O setor de supermercados projeta aumento médio de 5% no preço final dos produtos, causado pelo acréscimo de 13% a 25% no valor do frete e de 10% na folha de pagamento dos funcionários, que terão de trabalhar à noite. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) ressalta que ainda está concluindo os estudos de impacto.
O presidente da Anamaco, Claudio Elias Conz, diz que o valor da tonelada entregue – hoje de R$ 40 – chegará a R$ 143 com o uso dos Veículos Urbanos de Carga (VUCs), os caminhões que transportam 3,8 toneladas – os grandes levam até 20 toneladas. “E o cliente corre o risco de não poder receber em casa, por causa da Lei do Silêncio.“
O vice-presidente de Comunicação da Apas, Martinho Paiva Moreira, disse “se tudo de ruim que imaginamos acontecer, o aumento poderá chegar a 5%“. Embora a rede Pão de Açúcar tenha mais lojas na área de restrição, Moreira considera que grupos menores, como Futurama e Sonda, serão mais prejudicados. É que as lojas do Pão de Açúcar recebem uma média de 25 caminhões por dia, ante 70 dos menores – no caso do Futurama, não há rede de distribuição própria. Isso vai aumentar os custos de operação porque mais VUCs serão usados.
Para Conz, é impossível transportar tubos de PVC e vergalhão, de 6 a 12 metros de comprimento, nos VUCs, que medem 6,3 metros de comprimento e 2,2 metros de largura.
A Anamaco defende a liberação dos caminhões o dia todo, no esquema de rodízio em que carros com placas pares circulam nos dias pares, e os de placar ímpar, nos ímpares. Estudo da entidade prevê que, com essa medida, mais de 50% dos caminhões seriam retirados das ruas. Segundo Conz, a Anamaco interpelou judicialmente a Prefeitura para que esclareça o alcance da restrição e não descarta ir à Justiça. A Apas reivindica a liberação por tempo indeterminado da circulação dos VUCs. Segundo o decreto de restrição, em novembro esses caminhões pequenos também só poderão circular à noite.
Os motoristas de caminhão suspenderam, ontem, os protestos, após o secretário de Transportes, Alexandre de Moraes, se comprometer a receber uma comissão, nesta quarta-feira, segundo o diretor do Sindicato dos Motoristas de Cargas Próprias, Eleno Fernandes. O Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), reuniu-se com o prefeito Gilberto Kassab, que, segundo seu presidente, Francisco Pelucio, negou o pedido de revisão de 1.160 multas dadas nos últimos dois dias. Ele diz que informou ao prefeito que houve queda de 15% a 20% na produtividade. Kassab teria dito que estava satisfeito com o impacto da medida no trânsito, que teria excedido sua expectativa inicial.
O Estado de São Paulo
Numa semana, VUC só terá 2 dias para fazer entregas
Mesmo o rodízio de VUCs sendo pelo sistema de coincidência entre os dias do mês e o número final de placas – em dias ímpares circulam somente caminhões com final ímpar, e vice-versa – pode levar a restrições diferenciadas a cada semana. Somente neste mês, há dois exemplos.
No primeiro, prejudica-se a circulação de caminhões com placas ímpares por toda uma semana, entre os dias 7 e 11. Isso vai ocorrer por causa do feriado de 9 de julho: veículos ímpares, após trafegarem no dia 7, serão impedidos de circular no dia 8, também não entregarão no feriado – embora permitidos por lei, a maioria das empresas pára – e param novamente no dia 10. Assim, em uma semana, as entregas serão feitas apenas na segunda e na sexta-feira. Outro exemplo é o prejuízo a carros com placa de final par em todos meses que vão até o dia 31. Nesses casos, veículos ímpares poderão circular em dois dias seguidos. Segundo a CET, não haverá nenhuma compensação.
O Estado de São Paulo
Na madrugada, trabalhadores já começaram a alterar a rotina
A madrugada de estréia da restrição de caminhões já dá mostras de como será a nova relação entre os veículos pesados de carga e a cidade. Em vigor desde as 21 horas de anteontem, a lei que impede o trânsito na área de 100 km² fez empresas e motoristas alterarem a rotina e começarem a trabalhar de noite – com mais silêncio, menos policiamento, mais rapidez e menos tráfego.
Por volta da 1 hora de ontem, o motorista Manoel Alves Pereira, de 51 anos, esperava sozinho na Rua Mênfis, na Lapa, zona oeste, onde carregaria seu caminhão com peças para máquinas agrícolas. Ele, que antes estava acostumado a trabalhar até as 22 horas, havia acordado anteontem às 4 horas e passado o dia inteiro na transportadora, esperando autorização para recolher a carga. Saiu só às 23 horas, pois a coleta foi marcada para a 1 hora. “O tempo, das 21 às 5 horas, é pouco. Se você está no meio da rua, vai ter de parar ou entrar para a rodovia.“
Além da redução no tempo disponível para o trabalho, Pereira considera que a madrugada é mais perigosa para o serviço. “É perigoso ficar parado, esperando à noite. Carrego cargas de até R$ 800 mil e não tem escolta. Fico só eu e Deus e a mulher rezando em casa.“ Ele acredita também que a restrição aos caminhões não vai melhorar o trânsito de São Paulo. “Não adianta. Isso vai é dar desemprego.“
Na Rayton Industrial, empresa que trabalha com engrenagens, a rotina dos funcionários que trabalham na expedição, com os carregamentos das peças, também mudou. Antes, eles entravam no serviço às 14 e trabalhavam até as 22 horas. Agora, trabalham no horário da restrição: das 21 às 5 horas. “O horário mudou, mas a gente acostuma“, diz o conferente Edilson Santana.
Quem também não vê problema no novo horário é o motorista Sidney Vieira, de 41 anos. Ele estava acostumado a entregar verduras que traz de São Roque, no interior, em supermercados da cidade, entre 4 e 10 horas. Agora o trabalho é feito das 22 às 4 horas. “Para mim é melhor, pelo fato de o trânsito ser mais tranqüilo nesse horário. Antes eu levava uma hora e meia para chegar, agora faço o trajeto em 40 minutos. Perigo tem a qualquer hora do dia“, disse ele, que tinha entregas marcadas em supermercados no Jardim Paulista e na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.
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