Um ano após nova marginal e trecho sul do rodoanel, congestionamentos da manhã em SP estão piores
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13 de Maio de 2011 – 10h00 horas / R7
Cerca de um ano depois da inauguração da pista central da marginal Tietê e do trecho sul do rodoanel, o congestionamento do pico do trânsito pela manhã na capital paulista ficou pior do que antes, de acordo com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) coletados pela Rede Nossa São Paulo, organização que reúne mais de 600 ONGs com o propósito de fiscalizar as ações do governo. Durante a tarde, porém, houve redução pela metade do índice de lentidão na cidade.
Pouco antes da inauguração do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, o governo e a Prefeitura de São Paulo chegaram a afirmar que a obra, juntamente com a ampliação da marginal Tietê, seria responsável por uma redução de até 12% nos índices de congestionamentos da capital paulista. Durante a inauguração do rodoanel, no dia 30 de março de 2010, o então secretário estadual de Transportes, Alexandre de Moraes, aumentou ainda mais essa estimativa, e disse que deveria ocorrer uma redução de 15% nos índices de lentidão no trânsito de São Paulo com as obras. A pista central da marginal Tietê foi inaugurada em 27 de março do ano passado.
Mas não foi isso que ocorreu na prática. De acordo com dados da Rede Nossa São Paulo, a média de congestionamentos em abril de 2011 no pico da manhã – das 7h às 10h, horário do rodízio municipal – foi de 104 km, enquanto que no mesmo mês de 2010, logo após a inauguração das duas obras, era de 88 km. O aumento foi de 18%. Em comparação com 2009, o índice de lentidão da manhã de 2011 é 2 km acima da média do horário de rush.
Já no pico da tarde, a queda foi brusca, passando de um registro médio de 140 km de lentidão em abril de 2009 para 112 km no mesmo mês do ano seguinte, e depois 105 km em abril deste ano: uma queda de 25% em dois anos. Desde o fim de janeiro de 2011, o índice médio de lentidão pela manhã é pior do que o verificado à tarde em São Paulo pela CET.
O aumento no índice de lentidão no pico da manhã também coloca em questão a eficácia da política de restrições a caminhões na cidade. Desde setembro de 2010, esse tipo de veículo não pode circular em vias importantes como marginal Pinheiros, avenida dos Bandeirantes, avenida Afonso d Escragnole Taunay e avenida Jornalista Roberto Marinho. Em outubro, a proibição foi estendida para diversas vias da região do Morumbi.
A assessoria de imprensa da CET informou que houve redução de 22% na lentidão entre 7h e 20h no segundo semestre de 2010 em comparação com o mesmo período de 2009. Sobre os índices de 2011, a companhia não se pronunciou. A reportagem do R7 também entrou em contato com a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) para questionar a importância dessas obras na melhoria do trânsito de São Paulo, mas – até a publicação desta notícia – a empresa não enviou resposta.
Obras
O construção do trecho sul do rodoanel envolveu 17 anos de discussões, 1.020 dias de obra, 1.279 desapropriações, R$ 5 bilhões em investimentos e 147 mil m³ de pavimento de concreto colocados em 57 km de extensão da via, o equivalente a 600 edifícios de 20 andares. O trecho interliga as rodovias Anchieta, Imigrantes e Régis Bittencourt, cortando sete municípios. Já as obras da pista central da marginal Tietê começaram em meados de 2009. O governo gastou R$ 1,9 bilhão para entregar o novo trajeto.
Para se ter uma ideia da grandiosidade desses valores, o custo total da linha 4-Amarela do Metrô, com 12,8 km de extensão entre os bairros da Luz e Vila Sônia, é estimado em R$ 5,4 bilhões, segundo a Via Quatro, concessionária responsável pela construção da linha.
Análise
Especialistas ouvidos pelo R7 dizem que ainda é muito cedo para apontar o motivo do aumento dos índices de lentidão no trânsito durante a manhã e a queda no período da tarde. Ailton Brasiliense, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), afirma que é possível que essa queda signifique a saturação total do sistema.
– Se você adoçar demais o café, uma hora, todo o açúcar vai direto lá para o fundo do copo. Isso é saturação. Talvez seja isso que esteja acontecendo.
Para o mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP e perito em acidentes de trânsito, Sérgio Ejzenberg, existe a possibilidade de o paulistano ter mudado seus hábitos por causa das enchentes e das chuvas que atingem a cidade todo começo de ano.
Por meio de nota, a CET exaltou as melhorias feitas no trânsito. “Mesmo com o aumento de 22,9% na frota registrada de veículos entre os anos de 2007 e 2010 – atualmente a cidade de São Paulo conta com uma frota de mais de 7 milhões de veículos -, os índices de lentidão registrados no ano passado permaneceram abaixo dos níveis registrados em 2008 e 2009. Pela primeira vez, desde 2007, a média anual da lentidão nos horários de pico da manhã e da tarde ficou abaixo da casa dos 100 km, registrando uma média de 99 km em 2010“, diz o texto.

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