Inflação no Brasil seguirá em alta com guerra na Ucrânia, dizem especialistas
Compartilhe

Embora a inflação projetada para o ano de 2022 seja de 5,6%, de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta quarta-feira (2), especialistas ouvidos pela CNN projetam que o índice vai continuar subindo por conta dos efeitos da guerra na Ucrânia.

O aumento no preço do pão, das carnes, gasolina e gás de cozinha deve chegar ao bolso dos brasileiros.

Com isso, o acumulado dos últimos 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve seguir em dois dígitos por mais tempo — a prévia de fevereiro (IPCA-15), segundo o IBGE, é de 10,76%.

O economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin projeta uma inflação de, pelo menos, 6% para 2022.

Ele avalia que duas consequências do conflito no Leste Europeu vão ter impactos no Brasil: o preço das commodities e a alta do dólar, já que as importações no país são negociadas pela moeda norte-americana.

“O efeito mais direto é o das commodities, pois o petróleo, trigo, e milho, por exemplo, ficaram mais caros, já que o preço deles é definido a nível global. Então veremos o aumento no preço da gasolina, óleo diesel, óleo combustível, pão, bolo, biscoito”, afirmou.

“No caso do milho, é bom lembrar que ele entra na ração animal, como frango e gado. Na medida em que aumenta o preço do milho, vai aumentar o custo de produção dessas carnes, e isso vai bater no bolso do consumidor”, acrescentou Rochlin.

O economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultoria, afirmou que a empresa também prevê um IPCA de 6% para este ano.

Para ele, há uma mudança na composição do índice, com revisão de aumento do preço das commodities, mas de baixa dos produtos afetados pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e energia elétrica.

“Esses dois movimentos, de redução de IPI e bandeira tarifária, já que o nível de reservatórios se encontra em um patamar bem maior do que o ano passado, nos ajudam a manter nossa projeção de 6% para o IPCA de 2022, apesar da pressão de commodities energéticas e agrícolas observadas mais recentemente por conta dos conflitos geopolíticos”, avaliou Imaizumi.

Recorde das commodities

Nesta quarta-feira (2), os contratos futuros para aquisição de petróleo fecharam em alta. O petróleo WTI para abril subiu 6,95%, a US$ 110,60 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para maio avançou 7,58%, a US$ 112,93 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), os valores da gasolina e do diesel no país atingiram uma defasagem de 25% em relação ao mercado internacional, o maior patamar em cerca de dez anos.

Já o preço do trigo subiu 8,91% nesta terça-feira (1), chegando ao maior valor em 14 anos, enquanto o milho avançou 6,06%.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), Paulo Menegueli, a guerra não afetará o reabastecimento do produto, pois os países fornecedores são a Argentina, Uruguai, Paraguai e também os Estados Unidos.

Ainda assim, ele acredita que a tensão entre a Ucrânia e a Rússia trará um reajuste no preço de mercado.

“Em 2021, compramos apenas dois navios russos, então não seremos afetados por isso. Mas em relação ao preço, pelo trigo ser uma commoditie, ele vai oscilar. Ninguém venderá o trigo aqui mais barato por conta da Rússia. Vai vender mais caro no mercado, pois a demanda será alta”, disse.

“Iremos testemunhar um aumento de preço, mas não sabemos quanto. Acredito que quanto mais rápida a guerra for, menor serão os impactos no mundo”, ressaltou Menegueli.

Segundo ele, desde a pandemia de Covid-19, a maioria das padarias não tem repassado o reajuste de preços aos consumidores, o que mantém uma confiança entre cliente e vendedor.

No entanto, o presidente da Abip ressaltou a preocupação com o aumento no valor dos fertilizantes e destaca que os grãos devem ser impactados.

Em conversa com a CNN, o economista e professor da Ibmec Gilberto Braga pontuou que as sanções econômicas impostas a Rússia, por conta do conflito, também provocam efeitos em outros países.

“A Rússia compra muito pouco do Brasil produtos como petróleo, trigo, milho, fertilizante. Outro ponto é o bloqueio comercial imposto à Rússia. O transporte marítimo foi bloqueado, então não tem navio para transportar. Isso diminui a oferta global de produtos e, com a oferta menor, os preços sobem”, explicou.

O professor afirmou que, caso os sinais de resolução demorem mais de 30 dias para acontecer, as consequências serão devastadoras e a inflação no Brasil deve passar da casa dos 6% para 2022.


voltar