Restrição a caminhões divide setor produtivo
Compartilhe
04 de Abril de 2008 – 10h00 horas / Gazeta Mercantil

A decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), anunciada terça-feira, de restringir a circulação de caminhões na cidade dividiu o setor produtivo. Entre as empresas há as que reclamam do aumento dos custos e dos investimentos feitos em frota. Para Urubatan Helou, fundador da Braspress, um dos maiores frotistas de veículos de entregas do País, Kassab terá de rever as restrições. “O prefeito não tem a mínima noção do impacto econômico e social que tal medida causa. A coisa mais sensata é liberar os caminhões.“ Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a extensão do rodízio de circulação de veículos para os caminhões deve elevar entre 5% e 10% os custos gerais do segmento. Cada setor terá de dar sua cota de sacrifício, disse ontem o prefeito, ao referir-se às restrições para tentar melhorar o tráfego em São Paulo. Segundo ele, o sacrifício será necessário enquanto não ficarem prontas obras do metrô e do rodoanel, estrada que pode reduzir a circulação de caminhões dentro da cidade. Isael Pinto, diretor-presidente da General Brands (GB), fabricante de refresco em pó e suco pronto, avalia que vale a pena fazer distribuição à noite, como determina a nova regra. Os custos com horas paradas no trânsito compensariam o adicional noturno da mão-de-obra. Aparentemente, restringir os caminhões na área urbana é medida simpática à maioria dos moradores, o que renderia dividendos eleitorais ao prefeito, candidato à reeleição . Mas, segundo o cientista político Carlos Mello, só após verificar o sentimento da população sobre as mudanças será possível medir seu alcance político. Mello destaca a importância que o trânsito terá na eleição. Medida pode elevar custos do comércio em São Paulo O comércio de São Paulo poderá ter um aumento de custos com a inclusão de caminhões no rodízio de veículos da cidade. Isso porque na conta de gastos seriam somadas a contratação de funcionários para receber mercadorias no período da noite (o que inclui o pagamento de adicional noturno) e a intensificação da vigilância para o momento da entrega de produtos, segundo entidades de classe. Um dos segmentos que deve ser afetado pela medida é o de bares e restaurantes. Segundo cálculos feitos pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) São Paulo, a extensão do rodízio de veículos para caminhões deverá gerar um aumento entre 5% e 10% nos custos gerais do segmento. Segundo a entidade, o abastecimento dos cerca de 55 mil estabelecimentos do segmento existentes na cidade é feito atualmente em horário comercial. “Politi-camente vamos mostrar mais um equívoco da Prefeitura de São Paulo. A atividade econômica está encarecendo na cidade“, afirma diz o diretor jurídico da entidade, Percival Maricato. A Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP), embora afirme que a medida aumentará os custos, defende, considerando-a, no entanto, um paliativo. “Não é agradável, mas alguma coisa vai ter que ser feita. Chegamos a um nível de veículos na cidade que não dá mais“, diz o diretor executivo da entidade, Antônio Carlos Borges. Na opinião do empresário, é cedo para fazer um cálculo exato sobre o aumento dos gastos. Para Borges, é possível que surjam outras soluções paliativas como por exemplo, a utilização de pequenos veículos de transporte para o abastecimento do comércio. “De qualquer forma, não acreditamos que deva onerar sobremaneira a atividade.“ O empresário lembra que uma alternativa semelhante já foi adotada na cidade, na gestão de Jânio Quadros, em 1985. Naquele momento, diz, o problema não era tão grave e a medida foi deixando de ser cumprida. A varejista Casas Bahia, dona de uma das maiores frotas de caminhões de entregas do País, disse, através de sua assessoria de imprensa, que “vai aguardar a tramitação do projeto de lei na Câmara para depois avaliar, caso o mesmo seja aprovado, as medidas que serão necessárias para sua adequação de forma a continuar atendendo o fluxo diário de entregas da rede“. Rodízio vale a pena, diz empresário Nem todos no setor produtivo da economia reclama das novas medidas do prefeitura paulistana para tentar diminuir o trânsito de São Paulo. O empresário Isael Pinto, diretor-presidente da General Brands (GB), uma das principais fabricantes de refresco em pó do Brasil, sente até um certo alívio com a notícia. “Tenho