Apesar de o preço internacional do barril de petróleo ter recuado das máximas próximas ao nível de US$ 140 – cotação atingida após início da guerra na Ucrânia em 25 fevereiro -, o óleo diesel continua em alta no mundo. Essa situação amplia a pressão sobre a Petrobras para que reajuste nas refinarias os preços do derivado, essencial ao transporte de cargas no país. Segundo fontes, a estatal pode anunciar aumentos de preços “a qualquer momento”.
O barril de petróleo tipo Brent, principal referência internacional para a commodity, encerrou abril a US$ 107,14. A média mensal do preço foi de US$ 105,15 o barril, patamar 62% acima de igual mês em 2021. Ao todo, os preços do Brent subiram 38,5% nos quatro primeiros meses deste ano.
A referência americana para o barril de petróleo, o WTI, fechou abril a US$ 102,94. Analistas dizem que a guerra é o principal fator que mantém os preços em patamares altos. Entretanto, a liberação de reservas pelos Estados Unidos ajudou a aliviar os preços. “A liberação das reservas cria um ‘colchão’, que serve para limitar as variações de preços”,diz a chefe de análises integradas da S&P Global Commodity Insights, Jennifer Van Dinter.
Um fator que influenciou o barril em abril foram as medidas da China para lidar com a covid-19, o que incluiu novas restrições à mobilidade. A incerteza sobre a demanda do país asiático pressionou o petróleo para baixo. “Os lockdowns na China que levaram a congestionamento nos portos globais, assim como o aumento do dólar, são fatores que surgiram em abril e vão ter impacto nos próximos meses”, diz o analista sênior de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle.
Em maio, a tendência é que os preços sigam voláteis. Van Dinter diz que sanções ao fornecimento de energia da Rússia podem levar a novos aumentos de preços, mas, por outro lado, a inflação pode reduzir o consumo. A coordenadora do Laboratório de Economia do Petróleo da Escola Politécnica da UFRJ, Rosemarie Bone, diz que as economias chinesa, americana e russa estão ditando os preços do barril no mercado internacional: “A economia reage mais lentamente do que as commodities, porque os contratos são futuros. Mesmo se o barril cair, a inflação vai levar mais tempo para desacelerar.”
No mercado internacional, há um descolamento do diesel em relação ao petróleo. O consultor em gerenciamento de riscos da Stonex, Pedro Shinzato, afirma que os altos preços do gás levaram a Europa a substituir combustíveis na geração de energia, o que contribui para a alta do diesel. “Há gargalos logísticos, que estão elevando os preços do frete, e impactam na disponibilidade de navios para transporte de derivados”, diz o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo.
Com isso, os preços no Brasil estão defasados em relação ao exterior. De acordo com os cálculos da XP Investimentos, o diesel vendido pela Petrobras, por R$ 4,51 o litro em média, está 53% abaixo do mercado internacional. Nas estimativas da Abicom, o diesel da Petrobras precisa de um aumento médio de R$ 1,71 por litro para chegar ao preço de paridade internacional (PPI), pois está defasado em 27%, na cotação de sexta-feira.
Importadoras menores não estão realizando operações no país, pois não conseguem competir com os preços da Petrobras. As refinarias nacionais produzem cerca de 80% do diesel consumido no Brasil, e o restante depende de importação, o que está sendo feito pelas grandes distribuidoras.
Nos cálculos da Stonex, o diesel vendido pela Petrobras está 20%, em média, abaixo do PPI, mas, segundo Shinzato, os preços internacionais estão sendo repassados aos clientes por importadores privados. “Norte e Nordeste dependem mais da importação, pois têm menos refinarias. Os preços de combustíveis nessas regiões estão elevados, próximos aos internacionais”, afirma.
Especialistas apontam que a defasagem no diesel está próxima à observada quando ocorreram os últimos reajustes. Para a economista da XP, Tatiana Nogueira, é possível que o próximo aumento de preços da estatal não seja suficiente para extinguir a defasagem. “A Petrobras pode deixar parte da margem na mesa e segurar um pouco o reajuste, até para ver se o diesel vai reagir à recente queda nos preços do petróleo”, afirma.
No caso da gasolina, segundo a Abicom, a defasagem é de 11%, precisando de alta de R$ 0,45 o litro. A Ativa Investimentos calcula diferença de 14%, mas a StoneX estima que a gasolina está em linha com o PPI. O último reajuste da Petrobras foi em 11 de março – estopim que levou à demissão do CEO da estatal, Joaquim Silva e Luna, pelo presidente Jair Bolsonaro. Desde então, a estatal alterou apenas o GLP, reduzido em abril. Na sexta-feira, foi anunciado o reajuste trimestral dos contratos de gás natural, com um aumento de 19%. Há duas semanas José Mauro Coelho assumiu como novo CEO.
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