Aumento do diesel reacende ameaça de greve dos caminhoneiros
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Áudios que circulam entre associações e lideranças mostram descontentamento crescente da categoria

O aumento no preço do litro do diesel, anunciado nesta terça-feira (26/2) pela Petrobras, reacendeu a ameaça de greve dos caminhoneiros. Até a semana passada, apenas algumas lideranças confirmavam a adesão e associações e federações diziam se tratar de um grupo minoritário. Com o reajuste do combustível, no entanto, o descontentamento da categoria aumentou e áudios começam a circular nas redes sociais das lideranças, com mensagens cogitando a paralisação. A estatal informou que o preço médio do diesel passará a ser de R$ 2,12 por litro nas refinarias, refletindo uma aumento médio de R$ 0,09 por litro, elevação de quase 4,5%.

O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, lamentou o reajuste e destacou que o movimento não veio em boa hora. “Aumentou o descontentamento da categoria. Sabemos que a alta é na refinaria, mas sempre acaba sendo repassada para aquele que trabalha e produz, o consumidor final. Precisamos cobrar do governo federal a redução da questão tributária sobre os derivados de petróleo, como PIS/Cofins”, disse. Sobre a paralisação, ameaçada por parte da categoria e com data marcada para 1º de fevereiro, Chorão confirmou a preocupação. “Está se levantando um movimento paralelo que me preocupa muito”, ressaltou.

No entender do assessor executivo da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Marlon Maues, para quem precisa de uma faísca, o reajuste é o que basta. “Nós, como confederação, não podemos entrar no mérito passional. Temos que ser muito racionais para conseguir pleitos que a categoria almeja”, ressaltou. Ele explicou que o diesel é insumo na composição de um custo e que os caminhoneiros têm a lei do piso mínimo. “No entanto, eles trabalham por menos do que deveriam receber. Eles têm de cobrar e reajustar o frete de acordo com o aumento do insumo”, acrescentou.

Segundo Maues, o governo anunciou que vai neutralizar o efeito nas bombas, com redução de PIS-Cofins. “Nós somos favoráveis ao diálogo sempre. A Petrobras sentou com o governo federal e havia um acordo, porque não é o momento de uma paralisação. Mas a Petrobras não cumpriu. Nos sentimos traídos”, afirmou. O assessor da CNTA destacou, ainda, que a categoria precisam pressionar os governos estaduais para redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Agora, mais do que nunca, está na hora de os governos estaduais entrarem e reduzirem o ICMS. Os caminhoneiros deveriam se manifestar perante os governos estaduais para ajudar na redução”, completou.

Além dos caminhoneiros, os reajustes anunciados nesta terça-feira pela Petrobras deixaram os revendedores indignados. A estatal confirmou elevação de R$ 0,10 por litro da gasolina e o impacto na bomba pode chegar a R$ 0,07, segundo Paulo Tavares, presidente do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombutíveis-DF). Ele alertou que é o segundo aumento da gasolina em 2021, ocorrido uma semana depois do primeiro, e o sexto consecutivo. “Os seis aumentos já correspondem a R$ 0,50 no litro da gasolina para as distribuidoras que, por sua vez, repassam para os postos”, afirmou.

Ele destacou que há aumento na demanda e redução na oferta. “Isso significa que a tendência é viés de alta. Infelizmente, devido à política da Petrobras, adotada desde 2017, o preço vai aumentar cada vez mais”, afirmou. Como a elevação vai chegar nas bombas, segundo Tavares, depende de cada revendedor. “Vai depender da situação de suportar mais um aumento ou da necessidade de repassá-lo”, explicou.

Consumidores

Os consumidores também reclamam. Para o vendedor Leomar Junio, 21 anos, morador de Taguatinga, o preço da gasolina é um desafio, principalmente porque ele precisa utilizar o carro para realizar as visitas aos seus clientes. “Neste começo de ano, o comércio está com menos movimento, a população gastando menos devido à falta de dinheiro. E o alto preço do combustível é um obstáculo a mais”, avaliou.

Para tentar economizar, Leomar agenda visitas por região. “Eu organizo a cotação de vendas para os clientes de lojas que ficam próximas uma das outras, assim economizo gasolina”, revelou. A moradora de Santa Maria, Iraci Viana, auxiliar de faturamento, adotou como medida o transporte público. “O valor da gasolina está um absurdo. Passamos a andar mais de ônibus e utilizamos o carro apenas nos fins de semana”, pontuou.

Governo

O Ministério da Infraestrutura afirmou que “mantém uma agenda permanente de diálogo com as principais entidades representativas da categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), além de reuniões constantes com suas lideranças, e que qualquer associação representativa que deseje contribuir para a formulação da política pública pode requerer a sua participação para discutir eventuais temas de interesse da categoria”. Procurado, o Ministério da Economia, responsável por alterações em tributos, ainda não respondeu.


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