Atualmente, a priorização de investimentos em infraestrutura de transportes de carga no Brasil se dá pelas chamadas metodologias de análise unidimensional onde são avaliados, de forma dissociada, o custo de investimento de determinado projeto comparado a seus possíveis retornos monetários ou aos impactos ambientais que podem ser gerados.
Para oferecer mais embasamento para tomada de decisão por parte dos gestores públicos, um estudo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP, desenvolveu um modelo matemático que permite definir qual seria a melhor combinação de projetos em infraestrutura de transporte de carga para alcançar o melhor resultado conjugado para o sistema de transportes de determinada região. O modelo agrega outros itens de avaliação, não só monetários e não só ambientais, em uma única ferramenta de análise.
A dissertação “Proposta de modelo para priorização de investimentos em infraestrutura de transporte de cargas: abordagem multicritério para problemas de fluxos em rede” foi desenvolvida por Samir Kazan, no Programa de Pós-Graduação em Administração de Organizações da faculdade, sob orientação do professor Marcio Mattos Borges de Oliveira.
“O modelo proposto é apoiado em duas técnicas principais: pesquisa operacional e análise de decisão multicritério”, afirma o pesquisador Samir Kazan. O objetivo do modelo é, justamente, identificar quais projetos em infraestrutura de transporte de cargas devem ser implantados para resolver problemas associados aos sistemas de transportes, considerando o fluxo de produtos de uma região específica e restrições de recursos para implantação destes projetos.
O modelo leva em conta objetivos diversos e dá pesos diferentes para fatores como custo com frete, custo com investimento, tempo de viagem, nível de emissão de CO2, impacto em área de desmatamento e até o número de interseções dos projetos em análise com áreas de proteção ambiental.
O estudo incluiu também uma aplicação para indicar os projetos de investimento que deveriam ser priorizados para a região Norte do Brasil. Para isso, foram utilizados dados extraídos da base do Plano Nacional de Logística e Transportes. Os resultados obtidos indicam que o modelo se mostrou muito mais consistente do que uma análise unidimensional tradicional. “Identificamos que, potencialmente, a metodologia empregada é muito interessante para a solução deste tipo de problema”, afirmou Kazan.
Durante a etapa de aplicação foram testadas 20 versões do modelo matemático. Devido ao grande dimensionamento das versões do modelo aplicadas, foi necessária utilização de um software de resolução específico de alta capacidade. Em cada versão do modelo, foram utilizados cenários diferentes para a disponibilidade de recursos para implantação e para os pesos dos critérios de avaliação propostos, priorizando, por exemplo, o custo do frete em detrimento do tempo de viagem ou alterando a relevância dos impactos ambientais decorrentes da implantação dos projetos.
O modelo indica que os modais hidroviário e ferroviário são preferíveis para redução de custo com frete, nível de emissão de CO2 e área de desmatamento, enquanto o modal rodoviário traz melhores resultados em relação ao tempo de viagem. De modo geral, entretanto, o estudo aponta no sentido da redução da importância do transporte rodoviário na Região Norte. “Essa atual concentração no modal rodoviário diminui não necessariamente com a redução do fluxo de produtos pelo modal rodoviário, mas com o crescimento no volume transportado pelos demais modais”, explica o pesquisador.
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