Lojas começam a reabrir em São Paulo
Compartilhe

Comércio de rua e shoppings negociam com prefeitura e obtêm aval para operar antes do Dia dos Namorados

Após 83 dias de lojas fechadas, o comércio de rua da capital paulista reabre hoje. Ontem, lideranças do setor assinaram termo de compromisso na prefeitura para a retomada das atividades. Amanhã, os shoppings da cidade voltam a operar, após intensa interlocução do setor com o governo municipal.

O varejo perdeu R$ 18,2 bilhões em vendas na capital em quase três meses, calculou o Valor com base em dados da FecomercioSP. Isso equivale a 7% do faturamento previsto para 2020. As imobiliárias também reabrem hoje. Vinte sete entidades do comércio e do setor imobiliário assinaram o termo. Nos shoppings, esse documento será assinado hoje, às 17h30.

Os pontos de rua devem operar das 11h às 15h e os shoppings populares, das 6h às 10h. Os demais shoppings funcionarão das 16h às 20h. A retomada ocorre às vésperas do Dia dos Namorados, atendendo um pedido do comércio para tentar “aproveitar” a data. Segundo empresários do setor, até semana passada, a retomada estava prevista apenas para a segunda-feira. “Abrir agora foi uma forma de dar algum fôlego e não perder outra data de vendas do comércio. Mas só dá para reabrir porque os protocolos de reabertura são rígidos”, diz um diretor de uma entidade setorial.

Em algumas cidades de grande porte no Estado, como Campinas e São José dos Campos, a reabertura levou a aglomeração de clientes dentro e fora das lojas.

Apesar dessa definição de funcionamento por quatro horas, isso pode mudar logo. Mesmo antes de a prefeitura anunciar a retomada na noite de ontem, lojistas e shoppings já discutiam pela manhã como ampliar o horário de funcionamento de quatro para seis e até oito horas. O Valor apurou que Alshop, associação dos lojistas de shoppings, e Abrasce, que representa os empreendimentos, acreditam numa revisão desse período nos próximos dias.

O novo acerto para reabertura do varejo nesta semana foi costurado nas últimas horas com vereadores como Eduardo Tuma (PSDB), um dos interlocutores do setor mais próximos à prefeitura. “O Tuma quer manter quatro horas nessa semana, então eu vou entrar com grande argumento com ele, e brigar para ter mais tempo logo depois que o prefeito fizer o anúncio [da reabertura]. Aumentar horas será para evitar congestionamento de gente”, disse em áudio a associados Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação dos lojistas de shoppings.

Oficialmente, entidades como Alshop, Abrasce, FecomércioSP e Secsp, sindicato dos comerciários, negam pressão para a retomada e falam em “negociação sadia” com interlocutores do governo.

A intenção dos shoppings também é passar para a fase amarela do plano de flexibilização em São Paulo. Atualmente, eles estão na fase vermelha, sem autorização de funcionamento. A seguir, vem a laranja que permite operar por 4 horas e a 20% da capacidade de atendimento de pessoas definida em alvará. A fase amarela eleva o período para seis horas e a 40% a capacidade.

Se conseguir ir para a fase amarela, o setor terá ficado, na prática, apenas poucos dias na fase laranja, mais restritiva. “Isso ainda não está decidido. O ideal sempre é uma reabertura gradual, responsável e segura”, diz um vereador ligado à base do prefeito Bruno Covas.

Nas últimos semanas, líderes do comércio têm sido questionados pelo risco de aumento do contágio nas áreas dos shoppings reabertos, e as entidades têm dito que foram definidos protocolos de higienização e controle de acesso nos locais.

Dados da Abrasce mostram que o país tinha ontem 298 empreendimentos reabertos, 52% do total de 577. Os shoppings da capital devem reabrir num momento em que o índice de mortalidade no estado paulista está em 6,4%, acima da média do país (5,3%).

A cidade lidera o número de pessoas contaminadas no país e registra crescimento diário de casos e de mortes. Ao menos 4.985 morreram e 82.170 estão contaminadas, segundo a prefeitura. Há 221.004 casos suspeitos. A taxa de ocupação de UTIs é de 64%. A prefeitura informa que a reabertura considera diversas variáveis que permitem a retomada gradual, como queda no uso das UTIs.

Sobre os controles após as reaberturas, seis grupos de shoppings consultados (Ancar, Aliansce Sonae, BRMalls, JHSF, Iguatemi e Multiplan) mencionam “protocolo rigoroso de higienização”. Porém, há medidas mais simples e outras mais complexas para serem seguidas, e que fazem parte do conjunto de normas que a prefeitura precisa fiscalizar.

Entre as mais simples estão disposição de álcool em gel nas áreas dos shoppings, limpeza mais frequente da área interna, aumento na distância de mesas em praças de alimentação, desativação de bebedouros e carrinhos de bebê. Mas há ações de difícil controle ou que exigem investimentos, como sistemas de limitação de vagas em estacionamentos e a aferição de temperatura de clientes. (Colaboraram Anaïs Fernandes e Cristiane Agostine)

Leia a Portaria completa aqui


voltar