O futuro das entidades de classe no TRC: entre tradição e reinvenção
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Ao longo dos meus 29 anos de experiência e atuação no setor de Transporte Rodoviário de Cargas, acompanhei de perto as muitas transformações que moldaram o mercado, a forma de liderar e de representar coletivamente os interesses das empresas. Minha trajetória institucional começou no SETCESP, em 2004, como integrante do núcleo da COMJOVEM de São Paulo, e desde então venho exercendo uma atuação cada vez mais ativa na defesa do setor. Hoje, como presidente executiva da entidade, compartilho uma reflexão que considero essencial: o futuro das entidades de classe depende da nossa capacidade de equilibrar tradição e reinvenção, sempre com responsabilidade, escuta e coragem para transformar.

Vivemos um momento em que a representatividade precisa ser ressignificada. A Reforma Trabalhista de 2017 eliminou a obrigatoriedade da contribuição sindical e, com isso, evidenciou um desafio que já vinha se desenhando há anos: a perda de credibilidade das entidades de classe. A história mostra que muitas delas foram conduzidas por gestões pouco transparentes, sem critérios de governança, o que afastou representados e gerou um sentimento de distanciamento. Esse cenário não se restringe às entidades patronais, ele é perceptível também do lado profissional. Não basta mais afirmar que o poder coletivo é importante, hoje as pessoas querem entender os propósitos, os valores, os critérios de gestão e, acima de tudo, querem se identificar com aquilo que apoiam.

A credibilidade não se constrói com discurso, mas com coerência entre o que se fala e o que se pratica. Transparência, prestação de contas, escuta ativa e conexão com as necessidades reais dos representados são pilares que não podem mais ser adiados. As entidades que não fizerem essa leitura correm o risco de se tornarem irrelevantes e a representação institucional só se sustenta quando há respaldo real de sua base.

Acredito que a renovação constante das diretorias é um caminho seguro, consistente e estratégico para equilibrar experiência e inovação. A oxigenação da gestão permite que gerações diferentes convivam de forma complementar, com espaço para escuta e para novos olhares. É também um passo concreto para ampliar o diálogo com a sociedade e com as novas lideranças, tornando a entidade mais conectada com o presente e mais preparada para o futuro.

Os números não mentem: entidades que não se adaptaram à nova realidade enfrentam queda no número de associados e dificuldades para gerar receita e relevância. Isso é um sinal claro de que é preciso mudar.

Mais do que se adaptar, é preciso agir com intencionalidade. A atuação das entidades precisa se expandir para temas emergentes como ESG, diversidade, inovação, transformação cultural, sucessão, governança corporativa e formação de lideranças. Isso não se faz apenas com discursos institucionais, é necessário tratar esses temas com profundidade e clareza, incorporando-os ao planejamento, às ações e à cultura da entidade. Só assim será possível gerar identificação e, mais do que isso, impacto.

A Comissão de Jovens Empresários do TRC (COMJOVEM), inspirada no modelo que nasceu no SETCESP e que é coordenada pela NTC&Logística a nível nacional desde 2008, é um exemplo concreto de ação efetiva. A iniciativa tem atraído jovens empresários, promovido capacitação e impulsionado a renovação das lideranças do setor. Mais do que formar sucessores, a comissão cria pontes entre gerações e estimula uma nova visão de associativismo. É uma prova de que é possível tornar o transporte rodoviário de cargas e suas entidades atrativas para o público jovem, desde que haja espaço, diálogo e oportunidades reais de participação.

A governança corporativa também precisa ser aplicada para dentro das entidades com a mesma ênfase com que é promovida externamente. Falar sobre modernização institucional sem praticá-la internamente é um erro que compromete a confiança e o futuro da representação setorial. As entidades precisam ser exemplo daquilo que defendem.

Acredito profundamente no poder da transformação. Não como um rompimento com o passado, mas como uma evolução natural e necessária. A tradição tem seu valor, mas só continua fazendo sentido quando é capaz de dialogar com os novos tempos.

Na minha visão, o futuro das entidades de classe no TRC será construído por quem tiver coragem de renovar, escutar e agir com propósito. E mesmo que não seja fácil, essa construção começa agora.


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