Compartilhe
09 de Março de 2015 – 05h20 horas / G1

O aumento da porcentagem de etanol na gasolina comum e na aditivada, de 25% para 27% a partir de 16 de março, anunciado nesta quarta-feira (4), não fará diferença para carros equipados com motor flex, que representaram 88% dos veículos novos licenciados em 2014.

Para os equipados com motor a gasolina, caso de muitos importados, o aumento de 2 pontos percentuais também não deverá trazer grandes impactos, dizem especialistas ouvidos pelo G1. Porém, conforme o nível aumenta, podem aparecer problemas de corrosão, falha na bomba de combustível e aumento do consumo, especialmente em modelos mais antigos, sem injeção eletrônica.

Gasolina premium não muda

A associação dos fabricantes de automóveis (Anfavea) recomenda que os carros a gasolina utilizem a "gasolina premium", cujo percentual de etanol não será alterado por enquanto.

O governo federal aceitou não mexer na mistura desse tipo de combustível por ora, a pedido das montadoras.

Segundo a Anfavea, testes feitos pela Petrobras apontam que não há efeito da nova mistura na performance dos veículos. Porém, ainda conforme a entidade, não existem testes conclusivos sobre a durabilidade dos motores que usam somente gasolina. Essa avaliação está sendo conduzida pela associação e deve ser concluída no fim do mês.

Mais cara, a "gasolina premium" chega a custar R$ 4 por litro. A diferença entre ela e a aditivada está na octanagem, medida de resistência da gasolina à queima espontânea que ocorre dentro da câmara de combustão do motor. A premium, com maior octanagem e ajudam a melhorar a eficiência de motores que operam com maiores taxas de compressão.

“A decisão de manter a gasolina premium inalterada se deve à não conclusão dos testes de durabilidade e, portanto, a Anfavea recomenda que os veículos com motor movidos a gasolina utilizem a premium”, afirmou a entidade.

Maior percentual já usado

Desde 2003, quando foi lançado o primeiro veículo flex no Brasil, a porcentagem obrigatória de etanol na gasolina variou de 20% a 25%, conforme a oferta e escassez do combustível renovável. É primeira vez que o valor subirá acima deste nível, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP).

A agência autorizou a Petrobras a fazer testes com 27,5% de etanol na gasolina no final de 2014, a fim de avaliar a viabilidade técnica da mudança. Anteriormente, a previsão era de aumento para 27,5%, mas os instrumentos de verificação de qualidade existentes nos postos de combustíveis têm limitações para medição fracionada.

Procurada pelo G1, a ANP afirmou que “a questão sobre o aumento do teor de etanol na gasolina está sendo conduzida diretamente pelo Ministério de Minas e Energia, com os testes de viabilidade sendo realizados pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e a Anfavea".

A Petrobras também disse que só o ministério poderá se pronunciar, mas não respondeu às solicitações.

Efeito dos 27% é mínimo, dizem especialistas

Mesmo os propulsores desenvolvidos exclusivamente para gasolina são adaptados pelas fabricantes ao mercado brasileiro, por causa da mistura.

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, o aumento de 2 pontos percentuais não trará maiores impactos, mas, conforme o nível aumenta, é possível que apareçam problemas de corrosão, falha na bomba de combustível e aumento do consumo.
“O downsizing (diminuição dos tamanhos dos motores para melhorar a eficiência) já obrigou o uso de materiais de maior qualidade para suportar maior potência, e também o álcool. Estima-se que uma mistura de até 30% de etanol não deve causar problemas de durabilidade”, afirmou o engenheiro automotivo Marcus Romaro.

“O impacto é pequeno nesse caso, pois o aumento foi baixo. Os efeitos de 25% ou 27% de etanol na gasolina são muito parecidos”, reforça Denis Marum, engenheiro e colunista do G1.

Corrosão

“Os modelos a gasolina que não estiverem adaptados ao etanol vão sofrer basicamente o mesmo que já sofriam. A longo prazo, componentes como bomba de combustível e marcador podem ser comprometidos, mas não é possível generalizar", diz Marum.

“O etanol é mais corrosivo, e a gasolina é mais lubrificante", explica Romaro.
Carros mais antigos, principalmente os que usam carburador, e não injeção eletrônica, para alimentar o motor com combustível, estão mais suscetíveis ao desgaste químico em contato com o etanol, segundo o engenheiro. “O material não é preparado. Pode afetar desde o tanque de combustível e até o motor e escapamento."

Carros flex

Os motores bicombustíveis dominam o mercado brasileiro e estão chegando ao segmento de luxo também. Neles, a adaptação ao etanol é maior.
“Nos carros flex, mais novos, a capacidade de resposta dos sensores ao tipo de mistura é muito rápida e o motor se adapta. Além disso, os componentes já estão preparados para suportar o etanol”, explicou Marum.

Consumo pode aumentar?

O álcool precisa de maior compressão do cilindro na câmara de combustão. Por isso, se  colocar etanol em um motor a gasolina, ele trabalhará “folgado”, ou seja, pode sobrar combustível sem queimar ou contribuir para o movimento do veículo.

“O motorista nem vai perceber, mas vai acelerar mais para ter o mesmo rendimento de antes, e, com isso, pode aumentar o consumo”, explica Romaro.

Questionado se uma mudança de percentual do etanol na gasolina poderia invalidar os índices de consumo e eficiência energética dos modelos 2015, o Inmetro informou que "o aumento está dento dos níveis de tolerância previstos no regulamento do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular".

O aumento de 2 pontos percentuais também não altera o cálculo para saber se vale mais a pena abastecer com etanol ou com gasolina, diz o engenheiro Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil. "Continua valendo a regra anterior", afirma.

Como a autonomia do veículo com álcool é, em média 30% menor, para ser vantajosa a sua utilização, o preço do litro também precisa ser 30% menor. Para fazer o cálculo, basta dividir o valor do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado for menor que 0,7, compensa abastecer com álcool. Caso contrário, vale optar pela gasolina.

Não fica mais barata

O governo confirmou que o aumento da mistura não terá impacto sobre os preços finais do combustível, ou seja, não vai aliviar a alta dos impostos repassada ao consumidor desde 1º de fevereiro.

De acordo com o Sindicato do Comércio de Derivados de Petróleo de São Paulo (Sindipetro-SP), a medida resultaria numa redução em torno de R$ 0,001 sobre o preço do litro da gasolina.


voltar

SETCESP
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.