Há cinco anos, chegou no transporte a vez de uma voz ecoar
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O Vez & Voz completa cinco anos, ampliando oportunidades e mostrando que a equidade é um caminho sem volta para o setor

Foi em 14 de outubro de 2020. Em meio a uma pandemia e a um cenário de incerteza, que nasceu o movimento Vez & Voz. A inspiração para a criação de um projeto inteiramente voltado para as mulheres do transporte rodoviário de cargas surgiu após os resultados de um estudo, realizado com mais de 600 mulheres profissionais do setor.

Os dados confirmaram uma realidade já percebida: as mulheres no transporte são a minoria. Na época do levantamento, eram cerca de 14%, número que hoje chega a 15,7%. Outro ponto relevante é que 73% delas afirmaram ter uma figura masculina como chefe.

Ana Jarrouge havia acabado de assumir a presidência executiva do SETCESP, e foi quem idealizou o movimento, lançado oficialmente em uma live, já que por conta da pandemia, eventos presenciais não eram possíveis de serem realizados.

Em sua apresentação, naquele momento, ela destacou que a iniciativa tinha como propósito promover mudanças reais por meio do debate e da ação conjunta de organizações do setor. “Muitas mulheres têm a real expectativa de serem ouvidas para poderem, de fato, contribuir com suas ideias e sugestões, elevando o setor a outro patamar: mais organizado, inclusivo, receptivo e aberto às mudanças”, falou a presidente executiva.

Uma comissão do movimento

De lá para cá, já se passaram cinco anos. Nesse período, o movimento se fortaleceu e hoje reúne 111 signatários – entre transportadoras, entidades e outros movimentos, promove premiações de reconhecimento, realiza estudos, pesquisas e encontros anuais, marcou presença nas duas últimas edições da Fenatran (maior feira de logística e transporte da América Latina) e até instituiu uma comissão própria dentro da entidade.

“Começamos a olhar para a presença feminina de forma estratégica, não só como um número, mas enquanto profissionais que contribuem e agregam para o setor”, relata Camila Florencio, coordenadora do movimento e da comissão do Vez & Voz. “As ações que fazemos estão fundamentadas em três pilares: valorizar as mulheres que trabalham no setor, fomentar o crescimento profissional delas e atrair novos talentos femininos”, complementa.

Uma das principais entregas da comissão do movimento foi a criação do índice de equidade, que avalia 7 esferas importantes para a ampliação da presença feminina no setor e que tem evoluído. “É um indicador importante que não mede a quantidade, mas sim a qualidade das ações das empresas para tornarem o setor mais receptivo para as mulheres”, informa a coordenadora.

Segundo Dandara Melo, auxiliar de responsabilidade social do Vez & Voz, o propósito das reuniões da comissão é levantar assuntos importantes e trazer ferramentas práticas para os signatários. A participação é mensal e os participantes podem apresentar algumas de suas ações internas.

“As reuniões na maioria das vezes são realizadas por videoconferência. Nelas, os participantes podem interagir com especialistas e tirar dúvidas. Já tivemos, por exemplo, reuniões para esclarecer pontos do relatório de transparência salarial e sobre como realizar a contratação por competência”, sinaliza Melo.

Este ano, inclusive, a comissão fez uma visita técnica à Casa da Mulher Brasileira, – um espaço que garante uma rede de proteção e acolhimento às mulheres em situação de violência doméstica.

“Além de levantar a questão da igualdade de gênero, proporcionamos um espaço no qual as empresas podem compartilhar as ações em prol das mulheres. Costumo dizer nas reuniões: lá no mercado, vocês até podem ser concorrentes, mas aqui é um momento de benchmarking, onde a proposta é replicar as iniciativas positivas”, afirma a auxiliar.

O compartilhamento de um propósito

Atualmente, não existe nenhum compromisso financeiro para as transportadoras para participarem do Vez & Voz, porém ao se tornar uma signatária, a empresa se compromete a divulgar conteúdos e ações do movimento em seus canais de comunicação, participar das reuniões, compartilhar suas boas práticas, responder as pesquisas, participar de estudos e estar aberta para benchmarking com outras transportadoras.

“O maior obstáculo para a expansão do movimento continua sendo cultural, o preconceito, pois muitas empresas ainda não estão abertas para esse desafio, que necessita do engajamento da alta administração, de toda liderança e do envolvimento dos pares”, considera Jarrouge.

Para a idealizadora, também existem questões estruturais e de gestão de pessoas que precisam ser fortalecidas dentro das organizações para garantir a permanência e o desenvolvimento das profissionais mulheres. “É justamente nesse ponto que o movimento atua, oferecendo suporte, orientações e promovendo a troca de experiências entre os signatários”, completa.

Fenatran edições de 2022 e 2024

“Nossas participações na Fenatran sempre foram muito marcantes”, lembra Florencio. “Quando fizemos o primeiro Fórum de Mulheres no Transporte e na Logística, em 2022, parecia que seria só mais um conteúdo na arena de eventos, no último horário e dia da feira. Só que ao contrário do que imaginávamos e excedendo muito as expectativas, o Fórum foi um verdadeiro sucesso”. Em um local preparado para um público de 110, foram recebidas aproximadamente 300 pessoas.

“Ali mostramos a força da mulher para todos os atores do setor: transportadoras, entidades e fornecedores. Conseguimos parar a Fenatran. O público em peso quis acompanhar nosso debate e nem estávamos em um horário nobre, vamos assim dizer”, recorda a coordenadora.

O Fórum foi realizado em parceria com a feira e também com outros dois movimentos. “Foi gratificante e surpreendente. Ali me dei conta do quão grande a gente já era, porque lançamos o movimento Vez & Voz no meio da pandemia, era tudo feito online. Então, caiu a minha ficha do impacto que poderíamos gerar e quão importante era o trabalho que estávamos fazendo”, compartilha Florencio.

Para os próximos 5 anos

As expectativas para o futuro são promissoras, pautadas no fortalecimento da participação feminina e na construção de um setor mais inclusivo. Esse é o sentimento que une as três mulheres que atuam ativamente no Vez & Voz.

“Daqui a cinco anos, espero que tenhamos muito mais transportadoras engajadas e também mais homens interessados nessa temática como apoiadores. E que homens e mulheres unidos garantam que a equidade realmente aconteça para termos mais igualdade de oportunidade”, deseja a coordenadora.

“Acredito que a nossa expansão nem é sobre ter mais signatários, mas sim de constatarmos o crescimento das mulheres dentro do setor. Em cinco anos de movimento, ainda há uma parcela pequena de mulheres e só teremos realizado nossa missão com um avanço deste percentual”, avalia Melo.

Jarrouge sonha alto, mas mantém os pés no chão. “Minha vontade mesmo é que, daqui a cinco anos, o Vez & Voz nem precisasse mais existir, porque isso significaria que já alcançamos nossos objetivos de equidade no setor. Mas sei que estamos lidando com uma mudança cultural, e isso exige tempo. Assim, ficarei muito feliz se conseguirmos dobrar o número de apoiadores. E mais do que isso: quero ver mulheres liderando também nossas entidades de classe, pois serão elas a força necessária para tornar essa pauta prioritária”.

As empresas que querem se tornar signatárias do Vez & Voz podem entrar em contato pelos seguintes canais:

site www.vezevoz.org | e-mail: vezevoz@setcesp.org.br | WhatsApp: (11) 2632-1057


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