Produtos nacionais foram encaminhados para clientes na Ásia e outros países da América
Apesar da forte queda das exportações brasileiras para os Estados Unidos após o “tarifaço” imposto pelo presidente Donald Trump, o Brasil conseguiu redirecionar suas vendas externas para outros mercados. Houve aumento das exportações para países asiáticos, como China, Singapura e Índia, e para vizinhos e parceiros das Américas, incluindo Argentina, México, Canadá e Chile, um movimento que ajudou a compensar as perdas provocadas pelas tarifas norte-americanas.
As conclusões constam no Macro Monitor, publicação em inglês do Ministério da Fazenda voltada ao público estrangeiro. A edição mais recente traz um box detalhado sobre como o comércio exterior brasileiro reagiu às barreiras impostas pelos EUA e uma análise das expectativas de Investimento Estrangeiro Direto (IED) entre 2025 a 2028.
Segundo os dados da Pasta, as exportações brasileiras entre agosto e outubro de 2025 cresceram 6,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso se deveu a uma expansão nas quantidades exportadas (11,3%), apesar da queda nos preços médios de exportação (-4,5%).
Os principais parceiros de exportação do Brasil permaneceram China, União Europeia, Estados Unidos e Argentina. No entanto, a participação das vendas para os EUA no total exportado pelo país caiu de 12% entre agosto e outubro de 2024 para 8% no mesmo período de 2025, o pior desempenho entre as dez maiores jurisdições analisadas. Em sentido oposto, por exemplo, a fatia destinada à China avançou de 25% para 29% do total.
O déficit comercial com os Estados Unidos também se ampliou. Entre agosto e outubro de 2025, o saldo negativo atingiu US$ 4,7 bilhões, valor superior ao observado no mesmo intervalo de 2024, refletindo em parte o impacto das tarifas mais altas. As importações cresceram 9,5%, impulsionadas pela demanda por bens industriais, enquanto as exportações recuaram 24,9% em razão da queda nas remessas de bens de capital. O resultado foi uma expansão de 341% no déficit bilateral.
No período analisado, as exportações brasileiras para os Estados Unidos foram fortemente concentradas em bens intermediários. Óleos e derivados de petróleo lideraram a pauta, somando US$ 0,9 bilhão, seguidos por produtos semiacabados de ferro ou aço (US$ 0,6 bilhão) e por aeronaves e itens relacionados (US$ 0,6 bilhão). Entre as categorias de impacto, o desempenho dos bens de capital foi o que mais se deteriorou em relação a 2024. Segundo a Fazenda, “no geral, a cesta de exportações revela uma forte especialização em energia, metais e commodities agrícolas, com presença limitada de bens manufaturados de maior valor agregado”.
Desde julho, o Brasil passou a enfrentar uma tarifa adicional de 40% imposta pelos Estados Unidos, somada ao acréscimo de 10% definido em abril, resultando em uma sobretaxa total de 50% para quase metade da pauta exportadora. Entre janeiro e setembro de 2025, 44,3% das vendas (US$ 11,64 bilhões) – sobretudo café, carne, açúcar, madeira e máquinas – ficaram submetidas à tarifa adicional de 50% (10% + 40%).
Outros 22,2% (US$ 5,83 bilhões), como aeronaves, suco de laranja, ferro-gusa e minério de ferro, seguiram pagando apenas a tarifa extra de 10%. Já 13,3% (US$ 3,5 bilhões), incluindo autopeças, automóveis e metais como aço e alumínio, permaneceram sujeitos a tarifas específicas. Os 20,2% finais (US$ 5,32 bilhões) – petróleo, derivados e celulose – foram excluídos da sobretaxa, com a celulose isenta a partir de setembro. Com isso, a tarifa efetiva aplicada pelos EUA ao Brasil gira em torno de 31%, acima dos 17,9% cobrados do restante do mundo.
Segundo a Fazenda, o impacto das tarifas americanas entre agosto e outubro de 2025 foi heterogêneo para o Brasil. Setores como açúcar, madeira, ferro-gusa, aço e cobre sofreram perdas significativas e não conseguiram compensar a retração das vendas aos EUA em outros mercados. Em contrapartida, produtos como café, carne bovina, máquinas, minério de ferro, móveis e materiais de construção redirecionaram parte das exportações para destinos na Ásia e nas Américas, reduzindo o efeito do tarifaço.
Além disso, setores como o alumínio foram a exceção positiva, pois ampliou embarques para outros países e também para os EUA, ganhando espaço sobre concorrentes atingidos por tarifas ou sanções. Ainda assim, até produtos isentos, como óleo combustível e celulose, registraram queda nas vendas aos EUA, sugerindo maior competitividade de parceiros americanos ou menor demanda dos EUA por esses itens.
A Fazenda mostrou ainda que as expectativas de entrada de IED no Brasil permaneceram estáveis para 2025 após o anúncio das tarifas globais dos EUA, mas passaram a recuar para 2026 e, posteriormente, para 2027 e 2028, especialmente após a escalada tarifária de julho. Desde setembro, contudo, com a perspectiva de negociação entre os dois países, essas projeções se estabilizaram. As expectativas para 2026 igualaram as de 2025, enquanto as de 2027 e 2028 voltaram a subir e hoje superam as dos anos anteriores.
O IED efetivo em 2025, inclusive, superou as expectativas. O Brasil recebeu US$ 63,2 bilhões entre janeiro e setembro e US$ 75,8 bilhões em doze meses até setembro, sugerindo que a projeção de mercado para o ano, de US$ 70 bilhões, está subestimada.
Houve também uma mudança relevante na origem dos investimentos. A participação dos EUA diminuiu ao longo de 2025, enquanto Europa (especialmente Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha e Reino Unido) e China ampliaram sua presença. “Portanto, houve um aumento na diversificação das fontes de fluxos de IED no Brasil”, diz a Fazenda.
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