Tempestade causa mortes e prejuízos em São Paulo
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14 de Janeiro de 2011 – 10h00 horas / Valor Econômico
Depois de chover intensamente na noite de segunda e na madrugada, a cidade de São Paulo amanheceu ontem em estado de caos. Cenas de outros verões se repetiram: casas soterradas em áreas pobres, empresas alagadas, carros debaixo d“água, lixo boiando, cidadãos no trânsito e mortes.
Enxurradas e deslizamentos de terra mataram três pessoas na capital. Outras dez vítimas fatais foram registradas na região metropolitana e em São José dos Campos (Vale do Paraíba). Seis rios transbordaram, entre eles o Tietê e o Pinheiros, e foram 125 pontos de alagamento. Pela manhã, o congestionamento na cidade ficou perto de cem quilômetros.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), atribuiu os problemas à intensidade das chuvas. Segundo ele, nos 11 primeiros dias do ano já choveu 93% da média pluviométrica dos últimos anos para o mês. A chuva que começou na noite de segunda foi responsável por 68,6 mm – cada milímetro equivale a um litro de água por metro quadrado. O volume estimado para todo o mês é 239 mm.
Antônio Carlos Zuffo, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, explica que a chuva é um fenômeno aleatório, por isso a cidade precisa estar preparada para os picos. Ele destaca que o combate às enchentes não depende só de obras, mas de um conjunto de ações que aumentem a permeabilidade do solo e diminua a vazão das águas. Como exemplo, ele cita os piscinões e soluções particulares, que retenham mais água nas casas. “É o caso de técnicas de captação da água da chuva para uso em lavagem de áreas externas e irrigação de jardins“, explica.
Renê Ivo, especialista em coleta seletiva do Centro Gaspar Garcia, diz que os investimentos em limpeza urbana são insuficientes e falta coordenação entre as secretarias municipais para lidar com os problemas da chuva. “O lixo não é o principal, mas é um problema que contribui com as enchentes. É preciso maior articulação entre as autoridades para tratar do assunto.“ Dados do orçamento da prefeitura mostram que a média de recursos destinados para limpeza urbana está estagnada em torno dos R$ 900 milhões desde 2008.
O aguaceiro trouxe transtornos para quem se deslocava para o trabalho e prejuízo a várias empresas. Uma delas foi a transportadora de encomendas RCC, que realiza 2,5 mil entregas por dia na capital paulista. O proprietário Rogério Helou relatou que não arriscou colocar os 70 veículos na rua durante toda a manhã de ontem. “Este ano o prejuízo foi um pouco menor porque a chuva veio à noite, quando a frota estava recolhida. Hoje [ontem] de manhã não rodamos, tivemos que segurar as entregas para evitar riscos aos carros e aos nossos funcionários.“ O empresário disse ainda que terá que alugar veículos para completar as entregas. “É uma demanda 50% maior que não estava prevista, não há ociosidade na nossa estrutura para suportar essa “nova“ carga. A perda é brutal para nós e também para nossos clientes, que deixam de comercializar a mercadoria que ficou parada. Cria-se um círculo vicioso“, completa Helou.
Precavido, o vice-presidente de marketing da produtora de vídeos Burti HD, Leandro Burti, gastou mais de R$ 30 mil num sistema de comporta e bombeamento de água. Localizada na zona oeste de São Paulo, nas proximidades do rio Tietê, a empresa passou por seguidos alagamentos nos últimos anos. “A avenida está abaixo do nível do rio, é impossível não inundar. Na enchente de 2009 tivemos que reformar três estúdios alagados, foi aí que decidimos fazer alguma coisa. Muitas empresas têm a Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], nós criamos a Cipa da enchente, treinamos nosso pessoal para usar o equipamento. As enchentes continuam, mas a água não entra mais“, conta Burti.
Perto dali, as chuvas trouxeram problemas para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que teve, por mais um ano, a sua área de frutas inundada. Foram perdidas 20% das melancias estocadas, o equivalente a 40 toneladas – um prejuízo de R$ 20 mil. Todos os produtos que entraram em contato com a água da enchente foram descartados. A interrupção dos serviços por sete horas, porém, foi a razão da contabilidade de um prejuízo ainda maior. Ainda na região da Ceagesp, a incorporadora Evene a construtora GBMprecisaram contratar, às pressas, um serviço de drenagem de água para minimizar o alagamento de um canteiro de obras. “Chamamos a prefeitura, mas eles não vieram“, contou um funcionário.
O aeroporto do Campo de Marte, na zona Norte da capital, não abriu para pousos e decolagens ontem. Apenas helicópteros puderam utilizar o local. As aulas da escola de aviação Aeroclube de São Paulo, instalada no local, também foram canceladas.
O movimento nos aeroportos da cidade e da Grande São Paulo também foi afetado pelas chuvas, que contribuíram para aumentar a média de atrasos e cancelamentos de voos em todo o país. O Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica) registrou quase metade de seus voos atrasados por causa do funcionamento precário. Cumbica concentrava ontem, da meia-noite às 19 horas, 81 voos com atraso superior a meia hora, ou 45,5% de 178 voos programados.

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