escritório na capital e a fábrica fica em Guarulhos. Quase todos os dias enfrento horas parado em congestionamentos caóticos nas Marginais para atravessar a cidade em direção à fábrica. E o trânsito de caminhões é muito pesado“, disse. Um possível impacto das novas medidas nos custos de logística da empresa – com adicional noturno na folha de pagamento dos motoristas da frota própria e novas contratações, principalmente – será “subsidiado“ pelos recursos que a empresa deixará de desembolsar para cobrir perdas com as horas paradas da frota nos congestionamentos da cidade, afirmou Isael Pinto. “É diesel queimando. As entregas nas madrugadas também podem subsidiar possíveis aumentos, já que serão mais rápidas porque deixaremos de perder tempo parado no trânsito“, afirmou. Empresa de capital integralmente nacional, a GB tem frota própria de 20 veículos, entre leves, carretas e caminhões, para entregas na capital paulista e nas cidades da Grande São Paulo. A entrega nos pontos-de-venda do restante do Estado de São Paulo e do País é realizada por transportadoras. Mas como a unidade fabril fica em Guarulhos a empresa não vê problemas com as novas medidas, no caso das transportadoras. “Se houver algum aumento de custos ele não será repassado aos produtos. Acho que a indústria pode se adequar e até absorver impactos, sem repassar para os seus produtos, como forma de contribuição para a melhoria do trânsito da cidade e para a saúde, com a redução dos níveis de poluição“, observou o empresário. Fundada em 1995, a General Brands -, que fabrica o suco pronto Camp Néctar, o refresco em pó Camp, os chicletes Gang, o suplemento alimentar Sustaplus entre outros produtos – também exporta para cerca 20 países. A companhia tem 25 motoristas e emprega 120 pessoas. Prefeito voltará atrás, aposta transportador Empresários e dirigentes de sindicatos patronais do transporte afirmaram que vão tentar convencer o prefeito Gilberto Kassab (DEM) a desistir da idéia de proibir carga e descarga de pequenos caminhões no centro de São Paulo. Além disso, também querem que a prefeitura volte atrás na decisão de ampliar o rodízio de caminhões para as marginais Pinheiros e Tietê e avenida dos Bandeirantes, vias onde se conc
en-tram a maior parte dos caminhões que circulam pela capital paulista. Alegam que a restrição ao tráfego de caminhões trará altos custos não só a São Paulo, mas a todo o País. “Proibir circulação de pequenos caminhões das 5h às 21h vai causar um impacto de dimensões inimagináveis“, afirmou ontem o presidente do das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região Metropolitana, Francisco Pelucio. “Como abastecer pequenos comerciantes, canteiros de obras e hospitais“, questiona o dirigente, para quem o prefeito não imaginou “o tamanho do caos“ que a medida causará. Para Pelucio, as estradas que dão acesso a São Paulo não estão preparadas com bolsões para o estacionamento de caminhões que serão proibidos de trafegar em razão do rodízio de placas. “Além disso, a prefeitura de São Paulo estará repassando a outros municípios e a Secretaria de Segurança Pública, pois as cargas estarão mais sujeitas a roubo“, disse. Urubatan Helou, fundador da Braspress, empresa que tem cerca de mil caminhões – a maioria para entregas urbanas – afirmou que as medidas anunciadas por Kassab “são simplistas“. Para ele, o pequeno e médio comerciante não tem como receber cargas à noite. De acordo com ele, as grandes operações de carga e descarga já são feitas à noite, como o abastecimento a postos de combustível. “O prefeito não tem a mínima noção do impacto econômico e social que tal medida causa“, avalia Helou. “A coisa mais sensata é liberar os caminhões, enquanto não fica pronto o rodoanel.“ Para o empresário, que também é dirigente sindical dos transportes, a população não vai querer arcar com os custos das medidas tomadas por Kassab. “Em vez de retirar os caminhões, a prefeitura deveria apreender 1,5 milhão de automóveis que não pagam impostos, não geram faturamento e poluem a cidade“, afirmou. O presidente do Setrans, sindicato das transportadoras do ABC paulista, Antonio Caetano Pinto, afirmou que montadoras terão dificuldades de abastecimento já que as autopeças têm apenas duas horas para entregar a produção. “Não temos gente e equipamentos para cobrir a operação com a restrição aos caminhões“, disse ele, também dono da Transportadora Grande ABC, com 600 caminhões.


voltar