Para representantes de instituições ligadas à preservação do centro e urbanistas, a presença dos caminhões atrapalha a visibilidade dos bens históricos. Já os comerciantes e funcionários de carga e descarga dizem que sem estacionamento eles não têm como transportar mercadoria e abastecer o comércio.
“O largo está sendo todo recuperado e no meio dele fica um ponto de carga, que suja e perturba o local”, avalia o superintendente geral da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida. Segundo ele, é importante preservar o potencial turístico da área. “É um dos pontos mais emblemáticos do centro histórico de São Paulo”, afirma.
Placa indica a permissão de estacionamento para carga e descarga. O estacionamento para caminhões e caminhonetes no local, chamado de Zona Marrom, possui cerca de 12 vagas. É permitido estacionar no local de segunda à sexta-feira, das 7h às 19h e, aos sábados, das 7h às 13h. Procurada pelo G1, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) disse que não há planos para retirar o estacionamento da área, apesar da pressão das entidades.
Para o presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, Paulo Henrique Rodrigues, o estacionamento atrapalha a visibilidade dos prédios históricos e de toda a região, além de ficar em frente a uma praça e impedir que o local componha o ambiente junto com a faculdade e a Igreja de São Francisco. Para Rodrigues, o serviço de carga deveria ficar restrito ao período noturno, para não afetar a paisagem durante o dia.
“Se o turista vai do outro lado da rua, não consegue fazer foto [dos prédios] porque tem caminhões ali”, diz o diretor da Companhia de Restauro – que trabalha com a recuperação de bens históricos a artísticos – Franciso Zorzete. Segundo ele, do jeito que está organizado o largo, não há espaço para a contemplação do patrimônio tombado.
De acordo com os trabalhadores de carga e descarga, a área é vital para abastecer as lojas do centro. “Querem atrapalhar nosso trabalho para o povo poder fazer foto”, reclama o ajudante de carga José Vieira Dias, de 35 anos. Para o comerciante João Hélio dos Santos, de 56 anos, que tem uma quitanda na Rua Senador Feijó, se acabarem com o estacionamento no largo, o centro ficará sem abastecimento. “Não tem outro local. A opção seria o Parque D. Pedro II, que é muito longe”, afirma.
O entregador Leonardo Aoki, de 25 anos, diz ficaria muito caro pagar estacionamento privado. “O cartão de Zona Marrom aqui custa R$ 1,80. Se fosse pagar um estacionamento seria de R$ 5 a R$ 9 a hora”, diz.
Para especialistas consultados pelo G1, é importante garantir a preservação e a visibilidade do patrimônio histórico sem prejudicar os comerciantes. A urbanista Nádia Somek, diretora da Faculdade de Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que o estacionamento no largo atrapalha os bens históricos, mas antes de removê-lo do local é preciso pensar num apoio logístico para o serviço de carga e descarga no centro.
Segundo a urbanista especialista em transporte urbano Silvana Zioni, é legítima a preocupação estética com o patrimônio tombado, mas também é preciso oferecer uma alternativa para o transporte de cargas. “Há áreas próximas para onde eles poderiam ser levados. Também é necessário criar mais vagas de Zona Marrom. O serviço tem de estar perto [dos comerciantes] para atender às necessidades”, afirma.
De acordo com ela, uma alternativa seria os transportadores pagarem locais privados para deixar os veículos e repassarem o custo para o comerciante. Para isso, os estacionamentos teriam de reservar vagas para vans e caminhões, o que não é comum, pois os estacionamentos dão preferência aos carros, que são menores e ocupam menos espaço.
Zorzete, da Companhia de Restauro, também é a favor de um projeto que contemple a paisagem, os pedestres e a necessidade dos comerciantes sem atrapalhar nenhum dos lados.
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