País produz menos, importação de diesel cresce 57% e é a maior desde 2013
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Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) apontam que a importação de diesel cresceu 57,2% em abril na comparação com março. Foram 1,4 milhão de metros cúbicos trazidos de fora, o maior valor para o mês desde 2013. Desse volume, 47,7% foram importados pela Petrobras.

O diesel é um insumo para vários produtos, já que abastece veículos e máquinas utilizados na produção de alimentos e no transporte de mercadorias. No caso das importações feitas por empresas privadas (52,3% do volume de abril), o valor do combustível tende a ser integralmente repassado. Como o diesel é negociado em dólar e o real está desvalorizado frente à moeda norte-americana, a oscilação no preço acaba se refletindo em vários outros produtos.

Segundo especialistas, o recorde no volume de diesel importado é sintoma de, no mínimo, dois fatores: o aumento da demanda, principalmente relacionado à safra agrícola; e a queda na produção nacional de diesel, capitaneada pela Petrobras.

Importação de diesel nos meses de abril, em metros cúbicos

2013: 1.437.765

2014: 619.644

2015: 486.567

2016: 591.296

2017: 802.638

2018: 1.158.593

2019: 1.027.490

2020: 997.146

2021: 1.402.437

Fonte: ANP.

Os números do mercado Os dados da ANP apontam que a produção interna de diesel caiu 5,5% em abril na comparação com março. As vendas do combustível também caíram no mesmo período (-7,5%).

Qual é o impacto para o consumidor?

De acordo com Rodrigo Leão, pesquisador do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e da UFBA (Universidade Federal da Bahia), o aumento das importações pela Petrobras não tem um impacto direto para o consumidor.

Isso porque, mesmo que a petroleira use os valores em dólar como parâmetro para o preço dos derivados que comercializa, a política da empresa tem uma defasagem em relação ao mercado internacional.

Já no caso das importadoras privadas pode, sim, haver um impacto mais significativo para o consumidor, pois elas tendem a repassar integralmente o valor que pagaram ao comprar o combustível. Em abril, o dólar estava ainda mais valorizado: a moeda norte-americana chegou a valer R$ 5,72 na metade do mês.

“Quando a compra de combustíveis ocorre por importadores privados, tende a ocorrer um aumento da oscilação de preços no mercado interno. O efeito nos preços internos dos derivados, a partir do aumento de importações, dependerá dessa dinâmica: quanto maior a parcela dos importadores privados, maior tende a ser a volatilidade.” Rodrigo Leão.

Por que a importação aumentou?

Milena Mansur, gerente de inteligência de mercado da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), explica que, historicamente, o mercado brasileiro de diesel é deficitário. Ou seja, a produção interna não supre a demanda.

“Nos últimos anos, um quarto de todo o diesel consumido no Brasil é importado. Falta diesel para atender o mercado brasileiro.” Milena Mansur.

Rosemarie Bröker Bone, coordenadora do Laboratório de Economia do Petróleo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), destaca que as refinarias brasileiras não têm capacidade para atender a toda a demanda e, além disso, não são usadas em sua capacidade máxima.

“As vendas de diesel vinham crescendo em janeiro, fevereiro e março. O mês de março foi o ponto alto, principalmente por causa da safra de soja. Como a nossa produção não casa com essa demanda, obrigatoriamente a gente teve que importar.” Rosemarie Bröker Bone.

Por que a Petrobras teve de aumentar as importações?

A fatia da Petrobras nas importações também cresceu de um mês para outro. Em março, segundo a ANP, 25,7% do diesel importado foi trazido pela Petrobras. Em abril, a fatia passou para 47,7%. Considerando os números absolutos, a importação por empresas privadas cresceu 10,6%, enquanto as da Petrobras quase triplicaram.

Procurada pelo UOL, a Petrobras afirmou que o aumento ocorreu por causa de “paradas programadas em unidades de refino”, que ocasionaram variações na produção. A empresa disse, ainda, que as paradas são parte do planejamento da companhia, e que nenhum dos compromissos comerciais assumidos pela empresa foi afetado.

Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), atribui o aumento nas importações a um processo de “desmonte da Petrobras”, com a venda de oito refinarias.

“O abastecimento do mercado interno ficará refém da estratégia das empresas que comprarem as refinarias. Elas podem, por exemplo, optar por exportar seus derivados. Isso tornaria o Brasil ainda mais dependente de importações de combustíveis, como o diesel.” Deyvid Bacelar.

De acordo com a Petrobras, a venda de refinarias “trará ganhos para os consumidores”, pois haverá maior concorrência – o que pode se refletir em preços menores. Hoje, 99% da atividade de refino no Brasil está nas mãos da Petrobras.

Isenção de PIS e Cofins contribuiu para o cenário?

Durante março e abril, o governo federal isentou o diesel de PIS e Cofins, na tentativa de diminuir o preço do combustível para os motoristas. A ação teve pouco efeito nas bombas, com redução de apenas R$ 0,03 (de R$ 4,23 para R$ 4,20 por litro). À época, o Ministério da Economia não comentou o pequeno impacto da medida.

Quando o imposto voltou a ser cobrado, em 1º de maio, o preço nos postos voltou a subir. O dado mais recente da ANP mostra que o litro de diesel teve preço médio de R$ 4,48 na semana do dia 23 de maio.

Segundo Fernanda Delgado, assessora estratégica e professora da FGV Energia, é pouco provável que a isenção tenha interferido no volume de diesel importado nesse período.

“A isenção do imposto teve um impacto muito pequeno. O país não consumiu mais diesel por isso. O aumento da importação ocorreu para manter o abastecimento nacional”. Fernanda Delgado.


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