Descubra o que sua empresa pode fazer para evitar que o trabalho leve ao esgotamento, doenças e síndromes
Segundo uma pesquisa desenvolvida pela organização The School of Life em parceria com a consultoria Robert Half, atualmente, cerca de 20% dos colaboradores brasileiros tomam algum tipo de medicação ‘farmopsicológica’ – usadas para tratar questões de saúde mental.
Ao relacionar trabalho e saúde, vemos algumas mudanças ao longo tempo, que interferiram diretamente na organização das atividades laborais. Se pararmos para pensar, há 20, 30 anos o serviço estava delimitado a um único espaço: o escritório, o estabelecimento, a fábrica.
Nos anos 2000, se o chefe quisesse mandar um aviso para o subordinado, após o fim do expediente, ele muito provavelmente mandaria um e-mail, que apenas seria conferido no outro dia. Mas com o avanço da tecnologia, o celular nos conecta 24h, com a família, amigos e se não limitado, com o trabalho.
“Os avisos de novas notificações chegam até nós e, bate a curiosidade de checar o que é, na mesma hora”, relata Micael Vital, psicólogo organizacional e especialista em saúde mental e desenvolvimento humano.
Ele lembra que no passado o espaço delimitava a nossa jornada de expediente, fora do ambiente de trabalho não tínhamos como interferir no que estava acontecendo. “Para consultar um documento precisava estar no escritório, abrir os armários e procurar o arquivo em questão. Agora, é só acessar pelo celular. Então, o que ocorre hoje, é que gente acaba se perdendo nisso, o que impacta em nossa vida cotidiana”, diz.
O especialista destaca que o trabalho tem um significado positivo importante para o ser humano, seja qual for a profissão, é uma construção social nossa como indivíduos e é uma parte cultural que nos pertence. Só que há um limite que separa o papel positivo do trabalho e aquele que exerce uma influência negativa e que nos faz adoecer. Isso ocorre quando as atividades de serviço começam a sair muito daquele ambiente profissional e ocupam outros espaços e momentos da vida.
“E isso não é apenas quando somos demandados, mas quando o trabalho fica em nossos pensamentos. Pode ocorrer por conta de uma chefia despreparada ou surgir de um processo de autocobrança, no qual o profissional se preocupa com uma demanda, a ponto de ficar pensando 100% no trabalho, e acaba por não ter um momento real de descanso”, fala Vital.
Durante um tempo aquele colaborador extremamente proativo, que se doava incondicionalmente por causa da empresa foi superestimado, mas atualmente, segundo o especialista sabe-se que tal postura não vale a saúde de ninguém e pode levar ao agravamento do bem-estar, o que lá na frente não será nem bom para colaborador e nem para organização.
“Quando tiramos a atenção do espaço familiar, afetivo e social a gente percebe um adoecimento porque apesar do trabalho ser positivo, se ele for o único lugar em que estamos empregando energia pode ser também prejudicial”, diz o psicólogo.
Entre as doenças que mais têm sido relacionadas ao trabalho está o burnout que é o esgotamento provocado por uma rotina exaustiva, cobranças em excesso ou ambiente tóxico, inclusive, está atrelado ao assédio. Também existem as crises de ansiedade e de pânico e a depressão, sem contar outras que interferem no metabolismo, como o estresse que contribui para a insônia, aumento da pressão arterial e diabetes.
Para não chegar a esse extremo, as empresas podem tomar algumas medidas, como, por exemplo, limitar o acesso de sua rede fora do horário de expediente e optar que os colaboradores sejam acionados pelo WhatsApp Business ao invés do telefone pessoal, configurando mensagens automáticas, que avisem quando o funcionário estiver fora do horário de serviço. “Se o caso for muito urgente, pode haver uma ligação, a gente sabe que acontecem exceções, mas que sejam realmente exceções e não se tornem um hábito”, recomenda o especialista.
Agora, a principal forma da instituição demonstrar que se preocupa com a saúde e bem-estar de seus colaboradores, começa quando tal postura faz parte de seus valores como organização.
“É importante estar definido desde o início o que é aceitável e inaceitável dentro da empresa. Se isso não tiver muito bem desenhado fica vago e difícil de se construir políticas de interações entre colaboradores, fornecedores e clientes”, avisa o psicólogo.
Contudo, ele indica que é fundamental essa sensibilização por parte da alta liderança. “Conscientizar é importante, fazer campanhas é muito bem-vindo, mas acima de tudo a alta liderança tem que acreditar nisso para fazer valer. Se não, será aquela empresa que tem um discurso muito bonito, mas que, na prática, é incoerente”, afirma.
Vital comenta que repercute bastante na internet empresas que dão vários benefícios e mimos aos seus funcionários, como salas de jogos, cafés, snacks à vontade, mas que na realidade trabalham com pressão excessiva e metas inatingíveis. Depois de desligados, os ex-funcionários fazem essa exposição desconstruindo a imagem de empresa inovadora para um lugar de ambiente tóxico.
“Não adianta fazer campanha do Setembro Amarelo, sendo que, na realidade a empresa é uma das causas do adoecimento do colaborador”. Sobretudo, o psicólogo lembra que a empresa não precisa necessariamente dar presentes, colar cartazes falando que a vida do funcionário importa, mas demostrar isso de fato. “E isso é feito com respeito ao trabalho durante a jornada, coisa que para a empresa não representa custo nenhum algum”, indica o especialista.
Fique por dentro!
5 fatores principais que impactam negativamente na saúde mental dos profissionais:
- 1º cultura de trabalho tóxica
- 2º liderança despreparada
- 3º medo de ser demitido
- 4º aumento da carga de trabalho
- 5º falta de oportunidades de crescimento
Fonte: Dados da pesquisa divulgada pela plataforma de contratação Monster, em 2023, sobre saúde mental no ambiente de trabalho.
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