Maioria de economistas ouvidos espera juros inalterados no resto do ano
Depois de nove reduções consecutivas na taxa básica de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve manter a Selic inalterada na mínima histórica de 2% anuais na próxima semana. Essa visão é praticamente unânime entre as 79 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor. Dessas, 78 projetam estabilidade do juro básico na semana que vem. Apenas uma casa, a Oxford Economics, acredita em um corte de 0,25 ponto percentual.
A ampla maioria dos analistas também espera que o nível de 2% seja mantido até o fim do ano. No total, 72 instituições acreditam nesse cenário, enquanto as outras projetam ao menos um novo corte no juro básico ainda em 2020.
Os economistas do banco Sicredi são da ala que aponta para a Selic abaixo de 2% neste ano. Para eles, embora o Copom deva optar pela manutenção da taxa na semana que vem, um novo corte em outubro deve ser entregue para responder ao fato de as expectativas de inflação do próximo ano permanecerem abaixo da meta. Assim, eles veem o juro em 1,75% em outubro e ao longo de 2021.
Para o Sicredi, porém, esse cenário está sujeito a algumas condicionantes. “Primeiro, do ponto de vista global, existe um risco referente à pandemia, onde seria necessária não apenas uma diminuição do número de casos, mas também a produção e disseminação de vacinas. No Brasil, o fiscal é o maior condicionante do cenário e entendemos que seja necessária a manutenção do regime fiscal brasileiro e a retomada da agenda de reformas”, afirmam.
Na avaliação de Helcio Takeda, diretor de pesquisa econômica da Pezo, a manutenção da Selic em 2% na semana que vem e por um período prolongado está dada. Aos riscos fiscais, somam-se as surpresas positivas sequenciais no lado da atividade econômica e o descompasso entre os preços ao consumidor e os IGPs, que devem estar presentes no balanço de riscos do Copom.
“São elementos que sugerem cautela, favorecendo a manutenção da Selic e indicando que o eventual espaço para corte residual deixou de ser necessário neste cenário base atualizado, pavimentando o caminho para que as expectativas de inflação permaneçam ancoradas”, diz. A Pezco projeta que a Selic permanecerá nos atuais 2% até o fim do ano e que, em 2021, o processo de normalização dos juros levará a taxa aos 3,75% em dezembro.
Em relação ao início da normalização da política monetária, as apostas dos agentes variam bastante no momento. Para 28 das instituições consultadas, o cenário para os preços ao consumidor continuará comportado no próximo ano e permitirá a manutenção da Selic nas mínimas históricas. Por outro lado, 51 casas esperam que uma normalização do juro básico comece já no ano que vem.
O Santander, por exemplo, está entre os que projetam estabilidade da Selic em 2% pelo menos até o fim de 2021. Na visão do superintendente de pesquisa econômica do banco, Mauricio Oreng, “é possível que o Copom decida colocar menos ênfase na possibilidade de queda do juro no curto prazo, principalmente em decorrência de um percebido aumento nas preocupações quanto às perspectivas fiscais”.
Além disso, Oreng nota que a aparente recuperação mais firme da atividade também reduz a percepção de urgência de estímulos adicionais. Quanto às pressões inflacionárias mais recentes, o economista diz esperar que o Copom siga descartando a possibilidade de pressões mais disseminadas e persistentes de preços.
O economista lembra que os números de inflação ainda mostram pressões bastante fracas na inflação subjacente, enquanto os fundamentos inflacionários continuam bem comportados, diante da ampla ociosidade do mercado de trabalho e as expectativas de inflação ancoradas.
Para a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, seria interessante que, em algum momento, o Copom enfatizasse que a política monetária não atua em resposta a choques primários de oferta, estando atento aos impactos secundários deles. Ela, contudo, aponta que isso não deve ocorrer já nesta reunião, “somente se os choques mostrarem mais persistência ao longo das próximas divulgações do IPCA”.
Vale lembrar que, na última reunião do colegiado, foi implementado o “forward guidance” condinal à manutenção do atual regime fiscal e às expectativas de inflação. Na visão da economista do Credit Suisse, a ferramenta não deve sofrer alterações, já que não houve nenhuma grande mudança nas condicionantes. “O atual regime fiscal permanece bastante incerto, mas sem desvio significativos em relação à última reunião”, diz.
Também o economista-chefe da Vinland Capital, Aurelio Bicalho, acredita na manutenção do “forward guidance” inalterado, embora avalie que a ferramenta pode ser mais efetiva.
“A condicionalidade à política fiscal foi muito bem colocada pelo Banco Central, mas as condições relacionadas à inflação para determinar uma alta de juros deixam margens para interpretações de que os juros podem subir no início do ano que vem, embora não pareça ser esse o plano de voo”, afirma Bicalho. Para ele, portanto, é possível algum ajuste na linguagem para deixar o “guidance” mais claro.
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