Para quebrar o silêncio contra a violência doméstica
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Agosto Lilás: no mês que marca o aniversário da Lei Maria da Penha o Vez & Voz trouxe o foco para a proteção da mulher

Não importa o nível de escolaridade, classe social, religião, se trabalha fora ou em casa. A violência doméstica não distingue nenhuma dessas características, e atinge mulheres (grande maioria), de todas as idades, nos mais diferentes lugares.

Uma em cada quatro mulheres sofreu violência doméstica ao longo da vida, de acordo com um estudo publicado no periódico científico The Lancet. A cada minuto, oito mulheres sofrem violência no Brasil, segundo informações do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

Como o Vez & Voz traz à luz assuntos que permeiam o universo feminino, e infelizmente a violência de gênero é um deles, no mês que compreende a Campanha Agosto Lilás, o movimento propôs uma reflexão e conscientização pelo fim da violência contra a mulher.

A primeira live promovida para abordar o tema foi ao ar no dia 11 de agosto, com a participação da delegada, Raquel Gallinati, da terapeuta integrativa, Thaís Santesi e com a mediação de Joyce Bessa, head de gestão estratégica, finanças & pessoas na TransJordano.

A segunda, aconteceu no dia 24, foi conduzida pela vice-coordenadora da comissão na entidade, Gislaine Zorzin, e teve participação de Ana Cristina de Souza, coordenadora municipal de políticas para Mulheres da cidade de São Paulo e de Gabriela Barsotti, psicóloga no SEST SENAT. As duas transmissões foram ao ar pelo canal no YouTube da TV SETCESP.

“Esse é um tema delicado, mas não pode ficar de fora das nossas discussões. A Lei Maria da Penha é um excelente instrumento jurídico, porém, ainda assistimos muitos casos de violência doméstica e alguns deles acabam até em feminicídio” lembrou Bessa.

Santesi, que além de terapeuta é também fundadora do Projeto Bastê, que presta apoio à mulheres que sofrem violência doméstica, explicou o porquê é difícil romper com um relacionamento abusivo. Ela mesmo foi vítima desse tipo de violência, e compartilhou sua experiência pessoal que a levou a fundar o projeto.

“Ele (o agressor) intercalava rompantes de agressividade, com momentos de carinho. Eu sofria de uma dissonância cognitiva porque, quem vive isso, não sabe ao certo o que está sofrendo: é o que chamamos de “desamparo aprendido” – seu cérebro entende que não existe saída, e que não há o que fazer”, contou.

Ela continuou explicando “eu comecei a estudar sobre esse tema para tentar entender o que era violência doméstica, porque ela não é só física, mas também emocional e financeira. E enfim consegui sair desse relacionamento abusivo”.

Segundo a coordenadora municipal de políticas para mulheres, a quebra do ciclo da violência, na maioria dos casos, só ocorre quando atinge também os filhos e destaca a romantização da violência. “A violência começa no ciúme exagerado do uso de uma roupa ou maquiagem, é primeiramente, feita de forma sútil, até virar uma manipulação e culminar nos momentos de humilhação e agressão física”, indicou.

“O grande desafio é deixar o medo e até a vergonha de lado e decidir buscar ajuda. Seja de uma amiga, da família, de profissionais, da polícia ou do poder público”, reiterou Zorzin que chamou a atenção para o desafio que é reconhecer quando estamos; ou alguém próximo está, em uma situação de violência. “Isso ocorre porque a sociedade em geral normaliza muito algumas situações, que não deveriam ser normais”, reconheceu.

As mulheres que sofrem de violência costumam dar sinais do que estão passando, que podem, inclusive, serem percebidos por quem está próximo, familiares, colegas de trabalho e gestores, informou a delegada.

“Mulheres que no trabalho ficam o tempo todo angustiadas, com comportamentos vigilantes, que dão desculpas para machucados, inventam história mirabolantes, estão apresentando indícios dessa violência. E se é um crime, quem está próximo tem que se meter sim, porque a sociedade não pode ser omissa”, declarou Gallinati.

 Ela destacou também que quando não há denúncia isso fortalece o agressor. “Estatísticas mostram que, em média, só após a sétima vez que sofre as agressões é que a vítima vai buscar ajuda”. Para delegada, a sociedade ainda erra muito, pois tende a julgar as vítimas, tanto de violência doméstica, quanto sexual. “Como se de alguma forma o crime pudesse ser justificado”.

Enquanto isso, a psicóloga do SEST SENAT apresentou que o perfil da vítima se identifica com um conformismo, a dependência emocional e a baixa autoestima, por sua vez, o do agressor é caracterizado por meio do autoritarismo, da impaciência e da intolerância.

 “Quando falamos do combate a violência, é sobre a preservação da vida. Pequenas amostras iniciais de desequilíbrio culminam com a vida ceifada. O Brasil é o quinto país em que mais se mata mulheres no mundo. Mulheres morrem aqui, única e exclusivamente, pelo fato de ser mulher”, lamentavelmente recordou Souza.

A prefeitura de São Paulo mantém uma rede de apoio e oferece políticas públicas para dar suporte e amparo às vítimas de violência doméstica.

Já o SEST SENAT conta com atendimento psicológico e clínico, presencial e online, além de realizar palestras para empresas de transporte com a intenção de fazer um trabalho preventivo de combate a violência.

“O trabalho não tem que ser feito apenas quando ocorre algum caso, mas também de forma preventiva. Exatamente da forma como estamos fazendo hoje, fortalecendo essa rede de apoio”, demostrou a psicóloga.


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