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Por Thiago Fagotti, analista de dados do IPTC
Com o progresso tecnológico e a crescente necessidade de sustentabilidade, a transição energética no Transporte Rodoviário de Cargas tornou-se mais urgente. A busca por alternativas ao diesel tradicional está mais recorrente a fim de melhorar a eficiência energética e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2024, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Ministério de Minas e Energia (MME), a energia renovável no setor de transportes chegou a 22,5% em 2023. Ainda há um longo caminho a percorrer.
Recentemente, uma opção viável tem sido o biodiesel, um biocombustível obtido de fontes renováveis como óleos vegetais. Ambientalmente, o biodiesel reduz emissões de gases de efeito estufa e poluentes, como óxidos de enxofre e material particulado, melhorando a qualidade do ar. No entanto, ele tem desvantagens que afetam as operações das empresas de transporte. O biodiesel possui menor eficiência energética que o diesel comum, resultando em maior consumo de combustível. Além disso, pode aumentar a necessidade de manutenção da frota, especialmente em altas concentrações, devido a problemas como entupimento de filtros e corrosão de componentes metálicos, elevando os custos operacionais e a depreciação dos veículos.
Embora ainda haja desafios a serem superados para a plena utilização nos caminhões, a produção de biodiesel no Brasil segue uma tendência de crescimento. Conforme mostra o Boletim Ambiental publicado pela Confederação Nacional do Transporte, essa produção tem se mantido em expansão, mesmo que de forma volátil.
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Dados coletados pela fonte primária em 24 de abril de 2024. * O B100 corresponde ao biodiesel puro, que deve atender às especificações estabelecidas pela Resolução da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP n.º 920, de 04/04/2023. ** A produção é a acumulada até o mês de março de 2024.
Outra alternativa para a transição energética é o diesel verde. Diferente do biodiesel, que é obtido por transesterificação, o diesel renovável é produzido por processos como hidrotratamento e síntese Fischer-Tropsch. Esses processos resultam em um combustível com estrutura química semelhante ao diesel mineral, permitindo seu uso direto em motores a diesel sem necessidade de modificações.
Do ponto de vista técnico, as vantagens do diesel verde são notáveis. Ele possui maior eficiência energética quando comparado ao biodiesel, proporcionando melhor desempenho e menor consumo de combustível. Além disso, seu alto índice de cetano melhora a combustão e reduz as emissões de poluentes como óxidos de nitrogênio e material particulado. Outro benefício é sua maior estabilidade e vida útil, sem os problemas de entupimento de filtros e corrosão comuns no uso de biodiesel.
No entanto, a produção do diesel verde é mais complexa e cara, exigindo tecnologias avançadas e infraestrutura específica. Esses fatores elevam o custo de produção, podendo dificultar sua competitividade em relação aos demais combustíveis.
A partir do gráfico publicado pela Confederação Nacional de Transporte (CNT), analisa-se a mudança percentual de gases poluentes em diferentes combustíveis:
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Fonte: Na et al. (2015), com adaptações da CNT. Acesso em: 18 fev. 2024. Link de acesso: sciencedirect.com/science/article/pii/S135223101500179X
O gráfico toma o diesel comum como linha de referência e explora a diferença de emissões entre ele e suas alternativas: biodiesel com éster de soja, biodiesel com éster animal e diesel verde. Observa-se uma significativa redução de poluentes quando comparamos essas três opções com o diesel comum. Além disso, o diesel verde se destaca por ser mais eficiente e ecológico.
Apesar das alternativas apresentadas, a implementação de biocombustíveis no setor de Transporte Rodoviário de Cargas enfrenta desafios econômicos e técnicos. A adaptação da infraestrutura de abastecimento e a manutenção dos veículos podem resultar em custos operacionais adicionais para as empresas de transporte. No entanto, como mostra o segundo gráfico da CNT, há um crescimento na demanda por biocombustíveis ao redor do mundo.
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Fonte: IEA (2022), com adaptações da CNT. Acesso em: 23 jan. 2024. Link de acesso: iea.org/reports/renewables-2022/transport-biofuels
Em economias avançadas, observa-se um aumento na demanda por diesel verde. Já em economias emergentes, há um grande crescimento na demanda por biodiesel e etanol. Esse cenário justifica os investimentos e aponta para um caminho claro em direção à maior sustentabilidade.
Para superar esses desafios, o governo brasileiro tem adotado uma série de políticas e iniciativas. Entre as principais ações estão incentivos fiscais, subsídios e programas de financiamento para a produção e uso de biocombustíveis.
Uma das iniciativas mais importantes é o RenovaBio, uma política nacional de biocombustíveis que visa aumentar a produção e o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira. Além disso, o Projeto de Lei 528/2020 e seus projetos derivados, como o Programa Nacional de Diesel Verde (PNDV), visam fomentar a pesquisa, produção, comercialização e uso do diesel verde no Brasil.
Por fim, acredito que, para tornar a transição energética mais eficiente, é essencial que o Brasil continue investindo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais baratas e eficientes para a produção de biocombustíveis. A colaboração entre governo, setor privado e instituições de pesquisa é fundamental para criar um ambiente propício à inovação e à sustentabilidade no setor de Transporte Rodoviário de Cargas.
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