Ministério quer flexibilizar contratos de trabalho diante de risco de explosão do desemprego, sobretudo nos meses de julho e agosto
O Ministério da Economia espera um repique de alta mais forte do desemprego para os meses de julho e agosto e prepara uma proposta de novo modelo de flexibilização dos contratos de trabalho como resposta ao problema que se avizinha com a redução do isolamento social provocado pela pandemia da covid-19.
O risco de explosão do desemprego é hoje a maior preocupação do presidente Jair Bolsonaro, que pressiona o time do ministro da Economia, Paulo Guedes, a dar resultados rápidos nessa área.
O foco do novo programa, que será uma versão modificada e mais ampla da Carteira Verde Amarela é garantir novas contratações no mercado de trabalho no momento em que a demanda por bens e serviços continuará menor, depois da abertura da economia. Uma das possibilidades é trabalhar o programa não mais em faixas etárias. A Medida Provisória 905, que criou o Programa Verde Amarelo focado em facilitar a contratação de jovens de 18 a 29 anos, perdeu a validade antes de ser aprovada pelo Congresso.
Guedes quer contratos mais simples, com menor interferência dos sindicatos, para trazer quem está hoje estão recebendo o auxílio de R$ 600 para o mercado formal. O “regime especial de combate ao desemprego em massa”, como o ministro tem chamado informalmente o programa, será uma porta de saída para esses trabalhadores hoje excluídos do mercado formal de trabalho.
Para isso, o ministro quer desonerar os encargos que as empresas pagam sobre a folha de pagamento, proposta discutida desde a campanha eleitoral e que até hoje não conseguiu emplacar depois da fracassada tentativa de criar uma contribuição sobre pagamentos (CP), nos moldes da extinta CPMF.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o ministro está flertando com a seguinte narrativa para emplacar o novo tributo que bancará uma desoneração ampla: a saúde precisará que recursos continuem fluindo, e o emprego precisa ser estimulado.
Desoneração
A política de desoneração da folha de pagamento começou a ser adotada em 2011, durante o governo Dilma Rousseff, com a substituição da cobrança de uma alíquota de 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de salários por um porcentual sobre o faturamento. Desde então, a União já abriu mão de R$ 100 bilhões em arrecadação.
A ideia inicial era conceder o benefício de forma temporária para segmentos com problemas de competitividade que haviam sido prejudicados pela crise financeira internacional. Ao longo do tempo, porém, o benefício foi sendo estendido a outros setores e renovado sucessivamente. O elevado custo do programa, no entanto, obrigou a União a rever essa política a partir de 2015.
Atualmente, 17 setores ainda têm o benefício, que acaba para todos no fim deste ano.
Para o economista Manoel Pires, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a paralisação que está ocorrendo no Brasil será mais longa e todas as evidências apontam que a demanda não voltará para o nível que tinha antes da crise. “A saída da nossa crise vem com desemprego alto e informalidade elevada, um problema de antes da pandemia”, afirma. Para piorar, como as políticas de crédito não estão funcionando, muitas empresas vêm preferindo mandar embora seus funcionários. Como as estatísticas de emprego estão defasadas pela pandemia, os números mais detalhados deverão começar a aparecer em julho.
Para o economista do Ibre, julho vai ser o pico do problema, porque a economia estará voltando à normalidade com peso maior e se terá uma ideia melhor do estrago que foi feito. A estimativa do economista é que o desemprego possa saltar dos atuais 12% para 20% em 2020.
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