STF avalia desde 2003 quebra do monopólio dos Correios
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18 de Julho de 2008 – 10h00 horas / Folha de S. Paulo
Enquanto a população enfrenta a greve dos Correios há semanas, o STF (Supremo Tribunal Federal) analisa, desde novembro de 2003, a quebra do monopólio da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) na entrega de correspondências.
A ação foi proposta pela Abraet (Associação Brasileira das Empresas de Distribuição) e, desde o início do processo, 5 dos 11 ministros do Supremo votaram a favor da manutenção do monopólio. Um dos ministros votou pela quebra parcial do monopólio (apenas para entregas comerciais), outro pela liberalização do mercado e faltam ainda o voto de quatro membros do tribunal. Não há data para a retomada do julgamento.
Os representantes das empresas privadas de entrega de cartas vêem o atual placar de votos com pessimismo. O diretor do Setcesp (Sindicato dos Transportadores de Cargas de São Paulo e Região), Antônio Juliani, comenta que, se ao fim do julgamento a exclusividade dos Correios nos serviços de postagem for mantida, vai haver retrocesso e desemprego. “O balanço de votos no STF é trágico e capaz de tornar o Brasil um parque jurássico em termos de logística“, reclama.
Informações setoriais da Abraet e do Setcesp indicam que o segmento privado de entrega de correspondências e encomendas reúne 15 mil empresas e 1,5 milhão de trabalhadores. Somente em São Paulo, 180 mil motoboys estão vinculados a esses negócios. “Se não fossem essas empresas, os efeitos da greve seriam bem piores“, avalia o secretário-geral da Abraet, Bruno de Souza. Em termos de prestação de serviço, enquanto os Correios faturam perto de R$ 9,7 bilhões (sendo cerca de 50% desse resultado proveniente da movimentação diária média de 30 milhões de correspondências), esse segmento movimenta 200 mil entregas por dias concentradas em talões e cartões, compras feitas pela internet e documentos movimentados por escritórios de advocacia, contabilidade e pequenas empresas.
A diretoria dos Correios não comenta o julgamento. Na defesa do monopólio, o argumento é o de que o país possui agências deficitárias mantidas por aquelas que são lucrativas e que esse tipo de prestação de serviço exige subsídio cruzado.
Greve
Trabalhadores dos Correios que mantêm a greve e a diretoria da empresa voltam a se reunir hoje no TST (Tribunal Superior do Trabalho) em uma nova tentativa de conciliação. O balanço da greve mostrou adesão de cerca de 27% dos 53 mil carteiros em 21 Estados e no Distrito Federal. Com a paralisação, o atraso na entrega de correspondências e encomendas já exige trabalho extra de dez dias.
Os Correios informaram que a entrega das correspondências atrasadas está sendo feita por ordem de postagem. No segmento das encomendas está sendo dada prioridade ao Sedex. Os serviços de Sedex 10 e Disque Coleta continuarão suspensos enquanto perdurar a greve dos funcionários.
Sem Correios, carga expressa dispara
DCI
A greve parcial dos funcionários dos Correios, que já dura mais de 17 dias, impulsiona o negócio de encomendas expressas, que em alguns casos, como o da DHL Express, viram os serviços mais que dobrar no período, enquanto em empresas como a Brasil Soluções Logísticas (BSL) e a JadLog constataram um incremento de até 80% na demanda. As especializadas em entregas por meio de motoboys, como a Boy Service e a Itaim Express, trabalham 30% a mais do que o normal, tendo de trabalhar com turnos extras e entregas aos fins-de-semana. Os executivos à frente destas corporações fazem coro ao confirmar que conseguirão reter parte dos clientes extras conquistados durante a paralisação que vem beneficiando seus negócios.
Parte de um mesmo grupo empresarial, tocado atualmente por seis sócios, a BSL, de entrega expressa, e a Boy Service viram sua atuação crescer em território nacional. “Tivemos um crescimento de 80% na BSL e 30% na Boy Service“, calculou Alexandre Barros, diretor do grupo.
A BSL, que trabalha com uma frota de 250 veículos tipo courier (utilitários), viu o incremento vir principalmente pelo comércio eletrônico (e-commerce), farmacêutico e promocional, dando vazão à entrada de novos clientes, como a Rede Onofre. Para se ter uma idéia, a empresa mantém hoje em seu portfólio redes como Polishop, Embratel, Maganize Luiza, Livraria Saraiva e Extra.com. O diretor da empresa também comemora o aumento de 30% nas entregas da Boy Service, que, como toda empresa de motofrete, atua principalmente com a entrega de documentos para instituições financeiras. Hoje, a Boy Service conta com 1,5 mil motos espalhadas pelas principais capitais do País, atendendo a mais de 20 mil clientes. Entre os planos do grupo está a abertura de 500 franquias até 2012.
“A greve aumentou nossas vendas e, se durar mais tempo, consolidará ainda mais o nosso negócio, sendo um motivo para a população entender que o monopólio postal prejudica a vida das pessoas. É um caso a se pensar“, analisou o executivo.
Mais que o dobro
Uma das gigantes mundiais do segmento, a DHL Express, que pertence ao Deutsche Post, o correio alemão, mais que dobrou suas operações no Brasil nesta quinzena. “Desde 1º de julho, início da greve, a DHL Express segue o movimento do mercado e registrou um aumento de 114% no envio de remessas em operações domésticas e internacionais“, respondeu a empresa, em comunicado, ao DCI. Mesmo com o aumento vertiginoso, a DHL garantiu que “está estruturada para suprir a demanda do cenário atual com soluções personalizadas“. A DHL Express cobre mais de 225 países e 120 mil destinos em todo o mundo e diz possuir uma das maiores coberturas do Brasil, atendendo a mais de 1.5 mil localidades.
Outra empresa que vem avançando no segmento de entregas expressas é a JadLog, que está, neste período, com uma quantia de entregas 70% maior do que nos dias normais. “Até agora, pulamos de 100 para 170 mil entregas no mês de julho“, contou Ronan Hudson, diretor da Jad.
Hudson disse que as vendas por Internet estão aquecendo o negócio, bem como as demandas de assistência técnica de eletroeletrônicos, e que por isso teve de contratar mão-de-obra extra, além de estender o horário dos funcionários.
Sobre os clientes, ele comemora a fidelização de boa parte deles. “Temos empresas que trabalham tanto com os Correios quanto com a Jad e que, neste período, trabalharam só conosco, ao passo que surgem clientes novos e se aceleram contratos em negociação. A cada greve, no mínimo 20% dessas empresas fica conosco permanentemente“, afirmou. Hoje, a JadLog opera com mais de 300 franquias em todo o Brasil.
Faturas
Mais uma empresa de motofrete que observa 30% de incremento nas remessas é a paulistana Itaim Express. “Percebemos um aumento na entrega de documentos, especialmente de boletos bancários, como faturas de cartões de crédito e de convênios, além de talões de cheques“, contou Fernando Aparecido de Souza, diretor da Itaim e membro do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo. A Itaim Express trabalha na capital paulista com 180 motoboys, atendendo a 500 clientes, entre eles a TAM Linhas Aéreas.

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