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23 de Agosto de 2018 – 14h54 horas / DCI

A recuperação da atividade industrial brasileira vai levar mais tempo do que o esperado, em um cenário de forte incerteza política e de aumento de custos resultante principalmente do tabelamento do frete, avalia a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

 

“O resultado de julho foi mais forte se comparado ao do ano passado. Porém, o que se desenha como cenário é uma recuperação mais lenta do que o previsto”, avalia o economista da CNI, Marcelo Azevedo. De acordo com a entidade, o índice de evolução da produção de julho registrou 52,2 pontos, acima da linha divisória de 50 pontos, o que mostra um aumento da atividade industrial na comparação com junho.

 

O aumento da produção reflete o incremento da utilização da capacidade instalada da indústria, que alcançou 68% em julho. O resultado é o melhor para o mês nos últimos quatro anos, entretanto, é inferior à média de 72% alcançada no período anterior à crise econômica, até 2014.

 

Nos últimos quatro anos, a média foi de 66%. “É uma retomada, mas há um espaço muito grande até voltar à normalidade pré-crise”, diz.

 

Na avaliação do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, é preciso levar em conta que ocorreu uma queda significativa no resultado do mês passado em razão da greve dos caminhoneiros. “Ainda não sabemos o quanto disso é uma recuperação estrutural e o quanto é reposição de estoques para compensar a greve”, pontua.

 

Segundo a CNI, o índice de nível de estoque efetivo em relação ao planejado passou de 50,4 pontos, em junho, para 50,8 pontos em julho, o que indica um leve acúmulo de estoques. “Mesmo considerando que o nível de consumo esteja abaixo do habitual, a greve reduziu os estoques, exigindo a reposição e gerando o crescimento”, afirma Rochlin.

 

Projeções

No começo do ano, a CNI projetou um crescimento de 3% do PIB da indústria e recentemente revisou a previsão para uma alta de apenas 1,8%. “Com poucos meses pela frente, temos que moderar as nossas expectativas em relação ao desempenho do setor. Se o PIB [industrial] crescer acima de 2% já será muito”, avalia o professor da FGV.

 

Rochlin salienta que a liberação de valores do fundo do PIS/Pasep pelo governo federal a partir de agosto, que deve injetar R$ 39,5 bilhões na economia, pode impulsionar a produção e o consumo, e ter um efeito parecido com a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

 

Azevedo, da CNI, explica que há um elevado nível de incerteza causado pelo cenário eleitoral, o que favorece uma retomada mais lenta da indústria. “Essa insegurança é terrível para investimentos. Existe uma intenção nesse sentido, porém modesta”, avalia. O índice de intenção de investimentos da CNI atingiu 51 pontos em agosto, alta de 1,6 ponto em relação a julho.

 

Ele também pondera que, em dezembro, quando a expectativa de retomada era maior, havia uma expectativa em relação às reformas, que não foram levadas adiante.

 

Além disso, o economista destacou que a greve dos caminhoneiros deixou um impacto mais duradouro do que as perdas registradas em maio. “O tabelamento mínimo do frete gerou incertezas e aumento de custos das indústrias”, destaca Azevedo.

 

Ontem, a CNI reuniu economistas e representantes de diferentes setores em Brasília para avaliar os impactos dos preços mínimos dos fretes.

 

Na próxima segunda-feira (27), uma audiência pública está prevista no Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir a medida. “O tabelamento do frete é inegavelmente inconstitucional”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, durante o evento.


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