Opinião: A voz do consumidor por um transporte mais sustentável
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Por Marli Olmos – Repórter especial do Valor Econômico e tem grande foco na indústria automobilística

Durante muito tempo, promessas e projetos cuja finalidade era reduzir os danos da atividade econômica ao meio ambiente pareciam nada mais do que conversa das empresas para fazer bonito nos relatórios de sustentabilidade. Mas a questão muda de figura quando grandes grupos empresariais começam a perceber que, daqui a algum tempo, o consumidor poderá boicotar os produtos de companhias que não se preocuparem com a causa ambiental. E, pior: qualquer descaso com a sustentabilidade pode até afastar investidores.

De uns tempos para cá, as multinacionais começaram a prestar mais atenção nos veículos que levam seus produtos até as gôndolas dos supermercados. E passaram a exigir das transportadoras o uso de caminhões “mais limpos”.

O movimento é mundial e começa a ter reflexos no Brasil. Como por aqui a infraestrutura ainda não permite a utilização de veículos elétricos em longas distâncias, a saída é buscar energias alternativas.

Há pouco mais de um ano, a Scania exibiu na Fenatran, principal feira do setor de transporte no Brasil, caminhões movidos a gás que possibilitam o uso do biometano — um biogás feito de resíduos de lixo ou agrícolas. Segundo o fabricante, esse combustível reduz 90% das emissões de dióxido de carbono.

Na própria feira começaram a surgir os primeiros interessados. Mas o volume de pedidos aumentou. Assim que retomou a atividade, após a paralisação imposta pela pandemia, a Scania teve de acelerar a produção para suprir as transportadores que atendem empresas como a americana PepsiCo, uma das maiores fabricantes de alimentos e bebidas do mundo, a francesa L’Oréal, líder global do segmento de beleza, a britânica Unilever, que reúne de alimentos a produtos de limpeza e de higiene pessoal, e a rede de supermercados francesa Carrefour.

As filiais desses grupos seguem regras estabelecidas pelas matrizes que, por sua vez, são pressionadas pelos governos de seus países e também pela sociedade.

O cenário mostra que países como o Brasil vão pegar carona num movimento por meio do qual a iniciativa privada força mudanças de comportamento. E isso passa pelo transporte dos produtos vendidos a consumidores cada vez mais alertas.

Nos países emergentes, esse movimento tende a ganhar uma velocidade muito maior do que eventuais iniciativas do poder público.

Mas, por outro lado, assim como consumidores pressionam as empresas, eleitores também podem escolher seus governantes com base nesses princípios. Há poucos dias, os norte-americanos elegeram Joe Biden para conduzir os Estados Unidos de um modo diferente de Donald Trump, que, entre outras decisões, retirou o país do acordo climático de Paris.


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