A avaliação do mercado sobre o clima econômico do Brasil deve encerrar o ano com sinal negativo. O alerta partiu da pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Lia Valls, ao comentar os resultados da Sondagem da América Latina, anunciados nesta segunda-feira pela fundação em parceria com o instituto alemão Ifo.
Na pesquisa, o Índice de Clima Econômico (ICE) da América Latina ficou em 18,8 pontos negativos em outubro, ante 10,1 pontos negativos na pesquisa anterior, de julho. Um dos fatores que contribuíram para o resultado foi a manutenção de trajetória negativa no ICE do Brasil, que passou de 23,2 pontos negativos para 25 pontos negativos, entre julho e outubro. Foi o pior patamar do ano para o clima econômico referente ao Brasil, perdendo apenas para a edição de outubro do ano passado (33,9 pontos negativos).
A frustração do mercado com a ausência de retomada mais ágil no crescimento econômico brasileiro levou ao resultado. Esse cenário deve permanecer até o fim do ano, nas palavras da especialista. “Teria que ter uma melhora muito grande na [avaliação de] situação atual [do Brasil]”, disse. “E não me parece que até o fim do ano se consiga reverter o atual cenário”, afirmou ela.
Na pesquisa, a pontuação dos indicadores de ICE leva em conta o saldo entre as respostas positivas e as negativas – no caso da edição de outubro, foram pesquisados 109 especialistas em 14 países. Ou seja: na prática, quanto mais negativo o saldo, pior o cenário.
A técnica comentou que, no caso do Brasil, os especialistas não estão visualizando sinais de impacto, na economia, das recentes ações do governo para incrementar a atividade.
Isso se reflete na evolução dos dois sub-indicadores componentes do ICE. O Índice de Situação Atual (ISA) do Brasil se manteve em 75 pontos negativos entre julho e outubro, também o pior resultado do ano, perdendo apenas para o de outubro de 2018 (77,8 pontos negativos).
Nem mesmo as projeções em relação ao Brasil ajudaram a melhorar a avaliação de clima econômico no país. O Índice de Expectativas (IE) diminuiu de 50 pontos positivos para 45 pontos positivos de julho a outubro.
Ela mencionou que, além do crescimento econômico fraco, a instabilidade política ainda preocupa, no caso brasileiro.
Além disso, a especialista notou que não houve boas notícias expressivas no front econômico. “O leilão do pré-sal não foi como eles imaginavam” ela lembrou, citando o certame realizado na semana passada, que não atraiu empresas privadas estrangeiras e arrecadou menos do que o esperado.
“E, no caso da demanda, uma possível melhora não está acontecendo”, afirmou. “Creio que temos um cenário de muitas incertezas, não somente no Brasil”, disse, reiterando achar difícil que o quadro atual da atividade econômica do país passe por algum tipo de melhora rápida até o fim do ano.
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