É preciso cuidar para que rodovias não sejam descaracterizadas de sua função inicial: o transporte de longa distância. Foi essa a principal conclusão da mesa "Os desafios das estradas", parte do 2º Seminário Mobilidade Urbana, realizado pela Folha de S. Paulo, nesta segunda (22), no teatro Unibes Cultural, em São Paulo.
"A busca por cada vez mais acesso leva à ocupação das margens das rodovias e a transformação delas em avenidas, que perdem essa característica de transporte de longa distância", afirmou Laurence Casagrande Lourenço, secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo. "Rodovia tem de ser sustentada como tal", defendeu, ao citar as marginais Pinheiros e Tietê, hoje rotas de automóveis utilitários com a finalidade de transporte individual. Lourenço afirmou que, no Estado de São Paulo, onde quase 85% do transporte de carga é feito pelo modal rodoviário, a urbanização das estradas é prejudicial à medida em que encarece o processo logístico. "Você começa a ter a restrição de horários e tamanhos, e o abastecimento da cidade passa a ser feito por veículos menores".
"A nossa preocupação é dar um acesso adequado. Cabe aos municípios a tratativa adequada", pontuou Giovanni Pengue Filho, diretor-geral da Artesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo).
Investimentos
As concessões e privatizações foram destaque na fala de Pengue Filho, que mencionou investimentos previstos para as rodovias estaduais neste ano: serão R$ 8,23 bilhões ao todo, dos quais R$ 2,99 bilhões serão destinados a obras estruturais como duplicações, por exemplo. "O usuário está mais exigente. O poder público, que é o concedente, tem de estar atento para que se faça o que é necessário nas rodovias", disse César Borges, presidente da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias).
Para ele, há ainda entraves burocráticos que fazem com que as rodovias federais deixem a desejar. "Existe um controle forte dentro do Tribunal de Contas da União e da Agência Nacional de Transportes Terrestres que, praticamente, requer que o contrato fique estático por 30 anos".
Saturação
O secretário de Logística e Transportes do Estado de São Paulo chamou a atenção para as perspectivas de saturação das rodovias na região metropolitana de São Paulo. "A ocupação do território deixou a região muito cara. Rodovia precisa de espaço, e a desapropriação acaba sendo cara", afirmou. Lourenço disse ainda que o governo estadual estuda, junto ao Banco Mundial, a elaboração de um trem expresso capaz de percorrer distâncias médias. Ele serviria de transporte para pessoas localizadas em cidades como Campinas, Americana e Sorocaba até a capital.
"O desafio da mobilidade passa pelo transporte das pessoas e pelo abastecimento da cidade, que disputam entre si. É preciso buscar soluções multimodais que permitam a chegada dessas cargas por outras vias que não só a rodoviária", concluiu o secretário.
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