‘Nada que existe no país chegou até o seu destino sem passar por um caminhão’
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Rui César Alves presidiu o SETCESP entre os anos de 2001 a 2003, e deixou em sua gestão a marca da valorização da cultura e dos meios de informação. Em entrevista, falou sobre política, economia e relembrou algumas memórias durante a época em que esteve à frente do sindicato

Como foi o caminho até a presidência do SETCESP?

Eu era um empresário de transporte em crescimento e por isso, frequentava o SETCESP em busca de conhecimento. O SETCESP ainda era na Rua 24 de Maio, no centro de São Paulo. Na década de 80, o Adalberto Panzan me convidou para, com outros empresários, fazer uma viagem técnica para os Estados Unidos. Algum tempo depois ele assumiu a presidência do SETCESP e me chamou para fazer parte da sua chapa. Assim comecei minha vida na entidade, até que, muitos anos depois, indicado e apoiado pelo Romeu Natal Panzan, tornei-me presidente.

Fale um pouco dos desafios, em ser um empresário no Brasil?

É o primeiro que chega na empresa e o último que sai, sem ter férias, 13º salário, hora extra, FGTS, e é o responsável por tudo. Ser empresário no Brasil, para mim é ser um herói, você precisa ser operador de milagres. A maioria dos desafios existentes estão associados aos governos, à péssima visão de desenvolvimento de economia de mercado e a má gestão pública que assola o país.

Quais foram suas principais conquistas durante o tempo que foi presidente do SETCESP?

Importante frisar, que tudo o que foi feito naquela época em São Paulo era modelo para o resto do país. Hoje os Sindicatos e Federações de todo país se aparelharam bem, mas na época aguardavam bastante os acontecimentos de São Paulo.

Eu poderia rapidamente citar algumas conquistas como o intensivo programa que fizemos no combate ao roubo de cargas – realizamos o Fórum Paulista do Transporte, versando sobre roubo de cargas, onde conseguimos trazer com a ajuda do Coronel Paulo Roberto de Souza, secretários de segurança de treze estados do Brasil – , além disso, a luta contra o preço dos pedágios, inúmeras tratativas para resolver o problema do abastecimento na cidade de São Paulo, exclusão dos caminhões do rodízio,  a criação da Revista SETCESP, a reformulação do site da entidade, a  criação do GAP (Grupo de Apoio Político), com diversas ações juntos à prefeitura e ao governo do Estado. Sem esquecer de mencionar a criação e inauguração da Biblioteca Setorial em parceria com a NTC&Logística, a inauguração do Núcleo de Desenvolvimento e Treinamentos Adalberto Panzan, estas são apenas algumas das coisas que me lembro.

As conquistas como pode avaliar foram muitas, mas se fosse para destacar uma eu diria a criação da CCP – Comissão de Conciliação Prévia junto a todos os Sindicatos profissionais, o que evitou com certeza, milhares de ações trabalhistas, por terem resultado em acordos.

Tem alguma recordação especial da sua gestão que gostaria de compartilhar?

As viagens técnicas que fizemos para vários países em busca de conhecimento, muitos dos quais pudemos aplicar aqui no Brasil. Essas viagens técnicas me trazem recordações maravilhosas e aprendemos muito trocando ideias com Sindicatos de outros países.

Gostaria de ter feito algo na época, que não conseguiu realizar?

Sempre tem mais alguma coisa que gostaria de termos feito e não fizemos, mas com certeza foram fatos que independeram de nossa vontade. Eu gostaria, por exemplo, de ter conseguido a aprovação do disciplinamento do setor ainda dentro da minha gestão, a redução da carga de impostos (nós inclusive criamos uma coluna ‘Brasil, país dos Impostos’, toda terça-feira no SETCESP Online, em consonância com a Rádio Jovem Pan), eu gostaria de ter ajudado mais na melhoria de nossos fretes, mas sei que muita coisa é apenas o sonho de um empresário otimista que sempre acreditou no seu país.

Por que os empresários devem se unir em torno de uma entidade de classe?

Sozinhos não somos nada. Unidos somos imbatíveis. As empresas vencedoras, as que crescem no setor, são todas ligadas à sua entidade de classe.

