Petrobras registrou recorde de 261 casos de furto de combustível em dutos em 2018
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Roubos foram registrados no Rio de Janeiro e em São Paulo; em 2016, houve apenas um caso.

Nos últimos cinco anos, a Petrobras vem enfrentando uma investigação épica de corrupção, uma recessão incapacitante e preços instáveis ​​do petróleo. Agora, a estatal se vê diante de outro desafio: ladrões estão roubando milhões de dólares em combustível para vender em um próspero mercado negro.

Os casos de furto de combustíveis a partir de dutos da Petrobras bateram recorde no ano passado, com 261 incidentes registrados nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo – em 2016, foi apenas um caso. Os dados são de relatórios da empresa de agosto e de declarações feitas à Reuters por representantes da companhia.

A maioria desses furtos, segundo a polícia, é obra de sofisticados grupos criminosos, alguns com caminhões próprios, empresas de distribuição e até postos de gasolina no varejo.

“São criaturas criativas”, disse Julio da Silva Filho, chefe de uma unidade policial do Rio que investiga o roubo de petróleo.

O crime custa à subsidiária de distribuição da Petrobras, a Transpetro, mais de R$ 150 milhões por ano, afirmou o presidente-executivo da Petrobras, Roberto Castello Branco, em um evento em junho.

As supostas perdas são pequenas em comparação com as do México, onde gangues de criminosos se infiltraram nos negócios de petróleo em grande medida. O roubo de combustível custa à Pemex estatal mais de US$ 3 bilhões anualmente, segundo dados da empresa.

Mas eliminar os problemas do Brasil cedo, disse Silva, será crucial para impedir que os criminosos se entrincheirem na indústria do petróleo. “Estamos trabalhando exatamente para impedir que o Brasil se transforme no México”, disse ele.

A Transpetro criou um programa para reunir informações sobre grupos criminosos e está gastando R$ 100 milhões por ano para financiá-lo, de acordo com uma fonte de alto escalão da empresa, que pediu anonimato para evitar retaliação por parte dos grupos do crime organizado.

Agora, cerca de 50 funcionários estão estudando a questão, incluindo o rastreamento dos padrões e métodos dos ladrões de petróleo, e compartilhando essas descobertas com a polícia, disse a fonte. A empresa, que não respondeu a um pedido de comentário, também criou uma linha direta para o público denunciar roubo de combustível.

Alguns investidores estrangeiros também estão reforçando a segurança. Eles incluem a TAG, uma unidade de oleodutos que a francesa Engie SA comprou da Petrobras por US$ 8,6 bilhões em abril.

A empresa disse à Reuters em comunicado que está trabalhando com a Transpetro, cujos oleodutos costumam passar ao lado dos tubos da TAG, para aumentar as patrulhas a pé e reforçar as barreiras físicas, entre outras medidas.

“Esse fenômeno está se tornando muito organizado”, disse Emmanuel Delfosse, diretor operacional da TAG. “É difícil ir atrás dessas pessoas.”

Crimes de oportunidade

O combustível é uma mercadoria cara no Brasil, onde o preço da gasolina chega a ser vendido a mais de R$ 5 por litro.

As gangues tradicionalmente focadas no tráfico de drogas se ramificaram em roubo de combustível nos últimos anos, segundo as autoridades. O mesmo acontece com as milícias, dizem a polícia, que surgiram para combater as quadrilhas de traficantes, mas que se transformaram em temíveis aparatos criminais.

Esses grupos são altamente organizados, com divisões separadas dedicadas a explorar ilegalmente os oleodutos, transportando o combustível roubado e vigiando a polícia, disse Simone Sibilio, promotora-chefe da unidade de criminalidade organizada do estado do Rio de Janeiro.

Ela disse que os criminosos cercam o produto através de empresas como empresas de asfalto, cujas operações exigem grandes quantidades de derivados de petróleo. Eles também vendem para proprietários de postos de gasolina, prejudicando os concorrentes legais no preço, disseram as autoridades.

Os bandidos também se concentraram nas vendas no varejo. A polícia diz que criminosos entraram no posto de gasolina anos atrás como forma de lavar dinheiro de outras operações ilícitas. Agora, abastecer essas bombas com combustível roubado se tornou um novo e lucrativo centro de lucro.

O Primeiro Comando da Capital, uma das gangues criminosas mais famosas do Brasil, controla cerca de 300 postos de gasolina no estado de São Paulo, segundo Paulo Miranda, chefe do grupo industrial Fecombustíveis. Isso representa cerca de 3% dos aproximadamente 9.000 postos de gasolina do estado.

“É uma máfia do combustível”, disse Miranda.

Combate

O presidente da Petrobras, Castello Branco, pediu sentenças mais duras para os invasores de dutos para reduzir o roubo de combustível. A empresa também está perto de assinar acordos formais com a Pemex do México e a Ecopetrol da Colômbia para facilitar o compartilhamento de estratégias anti-roubo, disse a fonte da Transpetro.

Nenhuma dessas empresas respondeu a pedidos de comentários feitos pela Reuters.

Enquanto isso, a vigilância aumentada parece estar valendo a pena. Até o final de julho, os roubos de combustível no Brasil caíram 33% em comparação com o mesmo período de 2018, mostram os registros de valores mobiliários da Petrobras, embora continuem altos pelos padrões históricos.

Lucas Tristão, secretário de Desenvolvimento do Estado do Rio, disse que as autoridades fecharam 10 postos de gasolina no Rio por vários crimes em 2019.

Em julho, a polícia desmantelou uma rede de extorsão em uma refinaria da Petrobras no nordeste do Rio, onde Tristão alega que uma milícia local estava exigindo propinas de empreiteiros no complexo.

Gabriel Poiava, um dos investigadores do caso, disse que é um exemplo de criminosos que olham para cima e para baixo na cadeia de suprimentos de petróleo do Brasil para ver onde eles poderiam pegar um pedaço da riqueza.

“Se eles achassem que alguma atividade poderia ser extorquida lá, eles tentariam”, disse ele.


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