Bancos centrais do mundo cortam juros antecipando risco de recessão
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Instituições dos Estados Unidos e Europa trabalham com taxas menores para minimizar efeitos de desaceleração; aumento da produtividade ajudaria Brasil a passar melhor por esse ambiente

A redução das taxas de juros pelos Bancos Centrais (BCs) ao redor do mundo representa um movimento de antecipação ao risco de recessão nas principais economias globais.

“A Europa, por exemplo, tem estado atenta a isso, pois sabe que o que acontecer nos Estados Unidos [EUA] irá ter fortes repercussões no continente e no restante do mundo”, destaca a coordenadora do curso de economia do Insper, Juliana Inhasz. “Está todo mundo tentando minimizar os efeitos de uma possível recessão”, acrescenta ela.

O continente europeu ainda tenta se recuperar dos efeitos da crise financeira de 2008. Uma nova recessão nos EUA dificultaria ainda mais a retomada o bloco. Cenário semelhante se coloca para o Brasil, que vem tentando se recuperar de um longo período recessivo entre 2015 e 2016.

Na última terça-feira (17), o Banco Central Europeu (BCE) cortou sua taxa de depósito em 10 pontos-base, para uma mínima recorde de -0,5%, com a justificativa de implementar estímulos adicionais na zona do euro. No dia seguinte (18), o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também anunciou corte. Dessa vez, de 0,25 ponto na taxa básica de juros norte-americana, levando-a para a faixa de 1,75% a 2,00%. Todos os dirigentes votaram pela redução.

Os BCs têm se preocupado com os efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China sobre a economia, além dos impactos do Brexit (processo de separação do Reino Unido da União Europeia).

O BC do Brasil também cortou em 0,50 ponto a taxa de juros Selic, para 5,50% ao ano.

Na avaliação de Inhasz, elevar o nível de produtividade seria uma das maneiras do Brasil passar por esse período de baixo crescimento mundial de uma forma menos negativa. “Quando você tem um nível de produtividade elevado, o custo de produção diminui e, consequentemente, os preços dos produtos caem”, avalia Inhasz.

“E em um momento de baixo crescimento econômico ou recessão, as pessoas preferem pagar por produtos mais em conta”, complementa. Por outro lado, a professora reconhece que o processo de ganho de produtividade é demorado e que o governo pouco tem apontado nesse sentido.

Já o coordenador do curso de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) Paulo Dutra observa que a recente rodada de corte de juros tenta evitar o estouro de uma bolha que tende a agravar a economia global.

Ele conta que, atualmente, há US$ 17 trilhões de ativos financeiros atrelados a taxas de juros negativas pelo mundo. “Se os juros sobem neste cenário, automaticamente esses ativos perdem valor provocando uma grave crise de confiança”, comenta o professor.

O que poderia estimular o Fed a subir juros hoje, por exemplo, são possíveis pressões inflacionárias. Dutra lembra que categorias começam a se mobilizar nos EUA. Na última segunda (16), por exemplo, cerca de 50 mil funcionários da General Motors (GM) entraram em greve geral. “Se houver uma forte elevação de salários nos EUA, isso certamente trará pressões sob a inflação”, ressalta o coordenador da FAAP.

O banco central da Suíça (SNB, na sigla em inglês) declarou ontem que espera manter sua posição de política monetária “ultraflexível” no longo prazo, depois de manter sua política monetária inalterada e oferecer aos bancos atingidos por suas taxas de juros negativas, um alívio extra. O SNB manteve sua principal taxa de juros inalterada em -0,75%, contrariando o BCE e o Fed.

Já o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) decidiu manter ontem o juro em 0,75% reiterando alerta de que deixar a União Europeia (UE) sem um acordo desaceleraria o crescimento e aumentaria os preços. O BoE disse ainda que a incerteza relacionada ao Brexit está causando um ressurgimento da capacidade ociosa na economia britânica e prejudicando a produtividade. O fracasso de um acordo pode levar a uma fraqueza adicional.


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