O único leilão de rodovia do governo Michel Temer desperta o interesse de ao menos seis grupos, apurou o Valor. Marcado para 1º de novembro, na B3, em São Paulo, o leilão da Rodovia de Integração do Sul (RIS), um lote de 473,4 quilômetros que cruza 32 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, está na mira da CCR, Ecorodovias, Arteris e do fundo de investimentos Pátria.
Estudam ainda o ativo em profundidade uma construtora de porte médio do Sul, cujo nome não foi revelado, e até a Triunfo Participações e Investimentos (TPI), grupo que está em recuperação extrajudicial e até julho foi concessionário de um trecho desse lote.
Segundo fonte a par do assunto, apesar da situação financeira complicada da TPI, esse seria um negócio pelo qual a companhia se disporia a brigar, dado que já conhece operacional e financeiramente o ativo e, por isso, poderia conseguir ser mais eficiente que os concorrentes.
A CCR está bastante interessada. Mas a decisão, como de costume, é tomada na véspera. A empresa precisa repor portfólio, em parte composto por ativos que vencem nos próximos anos – mas não o fará a qualquer custo.
Já a Ecorodovias tem um "benefício". A construção do trecho Norte do Rodoanel que arrematou no início do ano está atrasada e a empresa ainda não teve a aprovação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para comprar a MGO Rodovias, pela qual ofereceu R$ 600 milhões. Assim, a Ecorodovias tem balanço para fazer a oferta pela RIS. Justamente porque ainda não recebeu o dinheiro, a MGO, grupo de construtoras de pequeno e médio porte, não deverá ter se capitalizado suficientemente até lá para ir às compras.
Também a italiana estatal Anas, que constrói e explora rodovias, estava decidida a investir no Brasil e olhava o ativo. Mas, conforme o Valor apurou, a empresa recuou depois que uma ponte explorada pelo grupo Atlantia desabou em Gênova, na Itália, em agosto. Dezenas de pessoas morreram. Políticos do alto escalão na Itália, incluindo o primeiro-ministro, defenderam a perda das licenças da Atlantia para gerenciar as rodovias no país europeu. Dessa forma, a Anas poderia ser chamada a assumir outros negócios na Itália.
Por essa mesma razão, é bastante difícil que a Atlantia, dona da AB Concessões, concessionária de rodovias no Brasil, apareça no leilão.
A RIS demandará recursos totais ao longo dos 30 anos de concessão estimados em R$ 13,4 bilhões. Do montante global, R$ 7,8 bilhões são para investimentos, sendo que 30% disso deverá ser desembolsado até 2022, sobretudo em recuperação do sistema viário e ampliação da capacidade. Os outros R$ 5,6 bilhões são custos operacionais durante a concessão. A taxa interna de retorno (TIR) de projeto sobre o fluxo de caixa sem alavancagem é de 9,20 % ao ano.
Vence quem der o maior desconto sobre o valor do pedágio fixado em R$ 7,24. Estão previstas sete praças de pedágio. As propostas devem ser entregues no dia 30 de outubro, na B3.
O lote que compõe a RIS é formada por quatro trechos das BRs 101/290/386/448. São eles: BR-101, entre a divisa Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, em Torres, até o entroncamento com a BR-290 em Osório; BR-290, no encontro com a BR-101, em Osório, até após a ponte móvel do Rio Guaíba, na capital Porto Alegre; BR-386, no entroncamento com a BR-285/377, para Passo Fundo, até o entroncamento com a BR-116, em Canoas; e BR-448, no encontro com a BR-116, em Sapucaia do Sul, até o entroncamento com a BR-116/290, em Porto Alegre.
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