Queremos organizar, não proibir, afirma secretário dos Transportes de SP
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25 de Maio de 2010 – 10h00 horas / Folha de S. Paulo

Advogado, ex-promotor, Alexandre de Moraes nega que, como secretário dos Transportes de São Paulo, esteja aumentando as restrições aos veículos na cidade. Mas ele confirma que vai proibir o tráfego de motos em quatro das principais vias da cidade –23 de Maio, Radial Leste e marginais Pinheiros e Tietê. Para isso, vai construir quatro motofaixas, menos que as oito prometidas. Leia trechos da entrevista concedida na semana passada: Folha – Depois das restrições aos caminhões e aos fretados, qual vai ser a restrição deste mês de julho? Alexandre de Moraes – A cidade tinha, e ainda tem, uma série de desorganizações que acabam afetando o trânsito. Não é só na área de trânsito, mas o trânsito e transportes têm uma série de irregularidades, até ausência de uma norma que vinha atrapalhando. Caminhões fora de rodízio, caminhões que podiam entregar a qualquer hora refrigerante, papel higiênico, mercadoria, fretado que podia fazer o pinga-pinga, fretado irregular, os motoboys, falta de regulamentação, carga perigosa. Qual foi a nossa meta nisso? Todos esses obstáculos tinham de ser regulamentados. Uns, mais fácil a regulamentação. Caminhão, por exemplo, foi de fácil regulamentação. Rodízio de caminhão, mais fácil até que a zona máxima de restrição, e outros mais difíceis, como fretado. Mas tudo isso tinha de regulamentar, porque a curto prazo deu solução, deu melhoria, e a médio e longo prazo vai ser muito melhor para a cidade. Então, a zona máxima de restrição melhorou, rodízio de caminhões melhorou, fretados melhorou. Se você pegar fretado, a avenida Paulista deu 32% de melhoria. A Radial Leste chegou a dar, num dos sentidos, 42% de melhoria. Não é uma questão de proibir, todo junho proibir. É questão justamente de regulamentar para a cidade ir se encaixando, entrar nos eixos, porque numa cidade gigante como essa, com 11 milhões de habitantes, 6,2 milhões de carros, 32 mil táxis, 16 mil ônibus, ou se regulamenta ou não vai para a frente. Agora, qual é a sequência? Estamos finalizando os estudos, a contagem de número de carros, para entrar com a regulamentação de cargas perigosas e já a regulamentação dos caminhões, a gente pode dizer assim a finalização da regulamentação dos caminhões já levando em conta o reflexo do Rodoanel e das marginais. Já fizemos a contagem dos caminhões, estamos terminando a contagem dos carros horário pico. Eu pedi a contagem dos carros horário não pico, para ver se houve uma migração. Já estamos verificando, isso é verificável a olho nu, que alguns caminhões que foram para o Rodoanel estão querendo voltar para a Bandeirantes, que é mais ou menos normal aquele pensamento imediatista: você estava com a Bandeirantes lotada de caminhão, vai para o Rodoanel é muito melhor, daí todo mundo vai para o Rodoanel e você fala a Bandeirantes está livre para mim . Alguns estão voltando. Estamos mapeando isso. Folha – O que vai ter de regra nova agora neste mês é caminhão? Moraes – É caminhão e vamos continuar na questão da política de estacionamentos na cidade. Fizemos agora em Moema. Como todos, sempre precisa de alguns aperfeiçoamentos, alguns pontos de táxi que vamos acertar aqui e ali, mas é nítida a diferença de fluidez. Folha – E quais são as próximas regiões? Moraes – Agora estamos analisando as outras regiões. Assim como nós fizemos nas anteriores, a gente não anuncia antes porque a gente faz um estudo, vamos vendo com vagar a taxa de saturação e aí nós vamos vendo aos poucos. Todas essas regiões, se pegar desde o início que foi na Bela Cintra e nos Jardins indo por Itaim, Vila Olímpia, depois o centro, um pouco maior agora Moema, todos deram certo. Alguns especialistas chamam isso de restrição indireta. Não é restrição, mas impede o estacionamento, dificultando a locomoção. Eu enxergo como o inverso. Carro é para parar na rua? Não. O que aconteceu é que por muito tempo houve uma liberalização disso. Seja porque lá atrás não havia necessidade da rua para o carro andar, não tinha um número tão grande de carros, uma intensidade, então foi se liberando, pode parar, pode parar. E aí ficou um pouco cultural poder parar na rua. Se você tirasse tudo, eu proíbo de estacionar, o município proíbe de estacionar, aí seria uma restrição indireta ao tráfego de veículos. Agora, o que está sendo feito não é isso. A gente analisa e fala: nessa via, de um lado pode sair, do outro é possível manter com zona azul por causa