CNT defende renovação de frotas como estratégia urgente para descarbonizar o transporte
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Em palestra na Estação do Desenvolvimento, Entidade defende políticas públicas robustas para reduzir poluentes e transformar o transporte de cargas em aliado da sustentabilidade

Respirar um ar mais limpo, reduzir doenças respiratórias e tornar o transporte de cargas mais eficiente não são metas distantes; elas dependem de políticas que incentivem a renovação da frota que circula nas estradas brasileiras. Veículos mais antigos tendem a emitir mais poluentes e impactam diretamente a saúde das pessoas e o equilíbrio ambiental. Nesse sentido, modernizar a frota representa também uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida e acelerar a transição para um futuro mais sustentável.

Na Estação do Desenvolvimento, na Green Zone da COP30, em Belém (PA), o analista de Transporte da CNT, Gustavo Willy, apresentou a palestra “Impactos Ambientais e Econômicos Advindos da Renovação de Frotas no Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil”. Ele destacou que a renovação de frotas é uma estratégia imediata para avançar na descarbonização, considerando que os veículos elétricos ainda têm custo elevado, podendo chegar a até três vezes o preço de modelos convencionais no caso de ônibus e caminhões pesados. “Um automóvel elétrico custa cerca de 50% a mais do que um convencional. Mas, quando falamos de ônibus ou caminhões pesados, esse custo pode chegar a duas vezes o valor de um veículo a diesel. Então, como faremos a transição energética de uma hora para outra? Isso é improvável”, indagou.

Segundo ele, é necessário adotar estratégias em diferentes horizontes de tempo. Enquanto os veículos elétricos ainda são uma solução de médio e longo prazos, a renovação da frota oferece ganhos ambientais e sociais imediatos, com menor esforço. Para isso, a CNT reuniu dados e projetou cenários, avaliando o potencial de redução de poluentes atmosféricos, como monóxido de carbono, hidrocarbonetos, metano e material particulado, que têm impacto direto na saúde pública.

Gustavo lembrou que o Brasil tem o Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), criado em 1986, que estabelece limites cada vez mais rigorosos de emissão. “Um veículo de 1989 podia emitir 60 vezes mais material particulado do que um veículo atual. Isso mostra o quanto a tecnologia embarcada e a renovação da frota trazem ganhos gigantescos para a saúde pública e para o meio ambiente.”

Nos cenários analisados pela CNT, a renovação de frotas apresenta forte impacto ambiental e econômico. Retirar de circulação os veículos mais antigos (P0) representaria apenas 11% da frota, mas reduziria 33% das emissões de poluentes atmosféricos. Já um cenário mais amplo, substituindo todos os modelos fabricados até 2012 por veículos atuais (P8), poderia cortar 95% das emissões, exigindo a renovação de 86% da frota.

O esforço financeiro, porém, é significativo: mais de R$ 1,16 trilhão, equivalente a um ano de PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Mesmo considerando o valor venal dos veículos antigos, o custo líquido seria de R$ 845 bilhões. Willy destacou ainda que retirar apenas caminhões com mais de 13 anos de uso já traria ganhos expressivos, reduzindo 80% das emissões a um custo de R$ 529 bilhões.

Ele reforçou que os cenários servem como base para orientar políticas públicas: “A projeção de cenários é para isto: enxergar o tamanho do esforço e o que precisaria ser realizado para atingir cada meta. Qual seria o cenário mais factível para o Brasil? É isso que precisamos discutir”, ponderou.

Ao final, apresentou propostas da CNT para viabilizar a renovação de frotas no Brasil. Entre elas, programas acessíveis a diferentes perfis de transportadores (desde autônomos até grandes frotistas); a criação de fóruns de discussão envolvendo governo, sociedade civil e setor privado; o estímulo ao mercado de reciclagem e à logística reversa de veículos antigos; incentivos fiscais e melhores condições de financiamento; e a garantia de que a renovação siga os princípios da economia circular.

“Um transportador autônomo, que tem um único veículo, não pode simplesmente se desfazer dele sem apoio. Precisamos de programas robustos que atendam a todas as realidades e que reconheçam o valor da reciclagem automotiva, senão vamos criar pilhas de resíduos valiosos sem aproveitar seu potencial”, concluiu.

 

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