Crise segura a venda de caminhões
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28 de Outubro de 2008 – 10h00 horas / Valor Econômico
No início do ano, quando decidiu investir cerca de R$ 15 milhões na renovação de sua frota, Oswaldo Castro Júnior, diretor-geral da transportadora Expresso Araçatuba, encontrou dificuldades para fazer os pedidos, pois as filas de espera eram de seis meses ou mais. Com 100% de financiamento via BNDES e a perspectiva de um cenário econômico estável, Castro encomendou 150 unidades. O executivo não contava, porém, com as mudanças nas condições de financiamento, em vigor desde o fim de julho, que reduziram o crédito coberto pelo banco.
A parte coberta pelo Finame, linha de crédito do BNDES, caiu para 80%, o que alterou a forma de pagamento das últimas 10 unidades da encomenda. “Perdi as condições porque os veículos seriam entregues em outubro“, contou, ao informar que apesar das mudanças manteve os pedidos.
As mudanças nas regras do Finame ocorreram antes do início da crise provocada pelo aperto no crédito. Mas no cenário atual tornam ainda pior uma situação, que se agrava a cada dia não apenas por conta das dificuldades para o financiar os caminhões como também pela queda da atividade dos transportadores.
A Vocal, maior concessionária Volvo do país, decidiu facilitar os 20% do valor do caminhão que o comprador tem de bancar de acordo com as novas regras do Finame. “Dividimos essa entrada em até 12 vezes, com taxas bem baixas, com a ajuda do Banco Volvo“, afirma o superintendente Claudio Zattar.
O BNDES, por sua vez, diz que a redução de 100% para 80% no valor financiado para grandes empresas foi motivada por uma revisão da política do banco. Em relação aos juros, a instituição informa que para as grandes empresas a taxa passou de 2,3% para 1,4% ao ano, mais o spread de risco. No caso das pequenas e médias, o juro caiu de 1% para 0,9%.
Ao contrário da Europa, onde as vendas de caminhões simplesmente pararam, o Brasil vive uma situação antagônica. De um lado, o aperto do crédito atrapalha. Mas, por outro, há ainda uma grande necessidade de veículos para o transporte de carga, principalmente por conta do dinamismo em alguns setores, como obras de infra-estrutura.
As filas diminuíram, mas persistem. Na Vocal, a espera pelos modelos extra pesados caiu de oito para cinco meses. Isso significa negócios garantidos até março. Mas o que preocupa os executivos das concessionárias é ver os clientes mais cautelosos. Isso significa que a retração só vai mesmo ser percebida daqui a dois ou três meses.
O gerente comercial da Apta, grupo com revendas de caminhões Volkswagen em São Bernardo do Campo e São Vicente (SP), Antonio Pascoal Parames, diz estar preocupado com as perspectivas de grandes clientes, como os frigoríficos, que já enfrentam queda nas exportações de carnes para grandes mercados.
“Fizemos uma reunião com diversos transportadores e todos foram unânimes ao afirmar que precisam de caminhões“, afirma Parames. Mas as restrições no crédito é que preocupam. O diretor geral do grupo Rodobens, maior revendedor da marca Mercedes-Benz no Brasil, Pedro Santos, aponta a restrição no CDC e o aumento na taxa de spread como “um pouco de restrição“ a uma demanda que continua alta. “O transporte continua com demanda“, afirma.
Entre os veículos, o caminhão, de fato, parece ser o último a sentir os efeitos do aperto no crédito. De acordo com os dados da primeira quinzena de outubro divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o emplacamento de caminhões foi o que registrou menor desaceleração, de 1,5%, na comparação com o mesmo período do mês anterior. Já o de motos demonstrou ser o mais sensível às restrições de crédito, com queda de 15,8%. Os licenciamentos de automóveis recuaram 7,48%.
Na semana passada, a Scania anunciou que está reprogramando a produção das três fábricas européias para ajustar as linhas à uma queda de 29% nas encomendas mundiais da marca registradas de janeiro a setembro. Na Europa Ocidental, a retração chegou a 51%. Por outro lado, no mesmo período, o número de pedidos cresceu 29% na América Latina, região abastecida pela fábrica brasileira. Todas as montadoras aguardam os impactos que a crise possa ter provocado no mercado para se pronunciarem.

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