da rotatividade. Então, é quem vai entregar alguma coisa, quem vai no comércio, quem vai pegar o filho, que vai na academia. Mas a rotatividade de duas horas pra evitar exatamente o que não pode, a pessoa chegar lá e deixar o carro o dia inteiro na rua atrapalhando o fluxo. Então, a gente não trata como uma restrição indireta no sentido de, ao invés de pedágio urbano, ninguém mais pode parar na rua. Não, porque em todos os locais continua tendo zona azul. Só que a pessoa vai ter de rodar, é uma rotatividade maior. Folha – Essa política vai para a cidade inteira? Moraes – A tendência é ir ampliando até chegar o momento que vai conjugar com as garagens, com a zona azul vertical. As três empresas já apresentaram propostas do projeto, tá em fase final de estudos pela comissão. Nós queremos até final de junho já declarar qual a vencedora, assinar o contrato para o projeto para já soltar a licitação da execução mesmo. Se a gente conseguir para o final do ano, começo do ano que vem, assinar o contrato de execução, são 18 a 20 meses. Então, até o final da gestão a gente consegue entregar as garagens. Então, vai mudar mais ainda. A ideia foi colocar pequenas garagens, 400 locais, porque também isso no mundo todo foi estudado, a pessoa que precisa andar 1 km, 800m, não vai. Tem de ser um raio de 500 m, 400 m, igual a ponto de ônibus. Isso foi estudado e quando tiver isso nós vamos retirar a zona azul que hoje tá na rua, quando tiver a garagem sai. Vai dar mais fluidez ainda. Folha – Vai aumentar o número de vagas? Moraes – Hoje temos em torno de 32 mil vagas na cidade toda. Nós vamos ter 32 mil vagas verticais e mais umas 30 mil vagas na rua mesmo. A tendência é que no centro expandido seja mais verticalizado e fora do centro expandido, onde hoje pode parar livremente, a gente situa a zona azul de um lado e do outro não pode parar. Folha – O objetivo é sempre aumentar a fluidez e diminuir a lentidão? Moraes – Essa política sim. De organização da cidade. Esses tópicos são de aumento da fluidez, mas no geral não é só aumento de fluidez. São os dois pontos, pegando o ponto da CET, é fluidez com segurança. Tanto que eu criei uma diretoria só pra isso, planejamento e segurança. E uma superin
tendência, que é outro ponto que entra nesse foco de regulamentação: motoboys. Ninguém chamava para conversar os motoboys. Os motoboys eram tratados à margem. Agora estamos em conjunto, vamos fazer uma cartilha para mostrar essas restrições na 23 de Maio da motofaixa. Vamos fazer curso junto. É melhorar fluidez? É. Mas melhorar com segurança. Não adianta nada, tira estacionamento aqui, melhora ali, e um acidente, dois, três com moto por dia. Isso para o trânsito. Morre o motoboy ou motociclista e para o trânsito. É tudo conciliado. O que está faltando, e agora a gente está avançando nisso, é a regulamentação para os motoboys. Estamos analisando um novo projeto de lei conjunto para enviar para a Câmara para acertar alguns pontos. Um deles é a moto branca pra todo mundo, igual a táxi branco, para motoboy, motofrete branco, até para ajudar na fiscalização. Uma série de medidas para regularizar, que não tinha regulamentação nenhuma, e que ajuda na segurança e na fluidez ao mesmo tempo. Folha – Vocês prometeram oito motofaixas. A primeira é a da Vergueiro. Moraes – A meta da Agenda 2012 eram oito. Nós já mandamos a correção para quatro. Por que isso? Porque motofaixa tem de ser feita com cuidado. Outro dia um jornalista me perguntou porque está demorando tanto a motofaixa se é só pintar no chão. Não é só pintar. Qual é o grande problema da motofaixa? As conversões à esquerda. Com conversão à esquerda, se você não tomar cuidado, vai morrer muito mais motociclista do que antes da motofaixa. Então, nós queremos instalar essa e mais três até o final da gestão boas motofaixas, para criar o hábito da cidade. Se a gente for pegar, e é inegável isso, a cidade é a favor das ciclofaixas e das ciclovias, mas a cidade ainda não é a favor das motofaixas. Folha – Tem alguns pontos críticos, como a 23 de Maio, Radial Leste e as marginais. Moraes – É, são os grandes pontos que nós estamos analisando. As marginais, Tietê e Pinheiros, a Radial e a 23. A 23 nós esperamos agora resolver com essa motofaixa. A marginal Tietê, num primeiro momento, que é o importante, que por ora é o possível, que assim que acabar a sinalização na via expressa não vai ser mais possível motociclista. Eles tinham, antes da reforma sete faixas, vão continuar com as sete, só que local e central. A marginal Pinheiros é a que apresenta mais dificuldade, porque ela