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08 de Junho de 2016 – 04h55 horas / G1

O trecho de 30 quilômetros ainda não pavimentado BR-285, na Serra da Rocinha, não causa apenas transtornos para os motoristas que trafegam pela estrada. Considerado o caminho mais curto entre o Norte do Rio Grande do Sul e a região de Araranguá, no Sul catarinense, o trecho também gera prejuízos para a economia dos dois estados, como mostrou a segunda reportagem da série sobre a rodovia, exibida na terça-feira (7).

 

De acordo com a reportagem, os prejuízos com a falta de pavimentação chegam a quase R$ 150 milhões por ano.

 

Do total da produção de arroz do Sul de Santa Catarina, 30% segue para o Norte do Rio Grande do Sul. Pela Serra da Rocinha, a viagem seria encurtada em 150 quilômetros. Para fugir das condições precárias do trecho, porém, motoristas acabam percorrendo centenas de quilômetros a mais – o que representa um custo extra de R$ 3 milhões por ano.

 

Da cidade catarinense de Jacinto Machado até a gaúcha Passo Fundo, são 509 quilômetros pela BR-386. Pela BR-285, seriam 355 quilômetros.

 

Escoamento da produção

 

Outros setores também são afetados pela situação atual da estrada. “A questão do turismo, a questão do fluxo da madeira, a questão do fluxo da maçã, os produtores da nossa região percorrem hoje muitos quilômetros a mais para levarem seus produtos para Santa Catarina. A conclusão da Serra é fundamental para nossas cidades”, diz Jaziel de Aguiar Pereira, presidente da Câmara da cidade gaúcha de Bom Jesus.

 

O setor madeireiro é um dos que têm mais prejuízos. Caminhões carregados de madeira não têm como fugir das curvas perigosas e dos buracos da serra da rocinha. Pelo menos 40 caminhões fazem um sobe-e-desce todos os dias.

 

Custos maiores

 

Um frete de um caminhão carregado com 33 toneladas de madeira que percorre 76 km custa em média R$ 1,3 mil. Para fazer o mesmo trajeto em estrada asfaltada, o frete custa R$ 250.


Há ainda os prejuízos com a manutenção dos caminhões, pneus, combustível. Para o madeireiro Marconi Fascin, esse gasto chega a R$ 30 mil por mês. "Teria que rodar 150 mil km com a mesma banda de pneu, hoje a gente faz de 25 a 30 mil”, calcula.

 

Como mostrou a reportagem, se a Serra da Rocinha estivesse pavimentada, poderia escoar pelo porto de Imbituba a produção de grãos do Rio Grande do Sul, estimada em 3 milhões de toneladas por safra. Isso faria o faturamento do porto crescer em R$ 10 milhões. No ano passado, o terminal operou só a metade da capacidade.

 

A ordem de serviço no valor de R$ 95 milhões foi assinada em outubro de 2013, mas a obra não começou. As construtoras chegaram a ser contratadas, como mostra uma placa que tem até o licenciamento ambiental. A RBS TV fez contato com as três empresas e elas afirmaram que a obra parou porque elas deixaram de receber.

 

A reportagem da RBS TV procurou a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina. A assessoria de imprensa informou que a obra não andou porque não veio dinheiro do governo federal e que não há qualquer previsão.

 

Na segunda-feira (06), começou a manutenção da rodovia pela empresa contratada pelo Dnit. O órgão disse que o contrato de mais de R$ 3,5 milhões demorou para ser assinado por questões ambientais.

 

Corrente nos pneus

 

Enquanto a pavimentação não sai do papel, quem precisa passar pela rodovia enfrenta dificuldades para chegar ao destino. "Já tive que botar corrente [nos pneus] para subir. A estrada é sempre ruim mesmo, péssima. A gente passa muito trabalho aqui", conta o motorista José Genérsio da Silva.

 

A pista é estreita e o mato dificulta a visão, como mostrou a reportagem. Buracos e pedras que deixam muita gente pelo caminho. É o caso de Cássio Donadel, que faz o percurso todos os dias e já perdeu as contas de quantas vezes seu caminhão quebrou.

 

O galpão onde seria montado o alojamento para os funcionários o consório que venceu a licitação para a pavimentação do trecho está abandonado, como mostrou a reportagem. No lugar onde funcionaria o canteiro de obras nada foi começado.

 

BR-285

 

A Serra da Rocinha faz parte da BR-285, que começa em São Borja, no Rio Grande do Sul e vai até a BR 101 em Araranguá. São 740 km que cortam 33 cidades. No Rio Grande do Sul, o trecho de 41 quilômetros entre Bom Jesus e São José dos Ausentes está pavimentado desde 2010.

 

Clique aqui para assistir a reportagem


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