Crise atrasa selo que identifica Brasil como bom pagador no mercado
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A reforma da Previdência que agrada ao mercado financeiro é incapaz de fazer Brasil melhorar nota de agências de risco

 O risco/Brasil está relativamente baixo, pouco acima do nível no qual o país conquistou o grau de investimento, em 2008. Contudo, ainda vai demorar para recuperar o selo perdido em 2015, como admitem integrantes da equipe econômica e especialistas ouvidos pelo Estado de Minas. Nem mesmo a aprovação da reforma da Previdência é garantia de elevação das notas de crédito dadas pelas agências de classificação aos títulos soberanos brasileiros, advertem analistas do mercado financeiro.

Isso ocorre porque o cenário das contas públicas continua muito ruim, na avaliação deles. Segundo um operador de mercado, as agências internacionais não acreditam mais em promessas do governo brasileiro nem querem mais saber de promessas ou de expectativas. Querem fatos concretos. Mas, o país não consegue crescer e está preso na armadilha do baixo crescimento. Para piorar a situação, o governo vem demorando muito para tomar medidas adicionais à reforma previdenciária, a fim de cortar efetivamente gastos obrigatórios, que consomem mais de 95% das despesas primárias e crescem em ritmo acima da inflação.

Assim, as contas públicas não fecham. Não à toa, a falta de confiança contribui para a saída recorde de R$ 29,4 bilhões de investidores estrangeiros da Bolsa da Valores de São Paulo (B3), no acumulado no ano até o último dia 10, novo recorde histórico da série, iniciada em 1996. Esse valor, inclusive, supera os R$ 24,6 bilhões registrados em 2008, no auge da crise financeira global.

“Acredito que as agências ainda vão esperar mais um pouco para elevar a nota de risco do Brasil. Devem aguardar a economia melhorar um pouco, ver se outras medidas que o governo prometeu acontecem”, explica o economista Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Ele lembra que há vários sinais contrários na economia que não estão conversando. “A reforma da Previdência, que era a grande questão fiscal, pode ser aprovada, mesmo que desidratada. Isso é positivo e, por isso, o risco país está baixo. A nota do país poderia ter voltado a subir, mas a economia ainda está crescendo pouco. O quadro fiscal continua ruim e o cenário externo não está muito favorável”, explica.

O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, considera necessário que as incertezas internacionais diminuam para que o Brasil recupere o grau de investimento. “Falta crescimento. O mundo tem que se acalmar. Daqui a dois anos, o país recupera o selo de bom pagador, no máximo até 2022”, avalia.

As estimativas do mercado financeiro para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) deste ano estavam muito otimistas em 2018. Chegaram a ultrapassar 3%, e, agora, estão abaixo de 1%, porque a economia perdeu tração.

“Apenas a crise da Argentina tirou 0,5% do potencial do PIB deste ano. Logo, se não fosse a recessão no país vizinho, o PIB brasileiro poderia crescer 1,5% em vez de 1%”, calcula Balassiano. O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, também considera que a nota de classificação de risco do Brasil não deve ser elevada imediatamente. “Faltam medidas estruturais e o governo não pode ficar de braço cruzado até o Titanic afundar. O iceberg está no horizonte e vamos ver se o capital percebe. Hoje, o PIB está no mesmo patamar de 2010”, alerta.


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