Compartilhe
17 de Junho de 2015 – 04h37 horas / Tribuna da Bahia

A Polícia Federal realizou diversas prisões em Salvador e demais cidades da região metropolitana, durante a Operação “Carga Pesada”. Os presos são acusados de integrarem uma quadrilha especializada em furtos de cargas no Porto de Aratu, que fica em Candeias, na Grande Salvador.

Ao todo foram presas 16 pessoas, sendo uma em flagrante, com o suspeito portando uma arma de fogo. Além dos suspeitos, foram apreendidas três armas e um veículo.

As investigações tiveram início à aproximadamente um ano, e a ação desta terça-feira (16) envolveu 200 policiais federais, que cumpriram 53 mandados judiciais, dentre eles, 24 prisões, duas conduções coercitivas e 27 de busca e apreensão nos municípios de Salvador, Camaçari, Simões Filho e Candeias, além da cidade de Bom Sucesso, em Minas Gerais.

Entre os presos estão o ex-presidente da Cooperativa Mista de Caminhoneiros Autônomos da Bahia, Cléber Herculano de Jesus – tido pela PF como o principal cabeça da organização criminosa – e o atual gestor da entidade, Alex Almeida. Os policiais também fizeram buscas na sede da entidade, localizada no Posto Laçador, na BR-324, já que outros membros da cooperativa também integravam a quadrilha.

Uma das etapas da operação culminou na morte de um homem identificado como Márcio Neri dos Santos, de 35 anos, em uma residência localizada em Pau da Lima.
O homem, cujo nome não estava entre os suspeitos procurados pela PF, estava armado e foi baleado por agentes no momento em que a equipe cumpria um mandato de busca e apreensão no imóvel, e levado em seguida para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos.

Segundo nota emitida pela PF, providências para completo esclarecimento do caso estão sendo adotadas, inclusive, a arma que estaria em posse de Márcio foi apreendida para realização dos exames periciais.

O resultado da investigação deve ser apresentado após a conclusão do inquérito, o que deve durar dez dias. A polícia fiz ainda em nota que “os elementos colhidos até o momento demonstram que em princípio a ação revestiu-se de legalidade, estando os fatos ainda sob investigação, finda a qual serão esclarecidas em definitivo as circunstâncias”.

Prejuízos a importadoras

De acordo com a PF, a quadrilha atuou no Porto de Aratu, por um período aproximado de dez anos, lesando importadoras em um valor de R$ 100 milhões durante este período. A organização roubava, sobretudo, concentrados de cobre, e fertilizantes. O porto é a principal porta de entrada para mercadorias do estado, representando 60% do que é importado pela Bahia, por via marítima.

Segundo o delegado regional de combate ao crime organizado da PF, Dr. Fábio Muniz, a estrutura da quadrilha é complexa, incluindo vários níveis hierárquicos, funcionando como uma “máfia” propriamente dita, onde vários colaboradores executavam diferentes tarefas para garantir a eficiência nos furtos.

Ainda segundo o delegado, o prejuízo, muitas vezes, só era percebido meses depois pelas empresas. As operações de descarga dos navios também demoram, levando inclusive uma semana inteira para que esta seja executada. As ações eram facilitadas por outros membros, que atuavam em diferentes funções no porto.

O número oficial de integrantes da quadrilha ainda está sendo investigado. O primeiro escalão era composto pelos diretores da cooperativa, e contava ainda com o auxílio de guardas portuários e empregados das empresas furtadas, além de agentes da empresa de segurança patrimonial, motoristas e policiais reformados.

O modus operandi da quadrilha envolvia, não apenas o furto das cargas, como também a prática da extorsão e intimidação de testemunhas.

Durante o ano em que as investigações se intensificaram, a PF identificou três homicídios e mais três tentativas de homicídios praticados por integrantes da organização com a finalidade de silenciar possíveis delatores, garantindo assim, a continuidade das práticas criminosas.  

Os furtos eram, muitas vezes, realizados com a entrada de caminhões eram facilitados, através de guias e autorizações falsas, além do aliciamento de funcionários que atuavam no local. Logo após o desvio, as mercadorias roubadas eram enviadas a receptores que ficariam nos estados de São Paulo e Minas Gerais.

Segundo o delegado Jorge Orlando Borges, em dezembro de 2014, uma carga concentrada de cobre, procedente do Porto de Aratu, chegou a ser apreendida na Avenida Ayrton Senna, em São Paulo, contribuindo para intensificar as investigações no porto da Bahia.

A operação terá novos desdobramentos, ja que oito pessoas continuam foragidas. A PF agora busca meios para achar os receptores das cargas, e o que era feito com os materiais.

Os suspeitos presos na operação agora deverão ser interrogados pela corporação, e os envolvidos responderão por furto qualificado, participação em organização criminosa, falsidade ideológica, corrupção ativa, corrupção passiva, coação no curso do processo e homicídios de testemunhas que ameaçaram delatar a organização.


voltar