Como empresas, poder público e a tecnologia podem contribuir para o crescimento da participação feminina no setor
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3º Fórum de Mulheres no Transporte e Logística é realizado na Fenatran

Na pauta de discussões dessa vez, não estavam lançamentos, mostra de novidades, tão pouco as negociações que são o foco da maior feira do setor de transporte e logística da América Latina, a Fenatran abriu espaço para discutir a participação feminina no setor, que é majoritariamente masculino.

Houve um debate de alto nível na arena de conteúdo da feira, no dia 07 de novembro, com a presença dos três principais grupos de apoio às mulheres, o ‘A Voz Delas’ (desenvolvido pela Mercedes-Benz), o ‘Rota Feminina’ e o ‘Vez e Voz’ (criado pelo SETCESP), além do ‘Com Elas na Fenatran’ (ação realizada pela organização da feira).

Para a abertura do evento, subiram ao palco Fernanda Sarreta, co-fundadora do Rota Feminina; Camila Florencio, coordenadora do Vez e Voz; Ebru Semizer, gerente da Mercedes-Benz Brasil; e Mayra Nardy, diretora de portfólio da Fenatran.

Sarreta destacou o legado do Rota Feminina de conectar mais mulheres dentro do segmento de logística e também capacitá-las para postos de trabalhos no setor. Após isso, Semizer avaliou que já é possível perceber que os movimentos juntos estão dando certo. “Percebemos cada vez mais mulheres trabalhando nas estradas do país, embora ainda não haja infraestrutura adequada para elas”, observou a gerente da Mercedes-Benz Brasil.

“Hoje, apesar de as mulheres representarem 26% dos profissionais do setor, pouco mais de um quarto, na função de motoristas elas são apenas 3%”, revelou Florencio citando dados do Índice de Equidade do TRC 2024. Depois a coordenadora do Vez e Voz comentou que o movimento completou 4 anos e vem desenvolvendo iniciativas que ajudam empresas e profissionais. São 74 transportadoras signatárias do movimento e diversas entidades em todo o Brasil.

“Os eventos de negócio são uma representação do setor e estamos aqui reunidos justamente para dar voz às necessidades deste segmento. Temos uma preocupação com diversidade e inclusão. Os movimentos não competem entre si, ao contrário, há uma convergência para chegarem mais longe”, afirmou Nardy.

Políticas públicas para aumentar a participação delas

Na sequência foi iniciado o primeiro painel, que discutiu medidas que o poder público pode tomar para fomentar a participação feminina no transporte e logística. Nele participaram a diretora adjunta do ITL, Eliana Costa; Danielle Olivares, Procuradora do Trabalho e coordenadora regional da Coordigualdade (Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho); Paula Montagner, subsecretária do Ministério do Trabalho e Emprego; José Amaral, superintendente da ANTT e Ana Jarrouge, idealizadora do movimento Vez e Voz e presidente executiva do SETCESP, que mediou as apresentações.

“Para potencializar nossas ações precisamos do poder público e outras instituições e pessoas, que dentro de suas competências, possam nos apoiar e dar maior visibilidade a esta causa”, disse Ana.

De acordo com informações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) a média salarial de mulheres negras é a metade da dos homens não negros. “O que a gente quer não é somente equiparação, e sim, transformação, na qual se incorpore mulheres em todos os cargos de trabalho”, indicou Montagner.

“Diversidade é mais que meta, é uma fonte de competitividade para as nossas empresas. O ITL (Instituto de Transporte e Logística) ajuda a preparar as lideranças, inclusive as mulheres. E se mudarmos a cabeça de quem gere as empresas, mudamos o setor todo”, apontou Costa.

Para a diretora do ITL, pensar na empregabilidade de mulheres no mercado de trabalho não é só uma questão de cumprir cota, e sim, de responsabilidade social. “Não podemos virar as costas para os brasileiros, a maioria da população do nosso país é composta por mulheres e negros e os nossos profissionais precisam refletir isso. O transporte é essencial para o Brasil, e nós mulheres, somos essenciais para o transporte”.

