
As vendas de seguro transporte no Brasil cresceram 6% em 2024, alcançando R$ 6,2 bilhões. O baixo nível de investimentos na economia, as mudanças regulatórias e as elevadas perdas causadas por sinistros relacionados a eventos climáticos explicam o desempenho inferior ao crescimento de dois dígitos observado nos últimos três anos. Ainda assim, especialistas mantêm um cenário otimista para 2025, com projeções novamente na faixa de dois dígitos.
“Investimentos em infraestrutura e logística, impulsionados pelo governo através de Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, devem melhorar significativamente a malha logística, aumentando o volume de cargas transportadas. A modernização das rodovias, portos e ferrovias tende a elevar a eficiência, reduzir riscos e, consequentemente, impulsionar a demanda por seguros de carga. A expansão industrial, especialmente no segmento de máquinas e insumos, estimula a busca por coberturas de seguros mais completas”, afirma Marcos Siqueira, diretor de transportes e equipamentos do grupo HDI.
Felipe Smith, diretor-executivo de produtos pessoa jurídica da Tokio Marine, segunda maior do segmento, acrescenta que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou previsão de aprovar até R$ 30 bilhões em financiamento para concessões rodoviárias em 2025. “Esse valor não apenas supera o ano passado como também reflete o potencial de crescimento desse setor no país.”
Adailton Dias, vice-presidente da Comissão de Transportes da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), destaca o aumento do comércio internacional e do e-commerce como importantes impulsionadores do mercado: “Esses fatores vão movimentar mais cargas, gerando oportunidades para o seguro”.
Apesar de algumas regulamentações apresentarem desafios, especialmente no seguro de responsabilidade civil (RC) do transportador, elas também diversificam a demanda. A Lei nº 14.599/2023, publicada em 2023, tornou obrigatório o seguro de RC para transportadores de carga, mas só foi regulamentada em setembro de 2024, consolidando em uma única norma os seguros de RC dos transportadores de carga dos diferentes modais existentes. Ela também estabeleceu a obrigatoriedade da contratação do seguro por desaparecimento de carga. “Em parceria com a CNseg [Confederação Nacional das Seguradoras], estamos criando um banco de dados que permitirá à Secretaria da Fazenda monitorar as apólices de seguros obrigatórios de RC, agora obrigatórias, e com isso estimamos um aumento de até 30% nas contratações de seguros de RC”, explica Dias.
Segundo Smith, apesar do cenário desafiador, que deve persistir ainda neste ano, há uma demanda crescente pelo seguro transporte, especialmente considerando a entrada da nova legislação, que cria oportunidades. Siqueira, da HDI, faz coro. “Essa obrigatoriedade garante que os segurados contratem os seguros necessários, protegendo as mercadorias contra acidentes e roubos, assegurando a continuidade da cadeia de abastecimento e evitando a falta de produtos.”
Além dos desafios econômicos e regulatórios, os eventos climáticos extremos vêm impactando significativamente o setor. “Os recentes episódios de incêndios e enchentes, especialmente no Rio Grande do Sul, causaram grandes perdas às seguradoras. Isso criou um ambiente mais restritivo para grandes transportadores e embarcadores, com relatos de clientes enfrentando aumentos expressivos de preços, chegando a até sete vezes mais que o valor pago no ano anterior, acompanhados por restrições na aceitação de riscos”, informa Roberto Schimith, CEO da Insert, corretora especializada que atendeu mais de 800 clientes e intermediou indenizações superiores a R$ 28 milhões em 2024.
A Sompo, líder no segmento com 17% de market share, reforça que o segredo da sustentabilidade no longo prazo é investir em prevenção e gerenciamento de riscos por meio de inteligência artificial (IA). “Tecnologias que identificam padrões de risco, previnem sinistros e ajustam preços com precisão são fundamentais. Isso reduz significativamente os riscos e a sinistralidade, tornando o seguro mais eficiente”, diz Tatiana Pinheiro Kusaba, superintendente de transporte da Sompo, que monitorou cerca de 230 mil viagens e cargas no valor de R$ 132 bilhões em 2024. No ano passado, a companhia emitiu mais de R$ 1,05 bilhão em prêmios de seguro de transporte, alta de 5,83% em relação a 2023.
Os corretores afirmam que a tecnologia é a grande aposta do setor. “Investimentos em segurança e prevenção tornam o seguro mais atrativo. Com o Proteção 360 Alper Cargo, reduzimos roubos em até 50% e acidentes em 20% para nossos clientes”, conta Denis Teixeira, sênior vice-presidente de transportes e logística da Alper Seguros. Diego Zanini, diretor comercial da Wiz Corporate, acrescenta que a análise preditiva e o monitoramento com câmeras e IA são essenciais para antecipar e prevenir riscos em tempo real. Não só do seguro transporte, mas também de outros seguros importantes para os operadores logísticos. “Eles também demandam seguro garantia, patrimonial, máquinas e equipamentos, entre outros.”
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