Uma trajetória de 85 anos não se escreve do dia para noite. Em sua opinião, o que mais chama atenção na história do SETCESP?

Quase todas as pessoas que estão lendo esta revista sequer eram nascidas quando o SETCESP foi criado. Eu louvo e cumprimento todos os ex-presidentes e diretores que batalharam muito para que o SETCESP pudesse se transformar, como é hoje, no maior e mais importante Sindicato Patronal do setor de transporte de carga do Brasil, e quiçá do mundo.

O senhor foi quem implementou a criação da Revista SETCESP e também dos informativos diários, que hoje se tornou a nossa newsletter –  SETCESP Online. Tendo isso em vista, qual a importância da comunicação entre sindicato e associado?

Na época, nossa revista foi criada com apenas quatro páginas porque não tínhamos verba, mas sempre com conteúdo de grande interesse para o transportador, devagarzinho foi crescendo. Hoje, tenho o maior orgulho de tê-la criado, vendo que se transformou na melhor revista do transporte de carga do país, feita em papel especial e com excelente impressão. E, quanto aos informativos diários eu entendia que quanto mais conhecimento as pessoas do nosso setor tivessem, mais e melhor nosso setor cresceria. Então passei a disponibilizar o informativo também para os fornecedores e para não associados. Hoje eu vejo o quanto eu estava certo.

Em meio a pandemia, o transporte rodoviário foi considerado atividade essencial e por isso, não parou. Acha que, de alguma forma, essa situação fez melhorar o olhar que a sociedade tem sobre transporte rodoviário de cargas?

Quando estive nos Estados Unidos com o Adalberto Panzan, eles tinham uma campanha: ‘Sem caminhão a América para’.  Nós trouxemos isso para o Brasil, mas infelizmente foi pouco explorado. Vocês já devem ter ouvido a frase: sem caminhão o Brasil para. Isso nós trouxemos da nossa viagem aos Estados Unidos. E nada mais verdadeiro que isso. Se você olhar ao seu redor, tudo que sua vista alcançar, passou pela carroceria de um caminhão. Nada que existe no país chegou até o seu destino sem passar por um caminhão. O setor de transporte não tinha outra coisa a fazer a não ser continuar com sua atividade, senão o país realmente pararia mesmo. Muita gente percebeu isso. Parabéns às valorosas pessoas que fazem o transporte rodoviário de carga girar neste país.

Na sua opinião, que importância tem a realização das reformas administrativa e tributária para o avanço da economia no País?

O País gasta com folha de pagamentos de servidores públicos o triplo do que gasta com saúde e o dobro do que gasta com educação. Isso só falando dos servidores públicos.

Quando o volume de recursos gastos com salários altos, bonificações e pensões é enxugado, o montante disponível para custos não obrigatórios permite que o País aumente a lista de investimentos. Isso é essencial para uma manutenção mais frequente de estradas e rodovias e para aumentar o porte da infraestrutura já existente. Não há como um país se desenvolver adequadamente sem uma infraestrutura boa, pois esta é uma condição básica para o desenvolvimento. Isso ajudaria demais os empresários, principalmente do nosso setor.

Na minha opinião a reforma administrativa tem que ser feita conjuntamente com a reforma tributária. A reforma tributária, se feita com bom senso e sem a perspectiva de pensarem em aumento de impostos, gerará um ambiente favorável ao empreendedorismo e ao ambiente de negócios. Ensejará a geração de grande quantidade de empregos diretos e indiretos, com a criação de competitividade ou pela melhora na qualidade dos serviços e produtos oferecidos.

Gostaria de deixar uma mensagem para nossos leitores?

Gostaria de parabenizar o atual Presidente do SETCESP, Tayguara Helou, pelo fantástico trabalho que tem feito em prol do transportador rodoviário de carga, muito em especial pela modernização do nosso Sindicato.

Quero instigar a todos que se unam em torno de sua entidade de classe, que isso só lhe trará benefício e engrandecerá o nosso setor.

Agradeço a todos meus ex-diretores que comigo batalharam para o crescimento de nossa entidade e consequentemente na busca de um Brasil melhor.


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