não uma via paralela. Então, tem dificuldade de projeto nisso. E a Radial nós estamos analisando se vale a Radial ou uma via paralela. Talvez a Celso Garcia. Folha – O sr. é a favor de ampliar as restrições aos carros? Não para essa gestão, mas para quando a cidade tiver, por exemplo, 600 km de metrô? Moraes – Eu não sou a favor do pedágio urbano. Eu acho que a partir do momento que você der a possibilidade é natural que as pessoas acabem deixando de procurar o carro. Eu não sou a favor das restrições a veículos, mas também não sou a favor de benefícios a veículos. O benefício tem de ser para o transporte público. Como assim, o benefício? Se você chega com o metrô, chega com o monotrilho, aumenta a linha de metrô, não justifica, para você facilitar os ônibus andarem melhor entre os metrôs, você deixar carro estacionado na rua. Isso não é uma restrição, isso é você tirar um benefício que ao longo do tempo foi concedido. Se a gente pegar a década de 60 para cá, os grandes benefícios, desde incentivo de imposto, incentivo tributário, até questões de planejamento e operação na rua, os grandes incentivos foram para o transporte particular, para carro. O IPI, até dois ou três meses atrás, era reduzido para veículos. A gasolina estava mais barata, não sofreu aumento, o diesel sofreu aumento e o diesel é para transporte público. Então, é uma cultura nacional. A questão não é restringir veículos. Você oferecendo oportunidade de transporte público você pode tirar alguns benefícios que podem ser ser concedidos. Um deles é esse que a gente vem organizando, que é o estacionamento. Isso não é uma restrição, é um benefício que foi concedido, foi aumentando, aumentando, e agora a gente está retirando. Folha – O sr. afirma que até 2012 a cidade vai estar organizada no que são os principais problemas dela? Moraes – Vai estar bem melhor organizada. Até o final da gestão do prefeito Kassab vai estar bem melhor organizada e o que ainda precisar organizar vai estar no caminho certo, vai estar bem equacionado. Folha – O sr. nega que é o supersecretário, mas é inegável que é o secretário de mais visibilidade. Moraes – As maiores secretaria são Educação e Saúde. Transportes é uma grande secretaria também, Serviços, mas orçamentariamente Saúde e Educação. Folha – O sr. gerencia os quatro maiores contratos da prefeitura. Moraes – Os quatro maiores contratos e, na verdade, os problemas do dia a dia. O trânsito do dia a dia, o transporte. Então, quebra o ônibus, dá um grande acidente, a sujeira, a iluminação, os problemas do dia a dia. Obviamente, por gerenciar os problemas do dia a dia acaba a secretaria aparecendo mais. Mas não significa que há uma diferença, um secretário é mais do que o outro. Alguns secretários são demandados mais. Folha – O sr. tem interesse de ser candidato, disputar uma eleição? Moraes – De maneira alguma. Folha – Não seria natural? Moraes – Seria natural, como também é natural, e aí eu tenho a vida pregressa para comprovar, seria natural que quando eu exerci a secretaria de Estado lá atrás, há quase quatro anos, diziam que seria natural que eu saísse candidato a deputado. Eu falei que, com todo respeito, acho que é importante, não era o meu perfil, então não sai. Este ano a mesma coisa. Com essa exposição que acaba tendo em virtude dos problemas, diziam que eu ia ser candidato a deputado. Passou o prazo de desincompatibilização e eu não sai. É a mesma coisa depois. Eu tenho, e não cometo aqui nenhuma descortesia em falar, porque o prefeito falou isso no ano da eleição, eu tinha o compromisso de auxiliar, enquanto ele achasse que eu podia auxiliar, até o final da primeira gestão, que era o final de 2008. Daí, nós ganhamos a eleição, é uma gestão que vem dando certo, ele me convidou para continuar, eu continuo se ele quiser, porque o cargo é dele, até o final da gestão. E depois eu volto, porque eu considero que eu tenho vocação, é a área de onde eu vim e onde eu quero terminar, que é a área jurídica. Folha – O que todo mundo fala da exposição é que na gestão não existe um candidato natural, não existe um sucessor natural. Moraes – Os dois grandes partidos, Democratas e PSDB, com certeza terão uma série de candidatos. Nós
vamos estar com o prefeito, com a prefeitura, se Deus quiser com o governo do Estado e com a presidência. Isso vai mostrar que o povo confia na coligação Democratas e PSDB. É natural que o prefeito indique um bom candidato e ele vai achar um bom candidato, tenho certeza. (EVANDRO SPINELLI DE SÃO PAULO – Folha de São Paulo)


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