Marcelo Rodrigues: ‘Não é questão de lucro, e sim de não ter prejuízo’
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Com passagens pela diretoria financeira da NTC&Logística e coordenação do Instituto COMJOVEM de Desenvolvimento Mercadológico, o fundador da MR Express, Marcelo Rodrigues, assume agora a presidência do SETCESP para a gestão de 2025 a 2027

Você trabalha há algum tempo em entidades de classe do setor e também participou da COMJOVEM. Gostaria que fizesse um balanço da sua atuação no transporte nesses últimos anos.

Estou no setor de transporte desde 1993. Comecei no SETCESP, em 2001, fazendo cursos de aperfeiçoamento e qualificação. Em 2005, acabei entrando para a COMJOVEM [Comissão de Jovens Empresários e Executivos do Transporte]. Na época, eu era gerente da filial de uma transportadora, mas foi crescendo a vontade de empreender e naturalmente, acabei abrindo minha própria empresa. Fundei a MR Express em 2008.

Comecei a participar também de outras comissões e este networking e o convívio com os outros empresários foi o que me levou a participar de outras entidades, como a NTC&Logística. Me envolvi no Instituto COMJOVEM de Desenvolvimento Mercadológico e passei a acompanhar de perto as questões tarifárias. Quando o Francisco Pelucio se candidatou à presidência da NTC&Logística, me convidou para ser o diretor financeiro. Por lá, aprendi muito sobre gestão de entidade. Então, sou grato pelo convite que ele me fez e, que certa forma, possibilitou que estivesse hoje no SETCESP.

Qual será a marca da sua gestão no SETCESP? Em qual área pretende focar mais?

Gosto muito do contato com o transportador, da conversa, do bate-papo. Já tenho me aproximado bastante de nossos parceiros e associados. A ideia é entender e atender a demanda de cada um. Pretendo atuar fazendo a interlocução com os governos e sei que a imagem do SETCESP é muito forte no setor e perante os órgãos públicos. Quero usar essa influência para conseguir soluções em benefício do transportador.

De que forma o SETCESP pode gerar mais valor para as empresas representadas e para os associados?

O SETCESP pode ajudar muito no aprimoramento do empresário. Quem frequenta a entidade está sempre atualizado e isso gera um grande valor dentro da empresa. A entidade sempre busca informar o transportador das melhores práticas e tudo aquilo que pode impactar seu negócio. Isso dá um pouco mais de previsibilidade na tomada de decisão.

As negociações salariais são uma das principais responsabilidades da entidade. Como presidente, de que forma pretende conduzi-las este ano?

Os presidentes dos sindicatos laborais conversarão e apresentarão as suas necessidades e eu quero analisá-las com a maior atenção possível para tratar da melhor forma. É óbvio que a gente tem um grande desafio, porque a questão econômica do país está um pouco complicada. Os empresários transportadores é que determinarão os limites desta negociação. Serei o interlocutor junto ao sindicato laboral e não o mandatário, porque a demanda vem do empresário transportador. Tenho certeza de que os presidentes dos sindicatos laborais entendem isso e saberão que a gente tem limites para essa negociação. Não tenho dúvida de que chegaremos a um bom acordo.

Como manter atualizada uma entidade de quase 90 anos?

Apesar de a entidade ter quase 90 anos, o ciclo de presidência é fluido e se renova. Isso é bastante satisfatório, porque a cada presidente que assume, ainda que mantenha as mesmas bandeiras, traz a sua percepção sobre as questões e trabalha ao seu modo, trazendo inovação para o sindicato. É uma entidade antiga, tradicional, mas com visão de futuro.

O SETCESP passou por um processo de governança. Poderia destacar a importância de uma entidade ter uma estrutura organizacional profissionalizada e o que isso traz de benefício em longo prazo?

O SETCESP depois do processo de governança, se tornou quase uma empresa, embora seja um sindicato por essência. Neste processo, são as decisões tomadas no Conselho que ditam sua diretriz, obviamente seguindo sempre o estatuto. A criação desse quadro de governança foi fundamental para trazer mais transparência e clareza nas ações do SETCESP. É como uma empresa mostrando o compromisso e a ética que tem com seu público.

Quais são os grandes desafios do TRC no cenário político e econômico atual?