“Estamos ainda numa cultura patriarcal e machista”, avaliou a Procuradora. Segundo ela, tal aspecto contribui para o assédio no ambiente de trabalho. “Quando a mulher passa a ocupar funções que antes só os homens exerciam, muitas vezes sofre micro violências que vão acontecendo diariamente como quando é interrompida constantemente ou tentam explicar para ela aquilo que é obvio – mensplanner, e isso mina suas forças até afastá-la da profissão”, compartilhou Olivares.

Depois, o superintendente da ANTT falou dos novos contratos para pontos de parada e descanso (PPD), que incluem estabelecimentos mais estruturados nas estradas para receber mulheres.

Iniciativas de empresas que dão espaço e voz para mulheres motoristas

O painel seguinte abordou as boas práticas das empresas de transporte para atrair e reter talentos femininos. Mediado pela caminhoneira e influencer Vanessa Mariano, contou também com a participação de Franciele Tuni, coordenadora da transportadora Cordenonsi; Joyce Bessa, head de gestão da Transjordano e Thais Almeida, diretora Comercial da Tquim.

A influencer contou a história de quando decidiu ser caminhoneira, desde muito jovem seu sonho era conhecer o Brasil. “Não foi fácil, a mulher é mais cobrada pela família. Se fica 20, 30 dias fora a trabalho, as pessoas a enxergam como aquela que abandonou a casa, enquanto, se o homem fizer o mesmo, ele é visto como o provedor”, desabafou Mariano.

Franciele falou que na Cordenonsi existe um call center com atendimento 24h para os motoristas que estão na estrada, e isso faz com que as mulheres se sintam mais seguras. “As pessoas trazem resultados quando se sentem valorizadas”, afirmou.

Enquanto isso, Bessa lembrou que o índice de multas e acidentes com motoristas mulheres é bem menor do que com motoristas homens. Ela também falou da parceria que a empresa mantém com a Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte) para treinamento e capacitação de mulheres que desejam ser motoristas.

Há cerca de 5 anos, a Tquim iniciou a sua mobilização para ampliar o quadro de mulheres na empresa. Almeida trouxe uma reflexão de que algumas ações devem ficar mais evidentes. “Não é só dizer que estamos contratando motoristas, porque aí não fica claro que também queremos mulheres, precisamos enfatizar – ‘contratamos motoristas mulheres’. Só fazendo isso conseguimos atingir o público feminino, e por consequência, mulheres para o cargo”.

Transformação digital e protagonismo feminino

Já o terceiro painel apresentou como as mulheres podem ser protagonistas de mudanças nas empresas, em meio ao processo de transformação digital que vem ocorrendo. Para falar sobre o tema, foram convidadas Augusta Bastos, CEO da MA e Agatha Harumi, co-fundadora da Women in IA, além de Suzana Socin, CEO da I9Exp.

“O protagonismo feminino tem apoiado o desenvolvimento tecnológico e a transformação digital no transporte e logística com novos sistemas de gestão de frota. Cada vez mais, empresas usam IA para melhorar seus processos”, compartilhou Suzana. Para provar sua tese, chamou à frente a Iasmin, um robô que recebe comandos à distância e pode fazer entregas de forma automatizada.

Por sua vez, Agatha discorreu sobre a participação das mulheres na área de tecnologia que, assim como no transporte, também é pequena.  Segundo a pesquisa Woman in Technology, menos de 20% dos cargos das áreas de tecnologia no Brasil são ocupados por mulheres.

Já Augusta observou que a IA bem utilizada contribuiu para a produtividade. “A diversidade traz esse potencial criativo e de ação, tanto para a tecnologia quanto para o transporte”.

“Foi uma oportunidade muito interessante de relacionar esses pilares que fazem muito sentido para o nosso dia a dia que são: o transporte, a logística, as mulheres e a tecnologia. Conseguimos trazer muita colaboração para evoluirmos de maneira rápida neste tema importante para o nosso ecossistema”, concluiu Soncin.

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