Um homem de consenso
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Adriano Depentor assumirá a presidência do Conselho Superior e de Administração do SETCESP no próximo triênio 2022-2024.  Ele atua há mais de 35 anos na área de transportes, sendo grande parte deles na Jamef Encomendas Urgentes, onde foi diretor-presidente entre 2007 e 2017. No SETCESP foi vice-presidente entre 2007-2012 e vice-presidente extraordinário de governança entre 2016-2021, o que o fez estar envolvido na coordenação de muitas negociações coletivas com os sindicatos profissionais. Conhecido como um homem adepto ao consenso, de fala pacífica, Adriano que é mineiro de Belo Horizonte, conversou com a Revista SETCESP sobre como pretende conduzir a nova gestão.

Como foi o início da sua relação com o setor de transporte?

Eu iniciei no transporte como estagiário e acabei trilhando um caminho natural. Ingressei em uma empresa, em Minas Gerais, que se chamava SUDECAPE (Superintendência de Desenvolvimento da Capital) lá minha primeira atuação foi na área de estruturação de frota e mecânica. Fui efetivado neste cargo e depois, quando tinha mais ou menos, uns 25 anos,  fui  convidado para trabalhar na Jamef Encomendas Urgentes. Entrei para coordenar a expansão da empresa e fui para Curitiba acompanhar de perto a abertura da primeira filial no Sul do País, onde fiquei por mais de dois anos. Depois desta unidade, vieram muitas outras. Em 2007, com a profissionalização da gestão da Jamef, assumi a presidência com o desafio de continuar na rota de crescimento, o que graças a Deus deu muito certo. Em 2017, deixei a presidência.

O que te levou a começar a atuar nas entidades de representação da categoria? Nos conte um pouco de sua trajetória.

Na década de 90,  eu comecei a frequentar as reuniões no Sindicato de Curitiba com o propósito de defender o interesse do transportador. Quando vim para São Paulo passei a vir aqui no SETCESP, e me integrar às questões que permeavam o transporte e a logística por aqui. Quando o Urubatan Helou presidiu a casa, em 2004,  ele me convidou para fazer parte do Conselho Consultivo, e de lá pra cá, não parei mais. Fui vice-presidente do sindicato entre 2007 e 2012, durante a Gestão do Francisco Pelucio, e também diretor da COPERNET (Comissão Permanente de Negociações e Relações Trabalhistas), ou seja, acompanhei de perto as negociações com os sindicatos laborais na época. Atualmente, sou membro do Conselho Fiscal da FETCESP (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo) e também da FuMTran (Fundação Memória do Transporte), além de vice-presidente extraordinário de governança do SETCESP durante toda a gestão do Tayguara Helou.

Como o senhor mesmo contou, esteve próximo da administração do SETCESP nos últimos anos. Pode nos dizer o que considera ser o maior legado da gestão Tayguara Helou? O que pretende dar continuidade?

Tem bastante coisa que poderíamos incluir nesta lista. Mas na minha visão, o maior legado desta gestão é a profissionalização do SETCESP e a mudança do estatuto. Posso dizer que, utilizei da minha experiência  pessoal neste processo, e esse é um passo muito importante para uma entidade de classe, porque às vezes, o empresário que a preside não consegue  se voltar 100% do seu tempo para ela, então é fundamental que haja executivos cuidando do dia a dia. Pretendo continuar defendendo as bandeiras que a gente ergueu e que foram fortalecidas pelo presidente Tayguara, dar continuidade, e lutar por outras mais que surgirem, porque constantemente aparecem novas demandas.

O que o motivou a ser presidente do SETCESP?

Foi uma condução natural. Há tempos, venho participando bastante e quero contribuir ainda mais com a minha vivência e experiência no transporte. A intenção é trazer isso para dentro do SETCESP  e gerar bons resultados para todo o setor. Quero passar um pouco de tudo que eu aprendi e aprender um pouco mais. Sem dúvida, é mais aprender, do que ensinar.

Quais as principais propostas que serão defendidas pelo sindicato na sua gestão?

A bandeira tributária é, especialmente, a mais importante para o setor. Existem outras que são permanentes, como por exemplo, o combate ao roubo de cargas. Por mais que a gente faça um trabalho contínuo para inibir o roubo de carga, não é uma coisa que acaba, então é uma luta constante. Mas há outras que precisamos fomentar no sentido de conseguir melhorias das condições de trabalho. Especificamente, no caso da cidade de São Paulo, também levamos em conta o movimento em prol da mobilidade urbana e o combate quanto à algumas restrições de veículos de carga.

Como pretende posicionar o SETCESP para que a entidade continue agregando valor às transportadoras e para que as mesmas, se mantenham associadas e colham bons resultados desta parceria?

Aprimorando cada vez mais os serviços e agregando mais benefícios, que possam trazer facilidades para os transportadores. Mais do que representatividade, aqui também é um local de prestação de serviço e oferece ao associado certificação digital, registro na ANTT, Clube de Compras e outros benefícios que trazem vantagem financeira e que agregam, como por exemplo, a consultoria jurídica. As grandes empresas são bem estruturadas, são âncoras para o SETCESP, e determinam o ritmo do mercado, mas o SETCESP tem que, cada vez mais, se voltar para o pequeno e médio transportador para conseguirmos oferecer suporte para que eles se voltem tão somente para suas atividades, que é transportar. Aqui estes empresários que estão crescendo podem ter mais conhecimento e se capacitarem para gerir melhor os seus negócios. Foi assim que muitos passaram de caminhoneiros para pequenos empresários, e de pequenos empresários locais para sócios de companhias nacionais e até multinacionais. O SETCESP tem como ajudar estas empresas com a profissionalização para crescerem realmente, é assim que a gente melhora o setor como um todo.

