Aumenta procura por motoristas profissionais
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02 de Maio de 2012 – 10h00 horas / Diário de SP
Motoristas com renda familiar de até R$ 1.635,00 terão direito a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) de graça para as categorias B, C, D e E. O projeto é do senador Clésio Andrade (PMDB-MG) e está na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado antes de seguir para o plenário da Câmara dos Deputados. Um dos objetivos deste projeto é resolver o problema da falta de mão-de-obra especializada no setor de transporte. De acordo com a CNT (Confederação Nacional de Transportes), há 40 mil vagas ociosas no brasil hoje em dia.
E esta falta de profissional qualificado também atrapalha as entregas de mercadorias. É isso que afirma o presidente da Abepl (Associação Brasileira de Empresas e Profissionais de Logística), Anderson Moreira. “Falta muito caminhoneiro no país. Mas a dificuldade maior é encontrar motorista com conhecimento em transporte, sabendo dirigir um caminhão moderno”, explicou, lembrando que os novos modelos possuem computador de bordo, funções diferentes no painel, mecanismos avançados para descarga de mercadorias, entre outros itens.
“Há no mercado alguns modelos que precisam de um feedback dos motoristas e, para isso, eles precisam atualizar o computador de bordo e enviar relatórios com o passo a passo da viagem on-line. Mas poucos sabem fazer isso.”
Ainda de acordo com o presidente da Abepl, se não for tomada alguma providência imediata, o país deverá sofrer uma escassez de motoristas. “O Brasil está produzindo cada vez mais, a logística já representa 15% do PIB (Produto Interno Bruto) e para que esse crescimento continue será preciso preparar mais motoristas.”
Tradição e insistência
O caminhoneiro Douglas Bernardes Marcos Nogueira, 29 anos, teve de se adaptar às exigências da empresa em que trabalha e aprender a usar os equipamentos mais modernos. “A própria empresa deu o treinamento porque há pouquíssimos cursos profissionalizantes para motoristas.”
Ele também fala da falta de profissionais no mercado. “Realmente falta e falta muito. Mas não é qualquer um que pode virar um motorista de caminhão de repente.”
Douglas manteve a tradição na família e seguiu a profissão do pai e dos tios, mas não por indicação familiar e sim por opção própria. “Ninguém queria que eu seguisse esse caminho porque é perigoso e tal. A minha família queria que eu estudasse, seguisse outro caminho, mas eu quis ser caminhoneiro, não teve jeito.”
Como já viajou por todo o país desde que optou por essa carreira há oito anos, ele sabe o que é preciso para ser um bom motorista. “A profissão não é muito valorizada porque a fama de caminhoneiro não é tão boa assim. Mas muitos são capacitados e sabem enfrentar muitos obstáculos.”
O presidente da Abepl confirma que as empresas têm investido nos profissionais. “Faltam cursos profissionalizantes e de capacitação. Muitos acreditam que só tirar a carteira basta, mas as instituições precisam abrir os olhos para essa demanda.”
Baixa renda vai ter CNH de graça
Objetivo de projeto de lei é facilitar o acesso às categorias que formam motoristas de caminhões, visando a defasagem da categoria
O projeto que tramita no Senado pretende facilitar o acesso dos motoristas às categorias C, D e E, necessárias para a condução de veículos pesados (a partir de 3,5 mil Kg) como ônibus, caminhões e carretas.
Para José Guedes, presidente do Sindicato das Autoescolas de São Paulo, a aquisição da habilitação para veículos pesados é um investimento. Por causa do preço, as pessoas mudam de categoria apenas quando são solicitadas. “Muitas empresas fazem convênio com as autoescolas e custeiam essa mudança”, informa.
De acordo com Newton Gibson, presidente da ABLT (Associação Brasileira de Logística e Transportes de Carga), outra medida que pode atrair trabalhadores para o setor de transportes é a aprovação do projeto de lei que regulamenta a profissão de motorista de caminhão. O Projeto de Lei nº 99/2007 precisa ser sancionado pela presidenta Dilma Roussef.
Já para Norival de Almeida Silva, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de São Paulo, além da habilitação subsidiada, os motoristas precisam de qualificação. “Não existem muitos cursos para reciclar e qualificar o profissional”, reclama.
Marcosalem de Andrade, 33 anos, percebeu a oportunidade no setor e tenta uma vaga de motorista de caminhão. “Eu via que as empresas de transporte pagavam muito bem, mas eu precisava me qualificar”. O cobrador de ônibus conseguiu as categorias C, D e E da CNH de graça, em parceria do poder público com uma multinacional.
Profissão-perigo
O transporte de carga é uma das profissões mais arriscadas. Só nos três primeiros meses deste ano foram 330 assaltos nas rodovias do interior de São Paulo, segundo dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública).
13 casos de roubo de carga foram registrados entre os três primeiros meses do ano em Jundiaí. Foram quatro casos em janeiro, outros quatro em fevereiro e cinco em março. No mesmo período de 2011, foram 18.

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