SETCESP fala sobre a falta de políticas de renovação de frota no jornal Diário de São Paulo
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26 de Fevereiro de 2010 – 10h00 horas / Diário de São Paulo
O presidente do SETCESP, Francisco Pelucio, concedeu entrevista ao jornal Diário de São Paulo para falar sobre a falta de políticas de renovação de frota no Brasil, fator que leva ao envelhecimento da frota circulante e à quebra de muitos veículos no trânsito da cidade.
Acompanhe a íntegra da matéria:
Número de caminhões quebrados por dia cresce e complica trânsito
Em 2009, capital registrou 2.621 caminhões quebrados por mês, contra 2.191 em 2008. Frota está mais velha
Caminhões quebrados viraram um pesadelo na vida do paulistano. Diariamente, 87 deles travam o trânsito por problema mecânicos. Segundo a CET, a média registrada em 2009 mostra que 2.621 caminhões pifaram, por mês, na capital. Na comparação com 2008, são 14 a mais por dia. Naquele ano, 2.191 veículos quebraram todo mês nas ruas.
O motivo para esse aumento não é difícil de constatar. É só olhar o estado dos caminhões. A frota brasileira é grande e velha. E a fiscalização é precária.
Aumentou também o número de tombamentos de caminhões dentro da capital. Passou de cinco por mês em 2008 para seis, em 2009. Quase todos ocorrem durante a madrugada, quando os motoristas correm mais. Resultado: congestionamentos logo cedo, pois a remoção pode demorar horas.
Por dia, ocorrem na cidade 210 mil transportes de cargas na capital. Por mês, acontecem dois acidentes envolvendo veículos carregados com carga perigosa – combustíveis e produtos químicos, que podem ser explosivos ou corrosivos, segundo a CET.
A companhia admite que, em dias recordes de lentidão, certamente há acidentes envolvendo caminhões. O caso mais marcante ocorreu no dia 9 de maio de 2008, quando uma carreta carregada de madeira tombou na Marginal Tietê, no acesso à Rodovia Presidente Dutra. A cidade travou, com 266 quilômetros de congestionamento.
O tampo gasto para se retirar um caminhão quebrado da rua é de 30 minutos
O transtorno causado por um incidente envolvendo caminhão é tão grande que, na melhor das previsões, se leva 30 minutos para removê-lo da via. No caso de acidentes mais graves, envolvendo vítimas ou tombamento de carga na pista, o tempo de ser de, no mínimo, quatro horas, mesmo que a CET, o Corpo de Bombeiros e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) atuem juntas.
De acordo com a CET, em vias expressas, cada quinze minutos de interrupção de tráfego provoca três quilômetros de lentidão. Este ano, o acidente de caminhão com carga perigosa que mais congestionou a cidade aconteceu no dia 17 de janeiro, quando um veículo pesado tombou na Avenida dos Bandeirantes, na altura do Viaduto Santo Amaro, na Zona Sul da capital. O resultado foram os danos ao trânsito – 145 quilômetros de lentidão. O Corpo de Bombeiros decidiu interditar as faixas da pista, nos dois sentidos.
Ontem, a capital registrou mais um recorde de congestionamento, às 9h30. Foram 163 quilômetros de lentidão. Às 9h, o índice era de 148 quilômetros. Às 8h30, eram 122. O recorde anterior era de segunda-feira passada, quando a cidade teve 118 quilômetros de filas, às 9h30. Segundo a CET, a chuva que atingiu a cidade na madrugada de anteontem e um acidente com um caminhão na Marginal Tietê causaram o trânsito lento.
“Manutenção é muito cara”
O DIÁRIO foi ao posto de carga e descarga na Rodovia Fernão Dias e conversou com caminhoneiros. Para eles, a falta de manutenção em caminhões cada vez mais velhos é o motivo de tanta quebradeira. “O mais comum é ver caminhão do ano de 1985 em diante. Mas existe muito caminhoneiro que tem veículo de mais de 30 anos, que está sempre quebrando. A frota brasileira é velha. E tem mais, só vamos ao mecânico quando quebra, nunca para fazer manutenção, porque os custos são muito altos”, disse do caminhoneiro de Santa Catarina, no sul do país, Edino da Silva, de 60 anos, na profissão há 40 anos.
Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a idade média da frota de caminhões de autônomos é de 23 anos. Os caminhoneiros reconhecem que, mesmo quando são obrigados a consertar seus veículos, fazem da forma mais barata possível. “somos obrigados a comprar peças paralelas. São cópias das originais, que são caras demais. Aí, duram menos, se desgastam e nos deixam na mão”, revelou o caminhoneiro Djalma Santos da Silva. Os motoristas reclamam que recebem pouco pelo frete e, por isso, economizam no conserto.
Além da falta de manutenção nos caminhões, outros dois motivos contribuem para a quebra dos veículos. “Não temos uma política de renovação de frota de transporte de carga no Brasil. Por isso, nossa frota é velha, caindo aos pedaços, e numerosa”, disse ao DIÁRIO o consultor Flamínio Fichmann. O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), Francisco Pelucio, concorda. “Os autônomos não têm condições de trocar de caminhão. Eles não têm garantias para apresentar na hora de fazer um financiamento, a não ser o próprio veículo”, explicou.

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