Ramon Alcaraz: “Empresas que querem se manter relevantes e competitivas precisam olhar além do resultado financeiro”
Compartilhe

Eleito pela Forbes como um dos melhores CEOs do Brasil em 2024, no comando da JSL e na vice-presidência do SETCESP, Ramon compartilha, em entrevista, sua história e visão sobre representatividade sindical e o cenário econômico

Conte-nos sobre sua trajetória profissional. Como ingressou no setor de transporte e logística?

Minha trajetória profissional começou há 40 anos, desde que iniciei a faculdade. Ainda na casa dos 20 anos, desenvolvi um software de gestão de frotas e abri uma empresa de consultoria. Desde então, passei por diversas experiências e despertei meu lado empreendedor em 2001, ao fundar a transportadora Fadel, onde atuei por 20 anos.

Por questões sucessórias, resolvi vender a Fadel, foi quando conheci a JSL. Após 18 meses de negociação, aconteceu o M&A [sigla para Mergers and Acquisitions – em português Fusões e Aquisições]. A partir de então, planejava me aposentar, mas a vida tem suas reviravoltas. O Fernando Simões precisava assumir a presidência da recém-criada Simpar e, consequentemente, deixar a da JSL. Foi aí que ele me convidou para assumir a presidência da JSL e a oportunidade de liderar a maior empresa de logística do Brasil logo me cativou, não pude deixar passar. Hoje, como CEO da JSL e vice-presidente do SETCESP, me sinto bastante orgulhoso por seguir contribuindo para o desenvolvimento do setor brasileiro de transporte e logística.

Quais as vantagens que as empresas têm de estar inseridas em uma entidade representativa de classe?

Diversas vantagens: defesa de direitos e interesses, desenvolvimento da área, debate de informações estratégicas. É a principal forma de ter um espaço permanente de diálogo com o poder público e demais agentes do setor. Diria que é também uma forma de valorização profissional, porque possibilita a participação ativa de todas as partes em decisões que impulsionam o mercado. Gosto do ditado: “Você pode escolher sentar à mesa e escolher um item do cardápio ou ser um dos itens do cardápio”. Em outras palavras: se você não fizer, alguém fará por você.

Como o SETCESP pode gerar valor para seus associados?

O SETCESP pode gerar valor estando cada vez mais próximo da realidade das transportadoras, ouvindo os desafios do dia a dia e ajudando a transformá-los em soluções. Seja por meio de capacitação, representatividade ou iniciativas que fomentem inovação e profissionalização do setor. O grande diferencial está em promover conexão e beneficiar cada associado.

O que as entidades podem aprender com as empresas privadas em relação às práticas de gestão?

As entidades podem se inspirar em aspectos como planejamento estratégico, foco em resultados, governança e inovação. Buscar eficiência na gestão interna é um caminho importante para gerar mais valor aos associados e atuar de maneira ágil e efetiva diante dos desafios do setor.

Uma das principais responsabilidades do sindicato são as negociações salariais. Em sua opinião, quais são os fatores que mais colaboram para haver consenso em uma Convenção Coletiva?

O consenso em uma Convenção Coletiva passa, antes de tudo, por diálogo e transparência entre as partes. Quando há entendimento mútuo sobre o cenário econômico, a realidade das empresas e as necessidades dos trabalhadores, as chances de se chegar a um acordo equilibrado aumentam muito. É importante que as negociações considerem a sustentabilidade do setor e, ao mesmo tempo, valorizem os profissionais que fazem tudo acontecer.

 “se você não fizer, alguém fará por você”

Como o senhor vê a atual situação do setor em relação às negociações salariais?

Avanços acontecem quando há disposição das partes para ouvir, ponderar e construir soluções viáveis para todos os envolvidos. O setor de transportes tem tradição de diálogo, e acredito que isso seguirá sendo um ponto de equilíbrio.

foto: Divulgação JSL

Atualmente, qual a importância de as empresas do setor alinharem as suas atividades às práticas ESG?

Hoje, alinhar as atividades às práticas ESG não é mais uma tendência — é uma necessidade. Empresas que querem se manter relevantes e competitivas precisam olhar além do resultado financeiro. O setor de transporte tem um papel enorme nisso, podemos impactar positivamente o meio ambiente com eficiência logística, promover inclusão com políticas de diversidade e fortalecer a governança com ética e transparência. Além desses pontos, o ESG tem que ser visto de forma sustentável num ângulo de 360 graus: sustentável para o meio ambiente, para a sociedade e para a própria empresa.

No cenário econômico internacional, acompanhamos uma escalada tarifária dos EUA, que desencadeou até um conflito com a China. Que impacto isso pode ter para o Brasil? Podemos tirar alguma vantagem de tudo isso?

Ainda é cedo para dizer, mas o Brasil pode surgir como alternativa em algumas rotas e fornecimentos. O essencial é ter uma estratégia sólida, com um portfólio de clientes diversificado, capaz de aproveitar as oportunidades do mercado e estar protegido diante de qualquer cenário adverso.

O Governo Federal anunciou no início do ano o maior pipeline de concessões da história. Qual a sua avaliação do andamento das concessões e privatizações rodoviárias no País?

Avançar com investimentos em infraestrutura é algo que o setor demanda há muitos anos. Essa melhoria passa pela combinação de investimentos públicos e privados, e precisa vir acompanhada de diálogo com o setor. É fundamental que esses projetos sejam bem estruturados, com contratos equilibrados, previsibilidade regulatória e foco na eficiência de longo prazo.

“Nunca subestimem o poder de um propósito bem definido”

Fale um pouco dos desafios em ser um empresário no Brasil?

Empreender no Brasil exige resiliência, mas com criatividade e disciplina é possível construir negócios sólidos que geram impacto. Tudo se baseia em como você faz a gestão dos seus líderes, afinal, o sucesso vem quando todos compartilham o mesmo propósito. O setor de transportes continua sendo extremamente essencial para o Brasil e o mundo, e temos demonstrado que é possível aliar crescimento econômico à responsabilidade social e ambiental.

Como foi para você ser reconhecido pela Forbes como um dos melhores CEOs do Brasil em 2024?

Foi uma grande surpresa, mas também muito gratificante. Temos muitos CEOs excelentes no Brasil, e me senti lisonjeado por estar entre os dez melhores.  Também reconheço que essa conquista não é individual; é fruto do trabalho em equipe. Ela representa o compromisso diário de pessoas que sonham e acreditam no potencial de transformar o setor logístico brasileiro.

No seu LinkedIn, em sua postagem de agradecimento à escolha da Forbes, o senhor afirma ter tido a sorte de contar com vários mestres que te ensinaram, nos quais pode se espelhar. Neste sentido, pode nos dizer quem são as pessoas que você admira e o porquê?

Eu poderia citar vários, mas para não correr o risco de esquecer de alguém, vou citar apenas um, que faz parte da história do SETCESP e teve uma grande influência na minha trajetória. Ele não me conhecia, mas apostou no projeto dos jovens que se formavam na primeira turma de engenharia voltada ao segmento de transportes e me deu muito apoio, desde o primeiro estágio. Suas ideias eram bem à frente do seu tempo: Adalberto Panzan.

Qual mensagem poderia deixar para os nossos leitores?

Nunca subestimem o poder de um propósito bem definido. Em um setor tão desafiador e essencial como o transporte, nosso maior ativo são as pessoas. Valorize sua equipe, escute quem está na linha de frente e lembre-se de que liderar é inspirar e construir juntos. Nosso trabalho impacta vidas, e isso é um enorme privilégio.


voltar