A rotatividade de motoristas na visão das empresas
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*Por Fernando Zingler

Dando sequência no trabalho desenvolvido sobre a dificuldade de contratação de motoristas de caminhões e a escassez de profissionais qualificados no mercado, o IPTC aplicou uma pesquisa com as transportadoras de carga, para mostrar como este tema efetivamente afeta as empresas.

O objetivo foi entender o mercado de contratação desses profissionais, fontes de recrutamento, salários e benefícios adotados, estratégias de retenção e percepção do problema por parte dos transportadores, e com os dados obtidos apoiar o diagnóstico da falta de motoristas qualificados e que ações devem ser tomadas.

Com os resultados em mãos, podemos observar de imediato que o turnover (rotatividade) de motoristas foi de 34% para as empresas no decorrer do ano de 2019, um índice considerado muito alto, ainda mais levando em conta a importância do profissional nas empresas do TRC.

As transportadoras participantes indicaram que em torno de 40% dos motoristas atuantes são terceirizados, especialmente nas pequenas e médias empresas. O ponto mais importante é o fato de 8 a cada 10 organizações afirmarem que sentem a falta de motoristas qualificados, um índice crítico, que é mais expressivo principalmente nas companhias com maior turnover.

Também foi atestado na pesquisa que cada empresa precisaria de, em média, 35 motoristas a mais para suprir sua necessidade confortavelmente, de modo a evitar que veículos fiquem parados nos pátios das transportadoras por falta deste profissional – o que já é realidade para muitas delas, sendo que grande parcela sente este impacto na maior parte do ano, não apenas em períodos sazonais (como o final de ano, no qual as contratações são mais comuns devido ao aumento da movimentação de carga relacionado à eventos como Black Friday e Natal).

Ao perceberem a falta de mão-de-obra qualificada, a maioria das empresas recorre à recomendações para suprir as vagas existentes – geralmente de outros motoristas. A rede de contatos dos motoristas se mostra muito forte e atuante, com indicações efetivas que geram resultado nas contratações, o que acaba impulsionando a procura por este modo. Indicações de outras empresas também são bastante válidas e utilizadas. Em terceiro lugar, aparecem os sites especializados e bancos de dados de contratação.

De fato, o IPTC mapeou mais de 500 vagas deste tipo publicadas em diversos portais como LinkedIn, Catho, Vagas.com, Facebook, Instagram e até indicações encaminhadas no processo por e-mail, e a grande demanda foi confirmada com diversas posições não-preenchidas há meses – algumas há mais de seis meses, ainda ativas de acordo com as empresas. Este mapeamento levou a outro ponto também: as exigências na contratação do motorista.

A maioria das empresas solicita que o motorista, no ato da contratação, tenha uma experiência mínima, variando de 6 meses até 2 anos. Este fator tem sido apontado como um dificultante para o profissional entrar no mercado, sobretudo para os novos motoristas que, como revelado na pesquisa publicada na revista anterior (Ed.57 Out-Nov 2020), estão cada mais escassos e desinteressados pela profissão. Diante do cenário, é importante pensar em alternativas assertivas para este caso, como escolas de treinamento profissional e locais de comprovação de experiência de motoristas que permitam que as empresas façam uma contratação segura, mas que também deem a oportunidade a novos interessados a ingressar na profissão e fazer carreira.

Muitas empresas relataram ter algum tipo de programa similar estruturado, mas como há dificuldade de contratação externa acabam investindo na profissionalização de colaboradores para suprir esta posição – como casos de ajudantes e operadores de empilhadeira tirando habilitação necessária para assumirem o volante do caminhão no futuro. É um exemplo de iniciativa que impulsiona o mercado e valoriza o profissional, criando possibilidades de um mercado mais competitivo e qualificado, e diminuindo os custos da rotatividade da empresa no médio e longo prazo.

Ainda há mais pontos para se explorar, pois uma pergunta vem sendo feita frequentemente nos últimos meses de divulgação deste trabalho: o que causa este desinteresse que leva à falta de profissionais? – Seria uma decepção com a profissão de motorista em geral, as condições de direção, segurança, infraestrutura das estradas, e tudo que impacta o dia-a-dia destes profissionais? Ou mesmo uma decepção nas operações comerciais, como problemas na coleta e descarregamento nos clientes, dificuldades com superiores imediatos, falta de suporte e solidão? Talvez ainda, problemas de legislação que criam barreiras e dificultam a entrada de motoristas ou tornam a profissão muito engessada à padrões não compatíveis com os tempos atuais?

Sabemos que todos estes fatores podem estar presentes nas decisões dos motoristas que abandonam a profissão, mas o próximo passo é entender quais deles têm mais peso para os motoristas, e como podemos criar um panorama melhor e incentivar a profissão.

*Fernando Zingler é Diretor Executivo do IPTC.


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