O que os transportadores podem esperar da sua gestão no que se refere à aproximação com o poder público nas diversas esferas (municipal, estadual e federal)?

Para uma entidade de classe é primordial manter uma relação com o poder público, dependemos muito dessa relação para transitar, regulamentar, tributar entre outras coisas. Temos que estar próximos independentemente de partido. A representação empresarial tem que ser apartidária defendendo a bandeira do setor de transporte. Cada empresário pode ter sua preferência partidária, mas a entidade tem de ser neutra. Aliás, o verdadeiro partido do SETCESP é o transportador rodoviário de cargas.

Como a integração entre os modais de transporte pode se tornar um diferencial competitivo para o País?

Isso é uma questão de infraestrutura nacional. O país tem uma costa maravilhosa e o crescimento de outros modais, como o aquaviário, não significa tirar a oportunidade do rodoviário. Primeiro, que  nem o navio, nem o barco ou o avião conseguem entrar nos shoppings, nos mercados ou nas lojas. Precisamos sim, buscar uma estruturação através da NTC&Logística, para que se utilize esses modais de maneira organizada e produtiva. Esta integração logística diminuirá o custo Brasil com toda a certeza.

O senhor acredita que o congelamento do valor do diesel é a melhor saída para baratear o preço desse insumo? Se não, qual seria a melhor solução?

Acho que essa é uma alternativa momentânea, mas não é algo que se sustente a longo prazo. Vejo que esse congelamento seria apenas uma forma de subsídio. Na minha opinião, o que resolve definitivamente o preço do diesel é abertura de mercado para novas distribuidoras, isto quer dizer, a privatização da Petrobras. Acredito que essa tem que ser a dinâmica. Alguns dizem que se privatizar o preço aumentará, mas tinha gente que falava isso do telefone, que quando privatizasse ninguém conseguiria mais telefonar, que os preços subiriam, e olha como a telefonia se difundiu depois da privatização, quem não tem um telefone hoje em dia?! Outra coisa é que se houver congelamento do preço, como o transportador vai ter a certeza de que isso não aumentará depois de forma acumulada? A solução que temos por ora é a readequação do preço do frete e das tarifas. O mais definitivo, ao meu ver, é a quebra do monopólio da Petrobras, para que haja alternativas no mercado.

 Acompanhamos nos últimos anos vários pacotes de concessões rodoviárias, o mais recente, o da Via Dutra, arrematado novamente pelo grupo CCR. Na sua opinião, que tipo de investimentos o governo deve exigir dessas operadoras para melhorar nossa malha rodoviária?

É preciso  exigir  o cumprimento dos contratos, daquilo que foi previsto no momento do acordo, se algo não foi feito, que seja reivindicado. Se já passou dez anos de contrato, pagou a licitação, então daqui para frente tem que manter melhorias, e novas infraestruturas, como rede de internet e câmeras de segurança. Se o transportador tiver uma estrutura boa, estrada tranquila, segura, rede de apoio, e bons pontos de parada, o custo  do pedágio passa a ser menos percebido porque é algo que traz valor. É necessário é cobrar mais infraestrutura que corresponda ao valor deste custo empregado. Também   acho importante a ideia de pagamento do pedágio por trecho rodado, na Europa isso é bem comum. Acredito que é isso, exigir mais do contrato do que do custo, afinal, se a CCR concorreu de novo a essa concessão é porque ela teve um bom resultado nos anos anteriores.

O mercado de transportes já foi visto como marginalizado. Hoje não é mais assim. Qual a sua visão de futuro para o nosso setor?

Quem faz acontecer o reconhecimento é a própria categoria. Se nós mesmos valorizarmos a nossa atividade, como algo importante, seremos cada vez mais reconhecidos, e isso não vai acontecer com greves e paralisações, e sim, com profissionalismo, com o desenvolvimento do trabalho. O transporte é uma atividade infinita, não é como outras atividades que se extinguiram ou estão prestes a acabar, como a revelação de filme fotográfico, por exemplo.O transporte é permanente, tudo precisa, em algum momento, ser transportado de um lugar para outro.

Qual o recado que o senhor gostaria de deixar para os nossos leitores?

Acreditem no transporte. Tragam suas demandas para o SETCESP. Venham aqui trocar experiências, vejam o que está sendo feito, com certeza vocês serão bem recompensados. Eu acredito que nós estamos vivendo um momento de crises sucessivas de forma global, desencadeadas pela pandemia. Mas acreditem, isso está passando e nós vivemos em um país maravilhoso.  Vislumbramos 2022 como um ano de escolhas, então que a gente faça boas escolhas, e que elas não sejam feitas com o coração, e sim com a razão, porque quando fazemos escolhas com o coração quem sofre é o fígado (risos). Somos um país que merece muitas coisas boas. E para o que for preciso, contem comigo.


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