Temos desafios gigantescos já que a economia está instável. Observamos uma retração de modo geral, isso posso dizer com base no que ouço dos transportadores. Quando falam sobre faturamento e volume de cargas, é quase um consenso de que diminuíram. Então, temos uma preocupação de ordem econômica, que para nós é fundamental, e precisamos trazer para o empresário sempre essa visão macroeconômica, para que ele tome suas decisões baseado em informações e dados confiáveis.

Na sua opinião, como a falta de infraestrutura em rodovias impacta a eficiência do transporte?

A estrada boa faz com que consigamos desenvolver bem a nossa atividade, por outro lado, uma estrada ruim é um entrave a mais para o nosso ganho logístico. Procuramos nos preocupar com a sustentabilidade, economia e eficiência, mas quando saímos pelas estradas, uma rodovia ruim pode impedir que a gente alcance esses resultados. Você tem um enorme desgaste do veículo, do profissional motorista, sem falar nas complicações no trânsito. O prejuízo é grande e afeta tanto questões de ordem econômica quanto social.

O que acha da atual política de preços de combustíveis realizada pela Petrobras?

Acredito que os dirigentes da Petrobras estão fazendo a coisa certa, mas vejo com preocupação não acompanharem o mercado internacional. Se eles represam o preço e depois aumentam de uma única vez, isso impacta diretamente a planilha de custo do transportador. Movimentos abruptos e repentinos nos desfavorecem porque não conseguimos repassar esses reajustes imediatamente. Temos os nossos faturamentos e contas com prazos alongados para o recebimento. Um reajuste que se aplica hoje, demora 40, 50 ou até 60 dias para chegar no bolso do transportador, enquanto ele paga à vista pelo óleo diesel. Então, vejo com preocupação essa falta de previsibilidade.

Não é que o transportador queira que não haja aumentos, se ele for necessário, por fatores internacionais, deve ocorrer. E o transportador deve repassar, porque não é questão de lucro, e sim, de não ter prejuízo.

Como o transporte rodoviário pode contribuir mais para a sustentabilidade e a diminuição da emissão de gases poluentes?

Uma contribuição imediata que só depende da empresa é a otimização de veículos e rotas. O fato é que atender o cliente a qualquer custo pode significar uma baixa eficiência da operação de transporte. Diante disso, vale renegociar prazos para otimizar veículos, diminuindo a ociosidade. A otimização de rotas melhorará o fluxo do transporte e diminuirá o consumo de combustível e a queima e emissão de gases de efeito estufa, o que já é um efeito prático para a sustentabilidade.

Em outubro, sob sua gestão, o Movimento Vez e Voz completará 5 anos. Acredita que ele já deu resultados positivos para o setor? 

Se as pessoas estão sendo melhor colocadas e assistidas, isso já é um ganho enorme. O movimento está buscando atender as mulheres, que antes, não encontravam uma oportunidade no setor de transporte, e agora, estão sendo incluídas, isso é um progresso substancial. É positivo também para as transportadoras, já que as mulheres possuem características de organização e cuidado muito maior com os equipamentos e veículos.

O SETCESP tem diversas diretorias de especialidade e comissões, qual a finalidade delas, e porque incentivar o transportador a participar desses grupos?

O transporte é um setor muito diverso, cada especialidade tem um desafio e uma solução diferente. As comissões técnicas e diretorias integram os transportadores que operam no mesmo segmento ou que tem interesses em comum e, que podem interagir na busca por soluções em conjunto. Temos aqui a diretoria de mudanças, de transporte aduaneiro, de distribuição urbana, entre outras, e também comissões técnicas como a de Sustentabilidade, do Vez & Voz e a de RH. Todos os transportadores estão convidados a participarem destes grupos porque é por meio deles que recebemos as demandas específicas de cada segmento e, também, neles, que os empresários podem ampliar o networking, fazer benchmarking e parcerias de negócios.

 Qual recado gostaria de deixar para os nossos leitores?

Queremos melhorar o ambiente de negócios, mas nem sempre conseguimos fazer na velocidade esperada, então peço aos nossos associados que confiem nessa gestão, pois o que estiver ao meu alcance, farei em conjunto com a nossa diretoria. O SETCESP passa por um processo eleitoral muito transparente e quero que todos tenham segurança na esperança que depositaram no meu trabalho. Aqui é a casa do transportador e estamos abertos a ouvi-los e a atendê-los dentro daquilo que for possível. Ao associado, peço que venha participar das comissões e contribuir com suas ideias e sugestões. Você que ainda não é associado, não perca mais tempo, junte-se a nós!


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