
Pesquisa com mais de 2.500 negócios mostra que, à medida que as novas gerações assumem mais protagonismo, o ESG tende a ganhar mais espaço
Empresas familiares de alta performance têm ao menos dois pontos em comum: elas mantêm conselhos estruturais formais e atuam de forma sustentável.
A constatação é de uma pesquisa da consultoria KPMG que analisou mais de 2.500 negócios de origem familiar em mais de 80 países – cerca de 50 no Brasil. Desses, 32% apresentaram alta performance em comparação aos seus pares. E, nesse grupo, 67% possuem conselhos estruturais formais — 10% a mais do que a média global — e quase 25% dos assentos nesses conselhos é ocupado por membros não familiares, enquanto cerca de um terço são mulheres.
Carolina de Oliveira, sócia-líder de private enterprise da KPMG no Brasil e na América do Sul, comenta que conselhos estruturados oferecem um ambiente em que as decisões estratégicas podem ser discutidas com profundidade, com visões complementares e maior objetividade. “Em empresas familiares, isso é particularmente relevante: um conselho bem constituído atua como um contrapeso à influência emocional, trazendo disciplina, transparência e accountability”, detalha.
Além disso, ela continua, empresas que contam com conselhos formais tendem a antecipar tendências, avaliar riscos com mais precisão e ter processos de sucessão mais bem definidos. “O estudo mostra que essa estrutura é uma alavanca real de performance”, diz. “Isso revela que a governança, quando bem aplicada, não freia o crescimento — ela o potencializa”.
Oliveira afirma que ter membros não familiares nos conselhos é uma tendência. A presença desse perfil de conselheiro permite à empresa familiar sair da bolha, trazendo visões externas, experiência de mercado e uma leitura crítica que muitas vezes não se encontra no círculo interno, explica.
“Esses conselheiros independentes não apenas desafiam a empresa a pensar diferente, mas também trazem metodologias, benchmarks e boas práticas que agregam valor”, diz. “Na prática, isso se traduz em conselhos mais estratégicos, mais diversos e menos suscetíveis a conflitos familiares. E isso, naturalmente, reflete na performance do negócio e na longevidade do legado.”
Sustentabilidade tímida
A pesquisa também constatou que 48% das empresas familiares demonstram alto nível de sustentabilidade. Para Oliveira, apesar dos avanços, é possível considerar 48% um índice ainda tímido — “principalmente porque falamos de empresas que, muitas vezes, operam com horizontes de longo prazo e forte senso de responsabilidade com as comunidades onde atuam”. O desafio, segundo ela, está na formalização e mensuração dessas iniciativas. “Muitas empresas familiares praticam ações sustentáveis intuitivamente, mas ainda faltam estrutura, indicadores e governança para que isso se reflita em estratégia clara”, explica.
Oliveira pontua que, além disso, há uma questão geracional. “À medida que as novas gerações assumem mais protagonismo, o ESG tende a ganhar mais espaço. Por isso, há um grande potencial de crescimento nessa agenda dentro do universo das empresas familiares.”
Entre as empresas com alto nível de sustentabilidade, 80% reportam alta performance, segundo a pesquisa. Esse índice elevado, diz Oliveira, surge porque empresas que incorporam sustentabilidade de forma estratégica tendem a ser mais preparadas para os desafios do futuro. “Elas constroem reputações mais fortes, têm maior capacidade de atrair e reter talentos, e conseguem estabelecer relações de confiança com clientes, investidores e sociedade”, detalha.
O levantamento mostrou, ainda, que cerca de 60% das empresas familiares que fizeram aquisições nos últimos três anos escolheram outras empresas familiares como alvo ou parceira. Isso revela um padrão de confiança, valores compartilhados e visão de longo prazo, diz Oliveira, “que muitas vezes está ausente em transações mais tradicionais”.
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