
O mercado de trabalho brasileiro abriu menos vagas com carteira assinada que o esperado em maio, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado, no entanto, precisa ser visto com cautela, ressaltam economistas, que notam que o indicador produzido pelo Ministério do Trabalho e Emprego costuma ter maior volatilidade em relação a outros indicadores.
No mês passado, o país registrou abertura líquida de 148.992 mil vagas com carteira assinada em maio. A estimativa mediana de instituições consultadas pelo Valor Data era de 171.824 mil vagas. As projeções iam de 105,88 mil a 190 mil.
Todos os cinco grandes setores da economia registraram resultado positivo. Serviços adicionou 70.139 vagas, seguido de comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas (23.258), indústria geral (21.569), agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (17.348) e construção (16.678).
No acumulado de janeiro a maio, a economia criou 1,05 milhão de vagas, queda de 4,9% ante o mesmo período de 2024, ressalta Janaína Feijó, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Ela chama atenção para o desempenho do setor de serviços, que emprega a maior parcela da população brasileira. Nos primeiros cinco meses do ano, volume de vagas criadas sofreu contração de 10,7% – ou 77 mil empregos a menos que o registrado em igual período de 2024.
“Esse desempenho pode ser associado à elevação dos juros que temos visto desde o segundo semestre do ano passado. O mercado formal como um todo também recebeu ajuda da colheita da safra nos primeiros meses do ano, mas é uma ajuda que não vai mais existir daqui para frente”, diz Janaína.
De fato, a agricultura acumula alta de 52,2% de vagas criadas entre janeiro e maio, na comparação com o mesmo período de 2024, e é praticamente o único setor que tem alta consistente. A indústria registra queda de 0,6% no período, enquanto o comércio o comércio se mantém praticamente estável (alta de 0,1%) e construção gerou 6,7% menos vagas.
Para Janaína, o Caged pode estar sinalizando que o esfriamento do mercado de trabalho está mais próximo no horizonte do que se imaginava. “Todos sabem que essa desaceleração deve ocorrer em algum momento, a pergunta é qual será a velocidade. O dado de maio eleva a chance de isso ocorrer já no terceiro trimestre, não apenas no fim do ano, como se especula.”
Nos primeiros meses de 2025, o emprego surpreendeu positivamente, especialmente o com carteira assinada. A força do mercado de trabalho é um dos motivos para a onda de revisões altistas para a atividade em 2025, já que significa mais renda e consumo mais resiliente.
Desempenho pode ser associado à elevação dos juros que temos visto desde o ano passado” — Janaina Feijó
Alguns, no entanto, pregam cautela ao hora de analisar os dados do Caged, cujos números têm sido mais voláteis que o de outros indicadores do mercado de trabalho. Eles recordam que o forte número de fevereiro no Caged (431 mil postos), por exemplo, acabou equilibrado pelo dado fraco de março (35 mil).
“São sinais ainda incipientes“, diz Henrique Ferreira, economista da Tendências, notando que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) trouxe nova queda da taxa de desemprego, que caiu para 6% na série com ajuste sazonal. Assim, a tendência que surge do Caged precisa ser confirmada pelas próximas divulgações.
O mesmo vale para a dinâmica salarial, segue o economista. Em maio, o salário médio real de admissão foi de R$ 2.248,71, queda de 0,1% na comparação com maio de 2024. Em abril, ele crescia 0,3% pela mesma métrica e, em março, 1,3%.
“Em todas as métricas do Caged, se consegue vislumbrar desaceleração. Ocorre que esses dados podem ser meio enganosos. A Pnad, que é um pouco mais consistente, mostrou que a força de trabalho empregada com carteira bateu recorde na série histórica”, pondera Lucas Farina, economista da Genial Investimentos.
Ele ressalta que este último dado significa um número maior de pessoas elegíveis para o crédito consignado com carteira, modalidade que ainda não deslanchou, mas tem potencial para postergar ainda mais o esperado esfriamento do mercado de trabalho. E é uma medida que se soma a outros estímulos fiscais previstos para os próximos meses, como o como o pagamento de R$ 72 bilhões em precatórios e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que deve valer a partir de 2025.
“No limite, essa desaceleração pode inclusive não ocorrer, o que torna ainda mais difícil o trabalho do Banco Central”, afirma o especialista, lembrando que a autoridade monetária acaba de levar a Selic para patamares não vistos desde 2016.
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