elaborado pela Infinity Asset Management.

Em comunicado, os diretores do BC sinalizaram que continuarão elevando a Selic, mas em intensidade menor. “O Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros. Essa sinalização reflete o estágio do ciclo de aperto, cujos efeitos cumulativos se manifestarão ao longo do horizonte relevante”, informou a nota. O texto demonstrou preocupação com a deterioração fiscal, apesar da melhora das contas públicas em 2021 e informou que os passos futuros da política monetária para assegurar a convergência da inflação para as metas “dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.

Para analistas, a redução do ritmo do aperto monetário foi a principal sinalização do Copom, mas não há consenso sobre quando o ciclo de alta terminará. As projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão em 5,38% — acima do teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5%. Analistas apostam que, na próxima reunião do Copom, em 15 e 16 de março, a Selic deverá subir mais 1 ponto percentual, para 11,75%. Esse patamar, no entanto, não deve fazer a inflação voltar para a meta e ainda ajudará a travar o crescimento da economia.

Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, o comunicado sinalizou o fim do ciclo em março, quando a Selic deverá ficar em 11,75%, podendo recuar para 10,75% no fim do ano. “Mesmo com o Banco Central preocupado com o balanço de riscos e com as expectativas de inflação de 2022 acima do teto da meta, o Copom sinalizou que mudou o foco e começou a olhar para o comportamento do IPCA de 2023”, afirmou.

Já o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, prevê mais duas altas na Selic, com o ciclo terminando em maio. “O Copom mudou o tom e vai ser menos agressivo na política monetária e, provavelmente, deverá escalonar o aumento dos juros em 1 ponto percentual, em março, e em 0,5 ponto na reunião seguinte, até a Selic chegar a 12,25%. Como há muitos riscos ao longo deste ano devido às eleições, dificilmente haverá espaço para o BC iniciar uma redução, porque a inflação continuará acima da meta”, avaliou. Ele prevê os juros nesse patamar até dezembro, quando o IPCA encerrará o ano em 5,8%. “E muitos riscos devem persistir em 2023, com o novo governo, pois a inflação continuará acima do centro da meta, de 3,25%, devendo encerrar o ano em 4%.”

Na avaliação de Marcos Ross, economista-chefe do banco chinês Haitong no Brasil, o comunicado do Copom foi vago e deixou espaço para muitas interpretações. “O destaque foi o anúncio da redução do ritmo de ajuste. No meu entendimento, isso vai deixar a porta aberta para muitas interpretações. Primeiro, porque não está claro se o BC vai desacelerar para um ritmo de alta de 1 ponto percentual ou de 0,75 ponto ou até mesmo menor. Segundo, porque não é possível prever até onde esse ciclo vai”, afirmou. Ross reforçou que “há muitos desafios na mesa”, como a inflação mais alta que o esperado e mais disseminada, e maior deterioração esperada nas contas públicas por conta da redução de impostos dos combustíveis. Ele adiantou que pretende elevar de 5,3% para 5,6%, a projeção do IPCA deste ano.

Economista-chefe da JF Gestora de Recursos, Eduardo Velho ressaltou que não será fácil para o BC conseguir trazer a inflação deste ano para dentro da meta. “Pelas nossas estimativas, mesmo se a Selic for a 12%, o IPCA encerrará 2022 acima da meta, em 6,13%, e, por isso, será necessário uma taxa de juros muito maior para o BC conseguir ancorar as previsões do mercado em um cenário com eleições internas e altas de juros nos países desenvolvidos”, disse.

O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, reforçou que, para evitar um novo constrangimento de ter que redigir carta pública explicando o descumprimento da meta pelo segundo ano seguido, “é bem razoável, devido à pandemia, que o BC proponha uma mudança na meta atual”. “O BC vai continuar subindo a Selic, mas não pode deixá-la chegar a 12%, porque estará contratando uma recessão com os juros nesse patamar”, alertou.


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