Corte de pedidos vai derrubar produção no último trimestre
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14 de Outubro de 2008 – 10h00 horas / Gazeta Mercantil
Preocupadas com a proporção que a crise financeira mundial poderá atingir, as fabricantes de autopeças, que estavam investindo nas suas fábricas para eliminar gargalos, acelerar a produção e dar conta de atender a grande demanda da indústria automobilística, já começam a refazer planos, preparar férias coletivas e a agendar reuniões com a diretoria nos finais de semana para decidir que medidas serão tomadas para evitar uma redução brusca na produtividade. Diante do cenário de muitas incertezas, o presidente da Dura Automotive, Mario Butino, prevê que a produção de veículos tenha uma retração de 10% a 15% neste ano – a estimativa era que seriam fabricados 3,5 milhões de unidades. Caso a estimativa de Butino se confirme, a produção de 2008 ficaria entre 3 milhões e 3,15 milhões de veículos. Na previsão mais pessimista, haveria um empate com a produção de 2007 (2,97 milhões). Na mais otimista, o crescimento seria de 6%. Se as previsões forem confirmadas, a produção da indústria brasileira no último trimestre ficaria entre 400 e 550 mil veículos, praticamente metade do previsto.
A crise financeira continuará causando problemas no próximo ano. “Em 2009, em vez de crescer 8%, o setor automotivo fechará com volume de produção 10% menor“, diz Butino.
A avaliação do presidente da Dura leva em conta as programações feitas pelas montadoras. “Se as vendas estivessem no mesmo ritmo de euforia, o primeiro trimestre de 2009 já estaria comprometido com pedidos de componentes e ainda não temos previsão firme para o próximo ano. Isso significa que o setor automotivo vai entrar 2009 com o pé no freio“, prevê Butino.
“Estamos trabalhando com certo pessimismo, pois não acredito que a redução do crédito, o aumento nas taxas de juros e a total insegurança das pessoas não provoque uma queda nas vendas de automóveis“, disse o presidente da Dura, autopeça que tem grande participação na linha das montadoras no Brasil.
“As concessionárias já estão registrando queda nas vendas porque a crise financeira gerou uma insegurança em toda a população brasileira“, completa o presidente da Dura. Até o final do ano, o presidente da Dura garante que nada vai mudar na sua fábrica de Rio Grande da Serra, no ABC paulista. “Vamos manter o ritmo normal de trabalho, sem cortar turnos, mas estamos nos preparando para enfrentar essa crise que não acabará em curto prazo, porque o efeito psicológico nas pessoas é muito grande“. A Dura tem grande participação no fornecimento para a Volkswagen e Ford que estão mantendo o ritmo normal de trabalho.
Já outra fabricante de autopeça, que tem grande participação na Fiat e na General Motors – e preferiu não se identificar – prepara férias coletivas para a fábrica de Minas Gerais. “Vamos acompanhar a parada da Fiat“, informou o executivo.
Para esta empresa, a parada da Fiat já era prevista, mas a da General Motors pegou de surpresa e o corte de produção neste mês será de 10% a 20%.
A Mangels, grande fornecedora de rodas para a indústria automobilística, ainda não recebeu comunicado oficial das montadoras sobre redução de pedidos, mas mesmo assim passou o final de semana reunida com toda a diretoria para decidir as medidas que serão tomadas. “Vamos coletar todas as informações para tentar avaliar como será o cenário futuro e assim fazer os ajustes que forem necessários“, disse Adelmo Felizati, diretor de finanças da empresa. Segundo Felizati, a divisão de rodas, que tem grande participação nas montadoras, não teve redução nos pedidos. Já a divisão de aço, que abastece as montadoras, indústria de autopeças, sistemistas, setor eletroeletrônico e de construção civil registrou redução nas encomendas.
Nacionalização – Entre os fabricantes, a alta do dólar terá reflexo direto para montadoras que ainda têm índice de nacionalização na casa dos 60%. A importação de componentes irá causar um impacto imediato nas contas já que o setor dificilmente poderá repassar para o preços finais os reajustes provocados pela taxa de câmbio.
Nas revendas, o movimento durante a semana passada diminuiu, mas os volumes de negócios não tiveram queda. “Veio menos gente, mas quem apareceu comprou“, afirmou João Batista Simão, revendedor da General Motors e ex-presidente da associação brasileira dos revendedores Chevrolet (Abrac). “Parece que as pessoas estão com medo de deixar dinheiro no banco“, disse.

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